Valorizar a diplomacia
A Petrobrás julgou que seu poder econômico na Bolívia a tornaria imune a forças políticas. Agora é manipulada sem qualquer hesitação sempre que o presidente Evo Morales quer recuperar popularidade e ganhar votações diretas e indiretas. Ao mostrar fraqueza, o governo brasileiro piorou a confusão. Mas o presidente Lula está certo ao fazer declarações moderadas e deixar espaço para a diplomacia. A mídia deve pensar duas vezes antes de jogar lenha na fogueira.
Lula e a liberdade de imprensa
Alberto Dines aponta incoerências nas declarações sobre liberdade de imprensa dadas ontem pelo presidente Lula.
Dines:
– O presidente Lula declarou ontem à noite ao Jornal da Band que sua eleição para a presidência da República só foi possível por conta da liberdade da imprensa. E reconheceu que a proposta de um Conselho Federal de Jornalismo não foi adiante porque o governo não a havia estudado suficientemente. O presidente está sendo contraditório: a liberdade de imprensa existe de facto desde o fim da ditadura em 1985 e de jure a partir da aprovação da nova Constituição, em 1988. Se em 2002 o presidente Lula foi eleito por conta da liberdade reinante, por que razão dois anos depois, em 2004, tentou controlar esta liberdade com a criação de uma entidade suspeitissima como o tal Conselho de Jornalismo? E se ontem o presidente constatou que a liberdade da imprensa é um fato irreversível, por que razão certos setores próximos, muito próximos do governo insistem num projeto de democratização da comunicação logo depois das eleições? Com essas coisas não se brinca.
Reeleição desequilibra
A reeleição sem desincompatibilização, herança de Fernando Henrique, desequilibra as campanhas. Como os meios audiovisuais são geralmente vigiados com rigor pela Justiça Eleitoral, que pune a chamada propaganda negativa dos adversários, fica para a mídia impressa a tarefa de denunciar a propaganda enganosa dos governos. Ela só atinge uma fração do eleitorado. O prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, argumenta que isso significa uma grande vantagem para quem tenta se reeleger. A campanha está tranqüila para a maioria dos candidatos à reeleição.
Maia propõe que ao rigor da Justiça Eleitoral corresponda a possibilidade de se retirar do ar a propaganda enganosa e que haja direito de resposta quando um candidato à reeleição diz que fez o que não fez. O prefeito, como era de se prever, dá exemplos do programa de Lula, mas eles podem ser encontrados em toda propaganda governamental. Cesar Maia propõe também que a Justiça Eleitoral tenha critérios mais flexíveis, ou que se acabe com a reeleição.
Só presidentes
Só no debate indireto entre o presidente Lula e o ex-presidente Fernando Henrique aparecem os grandes temas da crise política de 2005, especialmente a maneira como cada governo usou a máquina pública em benefício de interesses partidários. Há mesmo algo de errado com a reeleição sem desincompatibilização.
Ver TV
O ministro da Cultura, Gilberto Gil, anunciou ontem a realização de um fórum nacional para discutir o fortalecimento da TV pública, em evento promovido pela TV Cultura de São Paulo. O Ministério da Justiça mudou as regras relacionadas com a classificação indicativa por idade na televisão aberta, mas esses temas não são discutidos nas grandes redes. Televisão é o assunto do programa Ver TV, apresentado pelo professor de comunicação e jornalista Laurindo Lalo Leal Filho.
Laurindo:
– Sobre o Ver TV, que está no ar desde fevereiro deste ano, é uma tentativa pioneira de se discutir televisão na televisão. Exclusivamente televisão na televisão. Porque a televisão discute tudo. Bem ou mal, discute tudo. Menos ela mesma. Então, esta é uma possibilidade que nós estamos tendo de discutir criticamente a televisão no sentido de contribuir para a sua melhoria e para uma melhor relação com o telespectador.
Mauro:
– O programa Ver TV é uma produção conjunta da Radiobrás e da TV Câmara. Transmitido pela TV Câmara às quintas-feiras às 22h30 e reprisado aos domingos às 10h e às 18h30.
Crimes e crimes
Só o Globo noticia hoje uma importante operação da Polícia paulista na qual foram presos 25 suspeitos de participação nos ataques feitos em maio pelo PCC. Folha e Estadão estão ocupados demais com o caso do assassinato do coronel-deputado Ubiratan Guimarães.
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