A CPMF no limite
O governo adiou outra vez a votação da prorrogação da CPMF no Senado.
Não havia garantias de reunir 49 votos, o número mínimo para aprovação, e o Executivo resolveu não correr o risco de perder.
Quinta-feira é considerada a data-limite para a prorrogação ainda neste ano.
Se a votação ficar para janeiro, o governo perde receita durante todo o primeiro trimestre do ano que vem.
O noticiário dos jornais dá conta também de que o governador José Serra entrou na luta para convencer senadores do PSDB a aprovar a prorrogação.
Segundo o Estado de S.Paulo, o governo de São Paulo teria 16 bilhões de reais a receber para a área da saúde nos próximos quatro anos e essa verba está condicionada à continuidade do tributo.
No jogo de declarações reproduzidas pela imprensa, fica claro que o governo federal não pretende se empenhar por fontes alternativas de recursos se a CPMF for extinta.
A disputa no Senado é quase voto a voto, e os jornais tendem a reproduzir os avanços e recuos do governo, mas não oferecem ao leitor um retrato amplo dos acontecimentos.
Vista das páginas dos diários, a disputa entre governo e oposição parece uma coleção de frases desconexas.
Preocupados em reproduzir as declarações mais sonoras, os jornais vão deixando o leitor sem condições de entender o proque de tanta celeuma.
Por trás do tributo está o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, o Pronasci, considerado a jóia da coroa das políticas sociais do governo petista.
Os recursos da CPMF devem compor uma parcela significativa dos 6 bilhões e setecenos milhões de reais que o governo federal pretende aplicar diretamente ou através dos Estados e municípios nos próximos anos.
Boa parte dessa receita entraria nos cofres dos prefeitos e governadores no ano que vem, que, como se sabe, é ano de eleições municipais.
Para que o leitor possa entender do que se trata, os jornais precisariam destrinchar os investimentos previstos e comparar seus benefícios potenciais com o custo da CPMF para a sociedade.
O resto é aquele velho jogo da política.
A fome do bispo
A greve de fome do bispo dom Luis Cappio, que protesta contra o projeto de transposição do rio São Francisco, é notícia apenas na Folha de S.Paulo.
Os outros jornais ignoram solenemente a crise, que conseguiu colocar no mesmo lado o conservador partido Democratas e o Movimento dos Sem-Terra.
O projeto do São Francisco é tão antigo quanto a seca do Nordeste.
Também são muito antigas as divergências sobre como resolver o problema de uma vez.
Os jornais ignoram a fome do bispo e deixam o leitor sem entender a polémica sobre a transposição das águas do rio para as terras secas.
Um pouco de História
A imprensa se prepara para comemorar a fundação do Estado brasileiro, marcada com a chegada ao Rio da corte portuguesa de D.João, duzentos anos atrás.
Também serão lembrados no ano que vem os duzendos anos da imprensa no Brasil.
Esse é o tema do comentário de Alberto Dines:
– O bicentenário da chegada da corte portuguesa vai transformar-se nos próximos meses no bicentenário da imprensa brasileira. Parabéns. Mas por que razão o Brasil entrou tão tarde na Era Gutenberg? O México teve tipografias quase trezentos anos antes do Brasil, o Peru antecipou-se ao Brasil em mais de duzentos anos. Nosso primeiro jornal foi impresso no exílio em Londres e o primeiro impresso aqui foi um diário oficial. Estas coisas não acontecem por acaso. O Observatório da Imprensa vai explicar por quê. Hoje, às 22:40, ao vivo, em rede nacional, pela TV-Cultura e TV-Brasil.