Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Imprensa e transparência
>>Por trás da cena

Fora de Caracas


O noticiário sobre a Venezuela socialista de Hugo Chávez é manchete nos três principais jornais paulistas. Mas nenhum deles tinha ontem em Caracas correspondente ou enviado especial.


Cartéis no Peru


A imprensa brasileira ignora o avanço dramático dos cartéis mexicanos de drogas no Peru.


Fernanda é cultura


Há um abismo entre a dignidade e a clareza da entrevista dada por Fernanda Montenegro ao Globo, no domingo, sobre as verbas para a Cultura e vários outros temas, e as queixas do PT por perder cargos no Ministério de Gilberto Gil.


Imprensa e transparência


Alberto Dines faz uma comparação entre imprensa e políticos.


Dines:


– Todos nós sabemos que a imprensa faz parte da sociedade, ela tem compromissos de vigilância específicos, mas a imprensa não é um corpo isolado, nem sua constituição diferencia-se das demais instituições e segmentos da comunidade. Apesar de constituída do mesmo tecido, nossa imprensa consegue destacar-se positivamente quando comparada, por exemplo, com a classe política. A imprensa também tem um “baixo clero” como na Câmara Federal, também tem uma “banda podre” como nas polícias e isso ficou muito claro no episódio do Dossiê Vedoin. Mas o que distingue a imprensa de outros setores de vanguarda da sociedade brasileira é que ela está comprometida com a transparência. Por vontade própria ou forçada, em grau maior ou menor, nossa imprensa aprendeu a submeter-se ao escrutínio da sociedade e isso começou muito antes dos blogs e da massificação da internet. Mas é preciso lembrar que estamos falando de jornalismo, de imprensa. Mídia, entretenimento e show-business são outro departamento. Mas porque razão não podemos obrigar as demais instituições e poderes públicos a adotar a mesma transparência à qual imprensa já se acostumou? Simplesmente porque a imprensa não é um poder político, não é do Estado, a imprensa não pode aumentar os seus privilégios, não pode impor coisa alguma. A imprensa, no máximo, tenta convencer. O Estado manda, o Estado decreta, o Estado determina. A imprensa não pode desobrigar-se do que disse ontem, o Estado pode dizer e desdizer-se. A imprensa depende diariamente do seu público, o Estado só presta contas nas eleições, de dois em dois anos. Os leitores da “Folha” reclamaram do seu ombudsman que o jornal suprimiu alguns cadernos no período natalino. Os leitores estavam certos. Mas a quem recorrer quando o governo deixa de cumprir com as suas obrigações e seus deveres?



Água fria


Certamente Daniela Cicarelli diria “falem mal, mas falem de mim”. Mas a discussão sobre a impossível proibição do vídeo da praia de Cádiz põe um pouco de água fria no entusiasmo pelo chamado jornalismo cidadão. No caso, não se trata de jornalismo, mas de pura malandragem, seja lá de quem for.


Escola e liberdade


O coordenador da ONG Comunicação e Cultura, do Ceará, sociólogo Daniel Raviolo, fala de uma idéia que, se for levada a muitas escolas, poderá não apenas ajudar a mudá-las, mas também a criar uma nova geração de leitores-cidadãos.


Raviolo:


– Nosso trabalho com jornalismo escolar tem uma idéia fundamental, que é fazer da liberdade de expressão o elemento de renovação da escola, apostando que a liberdade de expressão teria na mudança, no aggiornamento da escola, o mesmo papel que teve na sociedade, nessa transição que ela fez do absolutismo para a democracia. Então, essa é nossa aposta: liberdade de expressão e liberdade de imprensa, na sua forma específica.


Mauro:


– Os alunos fazem seus jornais como pequenos jornalistas de uma imprensa livre.


Raviolo:


– Os jornais do Clube do Jornal são jornais que circulam sem que a diretora [da escola] tenha direito a uma leitura prévia. Ela é um leitor a mais. Vai se inteirar do conteúdo na hora em que chega na sua mesa.


Por trás da cena


A mídia poderia fazer uma leitura crítica da eleição do presidente da Câmara. Hoje, no Painel da Folha, por exemplo, uma fonte não identificada diz que essa pauta ajuda o presidente Lula porque ofusca a inexistente reforma do ministério. E Janio de Freitas aponta o silêncio de parlamentares diante da falta de verbas federais para ajudar municípios do Nordeste gravemente afetados pela seca.


A interpretação mais lúcida da disputa está hoje num jornal de economia, o Valor, na coluna de Raymundo Costa. Diz que o presidente Lula não consegue conduzir politicamente o assunto e que está aberta uma brecha para uma candidatura severinesca.