Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>O caminho do dinheiro
>>Magreza e vendas

O caminho do dinheiro


Estudar a articulação entre empresas públicas e empreiteiras prestadoras de serviços é um dos caminhos mais fecundos para se entender como funciona o financiamento da política no Brasil. É o filão explorado hoje na Folha de S. Paulo. Em foco, a maior das empresas, a Petrobrás.



Magreza e vendas


Editora de moda do Jornal do Brasil há muitos anos, Iesa Rodrigues explica que os estilistas encomendam às agências modelos magérrimas porque querem que as roupas pareçam folgadas.


Iesa:


– Primeiro, a moda vem vindo de um ciclo de roupa justa, uma roupa que estreita. Faz parte do ciclo normal da moda ir justamente para o lado oposto. Quando todo mundo está usando a roupa justa, coladinha, isso já chegou à rua, aí a moda que lança as novas idéias começa a partir para o lado oposto. Provavelmente, isso vai levar uns três anos para “pegar”. A moda vive disso, de sugerir coisas opostas. E outra coisa é o seguinte: imagina quão mais cara pode ser uma roupa que tem muito mais tecido.


E eles pegam aquele padrão das meninas do Leste Europeu, belgas, como base. E aí eles querem que todo o elenco tenha aquela mesma medida. Uma medida padrão, que nos anos 80 era um padrão 90 [centímetros de quadris], eu acho que já está em 86, 85. Para uma menina de um 1 metro e 80, é muito pouco.


Mauro:


– Imagem está relacionada com vendas, segundo a editora de Moda do JB.


Iesa:


– A finalidade disso é mostrar a roupa bem na passarela e nas fotos. Porque se a roupa já é larga e ela for vestida numa pessoa de tamanho 42, 40, não vai convencer ninguém de que aquilo é bonito. Existe essa visão. Existe essa visão. Para você convencer alguém de que aquilo é bonito, a coisa não pode parecer engordativa, nem envelhecedora, nem nada. Então, você tem que ter um corpo certo para aquele tipo de roupa. Por exemplo, quem faz moda praia não pode usar esse tipo de menina muito magra, porque não valoriza. Um biquíni numa menina superfininha não valoriza. Precisa ter um outro tipo de modelo.


Mauro:


– A magreza exagerada também é filha de circunstâncias técnicas relacionadas à imagem, diz Iesa.


Iesa:


– Na passarela ela parece uma menininha, assim, adolescente. Quando ela sai da passarela, você vai para o camarim, ela tem 1 metro e 80, ela é enorme, e é muito mais magra do que parece. Porque a passarela, visualmente, ela engorda a pessoa. Eu acho que são quatro quilos na foto, não sei, cinco quilos na passarela, sete quilos na TV. Visualmente, engorda a imagem da pessoa.


Mauro:


– A jornalista reconhece que a imprensa, a despeito das limitações que encontra, não é obrigada a se deixar arrastar por uma estética mórbida.


Iesa:


– A gente pode falar nisso: “Olhem para suas filhas, olhem, literalmente”. Eu não vou te dizer que eu vou botar meninas gordinhas nas minhas fotos, porque eu não vou ter roupa. O estilista, quando ele empresta as roupas, já empresta naquele tamanhinho. Eu não acho bonito. Normalmente, a gente evitar usar essas assim, bem… Biafra, mesmo. Porque não fica bonito na foto. Na passarela fica porque elas estão até em movimento. Mas a foto cristaliza aquela coisa estranha que é um esqueletinho.


Mauro:


– Iesa Rodrigues admite que a mídia tem, fora das páginas de opinião, caminhos pragmáticos para se contrapor à ditadura da moda.


Iesa:


– Nada supera a imagem. Se você começar a botar mulheres maravilhosas que não são esse padrão 00, as pessoas se convencem mais.


Por trás das nuvens


A morte de uma modelo anoréxica questiona, não se sabe por quanto tempo, a submissão da mídia a interesses comerciais. A morte de 154 pessoas do avião da Gol só muito lentamente, e com atraso constrangedor, levantou o véu que encobria o estado dos serviços de controle do tráfego aéreo no Brasil. O movimento dos controladores mostra duas fragilidades: a da aviação civil e a da cobertura jornalística.


Assassinatos e envenenamentos


A velha Rússia não abandona os métodos da polícia tzarista. Alexander Litvinenko, que segundo o jornal The Guardian investigava na Inglaterra o assassinato da jornalista Anna Politkovskaya, crítica do governo, tem 50% de chances de sobreviver a um envenenamento.


Manobras de fronteira


O Jornal da Band noticiou ontem a transferência de manobras militares brasileiras da fronteira com a Bolívia para a fronteira com o Paraguai. É como dizer: é no Paraguai, mas seria na Bolívia. Em face do caldeirão boliviano, cuja temperatura não pára de subir, o recado é sutil, mas indisfarçável. Talvez seja mesmo melhor, nesse caso, prevenir do que remediar.