Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Procuram-se boas perguntas
>>Jornal 24 horas


Procuram-se boas perguntas


Hoje os jornais acordaram para a existência da América do Sul, em especial da Bolívia. Todo dia pinga uma estatística sobre as desgraças que são a educação nacional e a insegurança pública. A crise de corrupção consumiu em 2005 energia, tempo e espaço na mídia que deixaram de ser dedicados ao exame de problemas gravíssimos da sociedade e da economia do país, desde a ameaça de racionamento de gás natural até a situação no campo, passando pelo déficit da Previdência, de que se ocupa hoje na Folha o deputado Delfim Netto.


Agora, além dos desdobramentos um tanto melancólicos da corrupção, entra em cena a campanha eleitoral. A mídia poderá contribuir para a discussão dos maiores problemas do país. Se souber quais são.


Indenizações


Noticia-se nesta quarta-feira, 26 de abril, que o ex-secretário da presidência da República Eduardo Jorge Caldas Pereira ganhou processo contra a revista Veja. Eduardo Jorge deixou o governo de Fernando Henrique sob acusações de envolvimento no desvio de verbas durante a construção do Fórum Trabalhista de São Paulo, do qual resultou a prisão do juiz Nicolau dos Santos Neto.


A Justiça concedeu indenização de 50 mil reais. A Veja vai recorrer.


Esse valor, que está dentro dos padrões costumeiros, revela por contraste a desmedida do pedido feito pelo advogado do caseiro Francenildo Costa. Da mesma maneira que a violação do sigilo bancário do caseiro desmascarou seus autores, esse tipo de ação na Justiça acende uma luz de alerta. Não, até prova em contrário, em relação ao testemunho de Francenildo, mas ao que se tem movimentado em torno dele.


Voto independente


Está coberto de razão o professor Fábio Wanderley Reis, em artigo na Folha de hoje no qual defende a independência dos parlamentares no exercício de seu mandato. Só faltou abordar o papel da imprensa como intermediária entre o cidadão e os governantes dos três poderes.



Jornal 24 horas


O editor do Observatório da Imprensa Online, Luiz Egypto, fala da experiência inédita do jornal gratuito 24 Horas, lançado na Espanha pelo El País.


Egypto:


– Acossado pelo desenvolvimento do jornalismo online, e sobretudo pelo sucesso dos jornais gratuitos, o diário espanhol El País, um dos mais importantes da Europa, decidiu reagir à concorrência de forma muito inovadora.


Neste ano, os três principais gratuitos espanhóis – Metro, 20 Minutos e Qué – já estão entre os dez periódicos mais lidos da Espanha. Para enfrentar o assédio, anteontem, segunda-feira (24/4), o El País lançou o 24 Horas – um gratuito que pode ser baixado da internet, em formato PDF, para ser impresso onde o leitor estiver. Com a vantagem de ter edições atualizadas a toda hora.


O diário digital é composto de informações da redação do El País e de agências noticiosas. Tem de oito a dezesseis páginas e pode ser personalizado em cinco versões. Os assinantes do jornal recebem seu exemplar sem publicidade; os demais leitores têm anúncios em todas as páginas do 24 Horas.


O jornal não morre. Viva o jornal.


Mídia ao estilo fascista


Quem chama a atenção é o jornalista Luiz Mário Gazzaneo, veterano conhecedor da política italiana. Em editorial publicado pelo jornal l´Unità, do antigo Partido Comunista Italiano, Furio Colombo descreve como a passagem de Silvio Berlusconi pelo poder foi especialmente calcada numa dominação fascistizante dos meios de comunicação.


Diz Colombo que o derrotado primeiro-ministro impôs à Itália o silenciamento de vozes e o banimento de figuras do rádio, da televisão, dos grandes jornais, a negação meticulosa de qualquer publicidade e a multiplicação de fontes de difamação contra seus adversários.


Isso representou, numa certa medida, isolar a Itália do mundo. A prova, segundo o jornalista, é que os senadores e deputados eleitos no exterior, onde as fontes de informação não dependem de Berlusconi, foram majoritariamente da oposição, diferentemente do que aconteceu dentro do país.


O reino dos estereótipos


A grande imprensa trabalha o tempo todo com estereótipos que mais ocultam do que revelam a verdadeira face dos atores sociais. Favelados, sem-terra, sem-teto e forças policiais que os combatem são mostrados de modo totalmente esquemático, impressionista. Nem é preciso dizer que os pobres, excluídos, marginalizados, são vistos pelas lentes da rejeição.


Cotas simplificadas


Um debate tão relevante quanto o do sistema de cotas para negros e pardos nas universidades foi substituído por imagens do radicalismo infantil de alguns movimentos. Na Folha de hoje, a foto do tumulto na Câmara dos Deputados domina a primeira página e a reportagem, no meio do terceiro caderno, não passa de 125 palavras. Séculos de conflitos encapsulados em simplificações primárias.


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