O teste de Balbinotti
Será um fato notável, no mau sentido, que uma escolha ministerial tão bombardeada como a do deputado federal Odílio Balbinotti passe incólume pela multiplicação de acusações que lhe são feitas. Cada um dos grandes jornais tem hoje uma história diferente para contar, e nenhuma delas é edificante.
Competência é pecado
Na formação do ministério do segundo governo Lula, o caso mais representativo do que é o Brasil está descrito hoje no Globo: a bancada do PMDB no Congresso, diz o jornal, não apoiou a indicação do novo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, porque ele é considerado um técnico sério.
Nos ares
A talvez futura ministra do Turismo, Marta Suplicy, está diante de uma escolha complicada. O noticiário de política informa que ela quer a Infraero mas não vai levar. A colunista Mônica Bergamo diz na Folha de S. Paulo que se ela levar, poderá será pior, porque está para estourar um grande escândalo na empresa que administra os aeroportos. Mas quem disse que escândalo no Brasil é problema?
A novela da falsa tevê pública
Alberto Dines pede o fim da novela da TV pública que não é pública.
Dines:
– Prossegue a novela da TV Pública que não é pública. Ontem quem se insurgiu foi o Ministério da Cultura através do Secretário do Áudio-Visual, Orlando Senna. E disse o que dele se esperava: o projeto está errado a partir do nome e, muito mais grave do que isso, vai atrapalhar a política do Ministro Gilberto Gil de promover o fortalecimento da verdadeira rede pública de TV, aquela que vai oferecer à sociedade brasileira uma programação verdadeiramente alternativa. Está evidente que o anteprojeto do ministro Hélio Costa foi apresentado de forma prematura e irrealista para atender interesses menores. Além de confrontar o Ministério da Cultura que há tempos empenha-se em organizar a convivência entre as redes de TV culturais e educativas, o projeto de Hélio Costa ignorou completamente a existência da Radiobrás cujo presidente, Eugênio Bucci, só soube pelos jornais da existência do anteprojeto da tal Rede Pública que não é Pública. Esta novela começou muito mal, melhor será tirá-la do ar o mais cedo possível.
Propaganda e empreguismo
Informações publicadas hoje dão conta de que existe de fato uma operação de grandes proporções para a montagem de uma nova máquina de propaganda do governo federal. Na Folha, Nelson Motta diz que as tevês públicas são quase todas cabides de emprego, “com programação pífia e audiências que somadas não chegam a um ponto de share. Dividindo as despesas pelo número de beneficiários, deve ser um dos custos per capita mais altos do mundo”.
Educação é desafio para a imprensa
Os planos educacionais lançados ontem pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, com a bênção do presidente Lula, representam um desafio para o jornalismo brasileiro. Por sua ambição e abrangência, requerem uma cobertura informativa de boa qualidade, que ajude autoridades e opinião pública a acompanhar o que de fato acontece. O estado de São Paulo regrediu em matéria educacional ao longo de três governos do PSDB e só os especialistas ficaram sabendo disso.
Mantega, o mal-interpretado
O ministro Guido Mantega, movido por suas convicções e, quem sabe, por algum cálculo de política interna petista, sempre que pode manifesta seu antagonismo à política macroeconômica do governo, mirando o Banco Central. E sempre, ao recuar no dia seguinte, põe a culpa na imprensa.
Morales ataca jornal
O presidente da Bolívia, Evo Morales, ameaça estatizar o jornal La Razón. Diz que ele inventa notícias contra o seu governo e omite informações verdadeiras. Duas reportagens recentes provocaram a ira de Morales: uma dizia que caiu a arrecadação do governo. A outra informava que a Bolívia deixou de se qualificar para receber ajuda de uma organização americana. Ou seja, em ambas o governo aparece como incompetente. o Brasil também houve estatização de empresas jornalísticas. Foi durante a ditadura de Getúlio Vargas, o Estado Novo, entre 1937 e 1945.
Baudrillard para ingleses
Se alguém quiser eleger um enésimo critério que mostre a diferença entre a cultura brasileira e o universo mental anglo-saxão, deve ler o obituário de Jean Baudrillard na revista inglesa The Economist. No Brasil, Baudrillard é levado a sério. Lá, na galhofa. Mas provavelmente os intelectuais brasileiros têm mais competência para analisar a obra de Baudrillard. Uma explicação reconfortante seria que os ingleses, como se sabe, têm uma rivalidade quase patológica com os franceses. E que a The Economist é conservadora.