A imprensa e a sustentabilidade
Hoje seguimos conversando com o professor Vinicius Romanini, da Escola de Comunicações e Artes da USP.
Luciano Martins – Professor, como o senhor vê a cobertura da imprensa sobre o tema da sustentabilidade e principalmente a questão ambiental?
Vinicius Romanini – Eu acho que a qualidade da cobertura vem crescendo bastante. Eu tenho acompanhado a maneira como os jornalistas lidam com os conceitos, que não são conceitos simples, são bastante complexos, envolvem interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, que, normalmente, não são as formas como os jornalistas costumam tratar os assuntos. Você conectar conceitos vindos de várias áreas. Mas eu percebo um esforço muito grande da imprensa brasileira em alcançar uma cobertura que seja à altura das necessidades de um Brasil que está ganhando participação cada vez maior, não só nessa questão, mas talvez no mundo, na parte econômica, desenvolvimento da América Latina. Nesse aspecto, a imprensa vai bem. O que eu acho que vai mal é a maneira como nós, e aí não é mais a questão dos jornalistas, ainda entendemos o conceito de sustentabilidade, a palavra sustentabilidade. É uma palavra que vem se desgastando. Ela virou uma moeda fácil, todo mundo se diz sustentável. As empresas sequestraram esse termo e hoje ele frequenta as latinhas de refrigerante, os pacotes de farinha. E eu acho que aí, sim, reside um perigo: a sociedade está absorvendo o conceito de deixando de entendê-lo mais profundamente. Nisso eu acho que há um risco.
LM – Falávamos de sustentabilidade. O tema ainda não atravessa transversalmente as edições? Muitas vezes ele está em um caderno especial ou na editoria de Ciência. Não existe essa mesma abordagem, por exemplo, na área de Economia e Negócios.
VR – Na área de Economia e Negócios, a sustentabilidade é uma das que mais aparece, viu. Porque o conceito de sustentabilidade financeira, hoje, não é mais aquela coisa de fluxo de caixa, de entradas e saídas, de você fechar no azul no final do mês. Hoje sabe-se que é fundamental para uma empresa, para o futuro dela, que tenha a sustentabilidade no seu DNA, na sua maneira de produção. O seu modelo de negócio tem que ser sustentável, para que ela possa, no futuro, receber financiamentos, investimentos, para que ela não acumule passivos ambientais que possam, depois, onerar acionistas e tudo mais. Eu acho que as empresas estão muito atentas à sustentabilidade, o problema desse termo é que, como você bem disse, ele é transversal. E a transversalidade é uma coisa difícil de ser compreendida. Por que? Porque você tem que pensar na sustentabilidade como uma grande cadeia. Uma empresa não é sustentável sozinha; ela só é sustentável se os seus fornecedores também forem, e os fornecedores dos fornecedores, e assim sucessivamente. A coisa rebate. E ela também deve pensar na sustentabilidade dos consumidores. Ela não pode entregar o produto na gôndola do supermercado e achar que o que o consumidor vai fazer com aquele produto é um problema dele, do governo, das ONGs, do Ministério Público. Ela faz parte da cadeia e ela tem que ter a responsabilidade de ensinar a seus consumidores como consumir de uma maneira sustentável aquilo que ela está oferecendo.
LM – A imprensa consegue chegar a esse sistema complexo?
VR – Não. Pelo contrário. Embora a imprensa tenha um esforço muito grande em se aproximar das questões climáticas, ambientais, de sustentabilidade, ela não consegue porque a própria Ciência, nossa própria concepção de realidade é muito fragmentada. Você pega a USP. A USP é toda departamentalizada. A Biologia não conversa com a Química, que não conversa com a Economia, que não conversa com a Comunicação, que não conversa com a Arquitetura, que não conversa com a Psicologia. Cada um está na sua trincheira. Mas quando a gente pensa sustentabilidade, o mundo é um só, o mundo não está dividido em camadas. O homem dividiu as camadas, especializou conhecimento nesses layers, nessas camadas, e agora ele está tendo que enfrentar uma realidade complexa, em que as redes estão todas ali, conectadas. Só que ele não produziu uma Ciência, um conhecimento, que dê conta das relações, porque ele fez a opção pela fragmentação.
LM – Muito obrigado, professor.
Hoje nós conversamos com o professor Vinicius Romanini, da Escola de Comunicações e Artes da USP.