O estranho poder de Sarney
O presidente do Senado Federal, José Sarney, finalmente reagiu às pressões para moralizar a administração do Parlamento e demitiu o diretor geral e o diretor de Recursos Humanos.
Tudo regularizado?
Não.
Os dois substitutos indicados pertencem ao mesmo esquema de poder instalado no Congresso pelo veterano senador há cerca de quinze anos.
Uma dessas personagens, a futura diretora de Recursos Humanos, era até abril passado chefe de gabinete da senadora Roseana Sarney, antes de a filha de Sarney deixar Brasília para assumir o governo do Maranhão.
O noticiário dá a impressão de que José Sarney ainda não entendeu a situação: ele é apontado como o principal responsável pelo mais grave escândalo que já atingiu o Senado Federal em toda sua história.
Segundo o Globo, alguns senadores já começam a pedir publicamente seu afastamento da presidência da Casa.
E Sarney continua reagindo como se se tratasse da sua casa, e não da principal casa legislativa do País.
Age como se tivesse a absoluta convicção de que é inimputável.
A estratégia do grupo de Sarney, de empurrar a versão de que os atos administrativos secretos decorreram de erros operacionais ou simples falhas de servidores, durou pouco: segundo os jornais desta quarta-feira, a comissão de sindicância criada para analisar as irregularidades encontrou indícios de que houve intenção deliberada de esconder mais de 660 decisões, entre as quais a anulação da demissão de um secretário parlamentar denunciado à Justiça por fraude na Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia.
A coluna “Panorama Político”, do Globo, informa que a Consultoria de Orçamento do Senado encontrou o registro de mais de R$ 3 milhões e 700 mil depositados em duas contas secretas na Caixa Econômica Federal, fora da cota única do Tesouro.
Agora os investigadores tentam descobrir quem movimentava essas contas e quanto dinheiro passou por ali nos últimos anos.
O noticiário é mais do que suficiente para induzir o Senado Federal a iniciar um processo para a cassação de José Sarney.
Mas, estranhamente, a imprensa, em peso, resiste a comentar essa possibilidade.
Estranho, muito estranho.
Notícias da gripe
A imprensa informa, com destaque, que o Ministério da Saúde está recomendando aos brasileiros que adiem viagens programadas para a Argentina e o Chile, países onde existe maior risco de contaminação pelo vírus H1N1, que causa a gripe A, conhecida como gripe suína.
Segundo o Estado de S.Paulo, a medida contraria orientação da Organização Mundial da Saúde e foi tomada preventivamente, por causa do grande número de brasileiros que contraíram o vírus na Argentina.
O governo brasileiro teme que, com a proximidade das férias e o inverno, a situação possa se agravar.
Embora não tenha ocorrido nenhuma morte no Brasil, os números mais recentes divulgados pela imprensa justificam a recomendação das autoridades sanitárias: o Ministério da Saúde divulgou nesta terça-feira 94 novos casos, 50 deles em São Paulo, o que representa um aumento de 40% nas notificações num único dia.
Agora já são 334 os registros de brasileiros que foram contaminados, o que coloca o Brasil em 13º lugar entre os países com maior incidência da gripe.
Em termos comparativos, convém observar que a Argentina tem 1.294 contaminados, com 17 mortes, enquanto o Chile confirmou sete óbitos em 5.186 casos.
Os jornais desta quarta-feira repetem o tom cauteloso das autoridades sanitárias.
Convém lembrar, porém, como parte da imprensa recebeu as primeiras notícias do surgimento da gripe suína, ocorrido no México.
Na ocasião, 28 de abril, a manchete do Globo era: “Gripe se alastra no mundo e Brasil mostra despreparo”.
Depois disso, em maio, enquete realizada pelo Globo entre o leitores de seu portal indicou que 76% dos participantes achavam que o Brasil não estava preparado para enfrentar o perigo.
No dia 1o. de junho, uma pesquisa mais ampla, realizada pelo CNT/Sensus, revelou o contrário: a maioria, 61% dos brasileiros, achava que o Brasil estava tratando adequadamente do problema.
Ou seja, os leitores do Globo estavam mais alarmados e propensos a tomar medidas equivocadas do que a população como um todo.