Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Meio boicote
>>Condenação unânime

Inimigo número 1

A absolvição de Renan Calheiros, em seu primeiro julgamentro no plenário do Senado, provocou um movimento que só pode ter um final: a cassação do mandato de Renan Calheiros.

Parlamentares de praticamente todos os partidos aparecem hoje nos jornais anunciando um movimento pela recuperação da ética no Congresso.

Ainda existem pelo menos três acusações contra ele.

O senador Romeu Tuma, citado pelo Estado de S.Paulo, disse que Renan foi colocado na forca e continua pendurado.

Dines:

– A discussão sobre a inocência de Renan Calheiros é despropositada e deletéria: ele foi absolvido somente num dos três processos abertos contra ele na Comissão de Ética do Senado. Há outros dois. Sem falar nas denúncias junto à Procuradoria Geral da República e o STF. Nas próximas batalhas Renan terá mais adversários por causa do black-out autoritário que isolou durante 24 horas o Senado da República do resto do país. O terrorismo imposto pela Mesa do Senado é inédito, até a ata da sessão foi proibida. Significa que a quarta-feira, 12 de Setembro, foi um dia que não existiu, nem na ditadura militar adotaram-se medidas tão arbitrárias. Ontem a reação da sociedade foi incrível, tantos foram os e-mails e telefonemas de cidadãos indignados que a direção do Senado foi obrigada a inventar uma pane nos dois sistemas para justificar o silêncio.  Foi uma reação espontânea que só tende a aumentar. Na tentativa de barrar a mídia, Renan e seus protetores agora terão que enfrentar o país inteiro.

Luciano:

Meio boicote

Ontem, parlamentares de pelo menos seis partidos anunciaram um boicote parcial e seletivo a projetos de interesse do governo no Senado.

Os jornais não explicam como será feita a seleção dos projetos a serem bloqueados e como se pretende organizar o bloco do boicote, mas a manifestação dos senadores que não se conformam com o resultado do julgamento de Renan preocupa o governo.

O senador José Sarney e sua filha Roseana, experientes bombeiros do Congresso, sugeriram a Renan que peça uma licença, ou que tire férias.

Segundo os jornais, Renan respondeu que só ele pode pacificar o Senado.

Uma frase sua, citada pelo Globo, dá uma medida da idéia de grandeza que ele faz de si mesmo.

Para ilustrar sua capacidade de resistência, Renan lembrou que a imprensa já o havia condenado antes do julgamento: ‘Foram sete capas de Veja, matérias no Jornal Nacional todos os dias, além das charges do Chico Caruso’, reclamou.

Renan Calheiros foi eleito presidente do Senado com 51 votos.

Agora, ele acha que a absolvição equivale a uma reeleição.

Ainda na forca

A melhor definição para a situação de Renan Calheiros foi dada pelo senador Romeu Tuma, citado pelo Estadão.

Lembrando que o presidente do Senado ainda tem contra si outros processos ainda mais graves, Tuma declarou: ‘Renan foi colocado na forca e não tiraram o banquinho. E continua pendurado’.

Condenação unânime

A cobertura do dia seguinte à absolvição torna os jornais de hoje muito semelhantes.

A leitura dos principais diários dá a impressão de que foram feitos pelo mesmo editor.

A linha das reportagens é pela condenação unânime de Renan Calheiros e dos senadores que evitaram sua cassação no primeiro julgamento.

Mas a Folha de S.Paulo insiste em buscar os senadores que mentiram ao declarar seus votos.

O jornal paulista havia feito uma enquete antes do julgamento, apostando que Renan seria condenado por 41 votos a 37.

Os editores esqueceram que o voto era secreto. Se os senadores não declararam seu voto no plenário, porque o fariam para a imprensa?

Na contagem de hoje da Folha, há pelo menos dez mentirosos entre os 81 senadores.

Vida de rei

Enquanto isso, em visita ao reino da Dinamarca, o presidente Lula passava ao largo da crise.

Teve seu dia de herói na sede do principal sindicato do país, e defendeu o respeito à decisão dos senadores.

Mas a Folha registrou uma declaração do presidente lembrando que o julgamento de Renan Calheiros ainda não acabou.

A preocupação maior do presidente Lula é com a possiblidade de uma paralisação nos trabalhos legislativos, no momento em que o governo tenta prorrogar a validade da CPMF até 2012.

Os perdedores

No tradicional quadro ‘quem ganha, quem perde’, que os jornais costumam publicar após eventos importantes na política, a Folha cita entre os perdedores os senadores do PSDB Tasso Jereissati, Arthur Virgílio e José Agripino, além da alagoana Heloísa Helena e do petista Aloizio Mercadante.

Mercadante passou o dia de ontem justificando sua abstenção, mas disse a todos os jornais que não fez campanha pela absolvição de Renan Calheiros e garantiu que o governo liberou a bancada do PT para votar conforme o juizo de cada um.

Nenhum jornal parece ter acreditado nele.

Luz no fim do túnel

Para aqueles que pensam que tudo é impunidade no Brasil, o Estadão traz uma reportagem revelando que o tesouro público de São Paulo pode ser ressarcido por atos de corrrupção.

Quinze anos depois de criada a Lei de Improbidade Administrativa, 25 processos chegam à fase de execução, na qual a única coisa a ser feita é pagar a conta.

Demorou, diz o Estadão, mas o Estado e a prefeitura de São Paulo vão receber de volta cerca de 132 milhões de reais desviados de seus cofres.

Estão entre os condenados o ex-governador Paulo Maluf, o ex-prefeito Celso Pitta, ex-secretários e presidentes de grandes empresas, como a Vega Sopave.

O longo caminho dos recursos judiciais chegou ao fim.

Todos eles terão bens penhorados.