Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Mídia aceita consagração do “off”
>>Os mensageiros

Renan, Zuleido, Valério
 
A Veja correu para circular hoje com reportagem em que denuncia ligação do presidente do Senado, Renan Calheiros, com a construtora Mendes Júnior. E a Folha faz um paralelo pertinente entre Zuleido Soares Veras e Marcos Valério Fernandes de Souza. Zuleido fez negócios com uma prefeitura petista de Mauá, Grande São Paulo, baseado em receitas futuras de empresas públicas.


Mídia aceita consagração do “off”
 
Alberto Dines faz um balanço preliminar da cobertura da Operação Navalha.
 
Dines:
 
– Ontem completou-se a primeira semana da Operação Navalha. As primeiras informações pela internet aconteceram na quinta passada, os jornais impressos entraram no dia seguinte. Já há material, portanto, para um balanço preliminar da cobertura. Primeira constatação: os telejornais não dão conta da massa de novas informações, nem conseguem costurar as referências antigas. Segunda constatação: os jornais não conseguem desvencilhar-se das rotinas e formatos habituais, destacam os fatos novos, é verdade, mas estão engessados, incapazes de sacudir os leitores com soluções impactantes. Terceira constatação, essa mais grave.  Uma operação policial desta envergadura com desdobramentos políticos imprevisíveis exige total visibilidade da fonte das informações. A mídia está aceitando a consagração do vício do off, a notícia transpirada, sem fonte assumida. Errado. A Polícia Federal precisa habituar-se aos briefings diários, a transparência é fundamental. Compreende-se que o Diretor da PF, Paulo Lacerda, não queira aparecer. Mas será que a mais importante e mais poderosa instituição policial do país não consegue contratar um policial categorizado para funcionar como comunicador formal? Foi justamente esta “informalidade” no caso do Dossiê Vedoin a responsável pela crise que abalou as relações do governo com a mídia. Jornais e jornalistas deveriam ser os primeiros a recusar este tipo de relação e a Polícia Federal só poderia agradecer.
 
Os mensageiros
 
Está profundamente entranhado na cultura brasileira o método de usar o ataque como defesa. Apontar podres alheios sem reconhecer as próprias falhas, ou até para encobri-las. A mídia é cúmplice das autoridades em todo e qualquer vazamento de informação sigilosa. Mas faz de conta que não é com ela. E ainda enche a boca para falar em Estado policial. Estado policial não tem liberdade de imprensa. Só liberdade para manipulação da imprensa pelos que estão no poder. Não é essa a situação do país hoje.
 
A imprensa divulga informações sob sigilo de Justiça, numa corrida meio alucinada pela exclusividade que dura quinze minutos, e depois publica queixas dos atingidos e desmentidos dos supostos vazadores. Não quer ou não consegue avaliar o possível conteúdo de calúnia contido nas informações vazadas.
 
Formalizar a queixa
 
Ontem, a Polícia Federal, em nota não assinada, sugeriu que o ministro do Supremo Gilmar Mendes peça formalmente uma investigação a respeito do que Mendes designou como “canalhice” e uso de métodos fascistas. Nem uma palavra sobre a possibilidade de ter cometido irregularidades com material sigiloso. A PF se escuda em autorizações dadas pelo Judiciário. Mas hoje no Globo Merval Pereira menciona um “sem-fim de gravações, muitas vezes feitas com autorização judicial a posteriori”.
 
Isso dito, a PF está certa ao sugerir que o ministro do STF peça uma investigação. É o que ele deveria ter feito, sem prejuízo das declarações à imprensa que tenha considerado necessário fazer.


Polícia sem questionamento
 
O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, defende hoje em artigo no Globo a política adotada sob seu comando na Vila Cruzeiro, onde já morreram 16 pessoas e 53 ficaram feridas. Nem uma palavra sobre falhas e desvios da polícia. A melhor defesa é o ataque. No Brasil, a polícia é sócia do crime há décadas. Beltrame orgulha-se de uma operação que desbaratou ontem um bando envolvido em negócios de carros roubados. Só se esqueceu de mencionar que o chefe do bando, segundo os autores da investigação, é um policial civil.
 
Beltrame também não diz uma palavra sobre a famosa Força Nacional de Segurança.
 
Zumbi Somos Nós
 
Estréia às onze da noite de domingo na TV Cultura o documentário Zumbi Somos Nós, definido como manifesto poético contra o racismo. A autoria é da Frente 3 de Fevereiro, que conseguiu promover durante a Copa do Mundo da Alemanha, no ano passado, uma inteligente manifestação.