O Brasil que se vê
O presidente Lula diz que a mídia não mostra nada bonito no país. É de se perguntar o que o presidente anda lendo, ouvindo e vendo.
A mídia mostra muita coisa. A Rede Globo, mais importante meio de comunicação, às vezes até força a barra para mostrar um país melhor do que é na realidade.
Caso dos envelopes
Ao longo da semana, Estadão e Folha têm publicado reportagens sobre ligações entre a polícia paulista e criminosos. O foco foi a descoberta, em acidente com o carro de um advogado, de envelopes com supostas propinas que ele distribuiria em delegacias. O assunto ainda não recebeu o destaque que sua gravidade deveria impor.
Quem vaza
Alberto Dines diz que a imprensa não pode ser responsabilizada por vazamentos de informações de inquéritos policiais.
Dines:
– O Ministro Tarso Genro tentou ontem amenizar as críticas do presidente Lula aos vazamentos das gravações da Polícia Federal e garantiu que o governo não está estudando qualquer tipo de restrição ao trabalho da imprensa. Ainda bem. Mas no meio da explicação, o ministro da Justiça não resistiu e deixou escapar a seguinte advertência: “É preciso haver responsabilidade de quem veicula o material, a imprensa”. Mas na noite anterior, na edição do Observatório da Imprensa, o Secretário Nacional de Justiça, Antônio Carlos Biscaia, com a seriedade e o conhecimento que o caracterizam, colocou as coisas diferentemente: “Se alguma coisa deve ser coibida, é por parte das autoridades responsáveis pelo vazamento”. Trocando em miúdos: num vazamento de informações sigilosas o culpado é quem vaza e não quem veicula. O governo parece que não está interessado em repetir o confronto com a imprensa ocorrido em 2005 e 2006. Felizmente. Mas precisa assumir uma posição consensual, sem ambigüidades. A Polícia Federal deve ter razões técnicas para liberar informações oriundas dos grampos. Não é possível acreditar que estes vazamentos sejam ocasionados por “problemas internos da instituição” como declarou o presidente da República na sua última entrevista. Essa suspeita é ainda mais perigosa porque coloca parte da Polícia Federal e a imprensa como cúmplices de um novo complô.
Mau conselho
Ontem, durante debate no Conselho de Ética do Senado, a líder do PT, senadora Ideli Salvatti, sugeriu a criação de um Conselho de Ética e Decoro para jornalistas. Disse que se um parlamentar não está acima da lei, nenhum brasileiro pode estar.
A senadora incorre em duplo erro. Primeiro, jornalistas, como qualquer cidadão, podem ser punidos dentro da lei. Segundo, se Conselho de Ética resolvesse alguma coisa, os milagres pecuários do senador Renan Calheiros em Alagoas teriam merecido maior atenção do Conselho do Senado.
Rádio fora do ar
O jornalista Heródoto Barbeiro juntou em livro crônicas sobre situações curiosas vividas em redações.
Heródoto:
– O lançamento do livro é no dia 30 de junho, sábado, na Livraria Cultura da Avenida Paulista. Nesse lançamento, às 16 horas, ao invés de ser um lançamento convencional, nós vamos ter um coral das Universidade Federal de São Paulo, Unifesp, que vai apresentar um espetáculo chamado A Era do Rádio. Um espetáculo que esteve em cartaz durante algum tempo num teatro, aqui em São Paulo, e tem a ver com o título do livro, Fora do ar. São crônicas que eu escrevi para a revista Imprensa contando histórias e situações que eu vivi em redação. Alguns casos são mistura de ficção com realidade, os personagens são fictícios, mas eles contam um pouco, para o grande público, sobre coisas vividas numa redação. Por exemplo, uma escala de final de ano na redação. Aquela briga, porque todo mundo quer folgar no Ano Novo e trabalhar no Natal; produtor acha um homônimo, põe o homônimo no ar, você entrevista o homônimo achando que é o original e no meio da entrevista descobre que não é… Tem coisas engraçadas como essa. E tem também o caso de uma socialite que, devido a influências políticas, conseguiu também um programa e resolveu fazer o chamado “jornalismo realidade”. Impôs uma pauta e a pauta termina de uma maneira, assim… todas elas com humor.
PIB, conjuntura e longo prazo
A notícia do crescimento do PIB trimestral suscita manchetes algo dissonantes, de jornal para jornal. Ao lado do noticiário factual, existem felizmente análises esclarecedoras, como a que faz hoje Rolf Kuntz no Estadão. Kuntz mostra que o país está perdendo a oportunidade de fazer reformas mais sérias.