Unidos no escândalo
‘Mensalão tucano de Minas derruba ministro de Lula’.
A manchete de o Globo diz muito sobre as práticas eleitorais no Brasil.
Os outros jornais também juntam governo e oposição no escândalo, mas a manchete do Globo é emblemática.
Os dois partidos que representam a modernização institucional do País, sucessores diretos do núcleo oposicionista que derrubou a ditadura, se reencontram agora, solidários no banco dos réus.
O Globo foi o primeiro jornal a vincular o PSDB ao esquema que é chamado de ‘mensalão’, já em julho de 2005, mas naquela ocasião a imprensa preferiu ignorar o envolvimento dos tucanos e concentrar as acusações nos partidos da base aliada do governo.
A denúncia do procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, coloca todos no mesmo saco.
As mesmas agências de publicidade, os mesmos bancos, o mesmo sistema de arrecadação, o mesmo ‘valerioduto’ são agora apontados como a base financeira da campanha usada pelo hoje senador Eduardo Azeredo para tentar se reeleger no governo de Minas em 1998.
Até a justificativa de Azeredo foi igual à do presidente Lula em 2005: ‘Eu não sabia de nada’.
Também incluído na peça de acusação que foi encaminhada ao Supremo Tribunal Federal, o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, entregou o cargo imediatamente após ser informado da denúncia.
Ele era o vice de Eduardo Azeredo e foi coordenador da campanha de 1998.
No lado tucano, o constrangimento também foi grande, porque o partido realizava em Brasília seu 3o. Congresso e sua 9a. Convenção Nacional.
Azeredo foi gentilmente convidado a se ausentar, para evitar contaminar o evento.
A denúncia, que poderá ser analisada pelo Supremo Tribunal Federal ainda neste ano, tira do tabuleiro político duas peças consideradas essenciais nos planos do governador de Minas, Aécio Neves, de disputar a sucessão do presidente Lula em 2010.
E além de perder Azeredo e Mares Guia, com quem esperava compor uma base mineira unida para sua candidatura, Aécio tem no governo a companhia agora indesejável do ex-deputado Danilo de Castro, que é seu secretário de governo e está na lista de suspeitos.
O governador de São Paulo, José Serra, que concorre com Aécio Neves pela indicação à candidatura, evitou comentar a apresentação da denúncia.
Deu uma de mineiro.
Mas não pode evitar a constatação de que o escândalo tem grandes possilidades de tirar seu concorrente do páreo.
Laranjada geral
Está na edição de hoje do Estado de S.Paulo: dos 81 senadores da República, nada menos do que 23, mais de um quarto deles, são donos de emissoras de rádio e ou de televisão.
Como se sabe, parlamentares são proibidos de manter concessões de serviços de radiodifusão, mas a prática é generalizada.
O levantamento feito pelo Estadão no Ministério das Comunicações revela que pelo menos 17 desses senadores colocaram parentes na sociedade das empresas e na direção do negócio. Filhos, irmãos, mulheres ou ex-mulheres aparecem como os reais proprietários.
Vamos ler a lista?
Mão Santa, Edison Lobão, José Sarney, Roseana Sarney, Romero Jucá, José Maranhão, Gilvam Borges, Garibaldi Alves Filho, Neuto do Couto, Wellington Salgado e Renan Calheiros, todos do PMDB.
João Vicente Claudino, Mozarildo Cavalcanti e Fernando Collor de Mello, do PTB.
Maria do Carmo Alves, Antônio Carlos Magalhães Júnior, João Raimundo Colombo, Jose Agripino Maia, Efraim Morais e Jayme Campos, do Partido Democratas.
César Borges, do PR.
João Tenório e Tasso Jereissati, do PSDB.
O artigo 54 da Constituição e o artigo 4o do Código de Ética do Senado proibem explicitamente a parlamentares a propriedade de concessões de serviços de radiodifusão.
Colocar as empresas em nome de parentes ou ‘laranjas’ é a maneira que muitos deles encontram para burlar a lei.
A propósito: os senadores listados vão julgar o presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros, por atentado ao decoro parlamentar.
Renan é acusado de haver comprado duas emissoras de rádio em nome de laranjas.