O cliente é suspeito
O Estado de S.Paulo, com uma reportagem mais completa, e a Folha de S.Paulo, com uma nota minúscula, relatam o incidente ocorrido numa agência do Bradesco no Bairro de São Miguel Paulista, zona Leste de São Paulo.
Um segurança, dentro da agência, assustou-se com a atitude de um cliente que tentava passar pela porta giratória e sacou a arma.
Seus tiros atingiram duas pessoas, e uma delas se encontra em estado grave.
A porta giratória havia travado porque um dos clientes, com deficiência cardíaca, usava marcapasso.
Aquilo que os jornais tratam como um episódio de menor importância é parte de uma pauta que espera há anos por mais atenção da imprensa.
As portas giratórias à entrada das agências bancárias e a presença de guardas armados perto dos clientes são um resquício de estratégias equivocadas usadas na década de 1980 para combater um surto de assaltos a bancos.
Em vez de proteger os clientes, as instituições financeiras tratam de resguardar seu próprio patrimônio, mantendo os cidadãos sob o risco de incidentes como o que ocorreu nesta quinta-feira em São Paulo.
Conforme lembra o Estadão, já houve algumas tentativas de autoridades municipais de proibir a instalação das portas giratórias, que tanto constrangimento provocam para a maioria das pessoas que se dirigem às agências, mas há uma lei federal, de 1983, que obriga os bancos a manterem sistemas de segurança.
No recente processo de aquisição do Unibanco pelo Itaú, um dos problemas a serem resolvidos é o desconforto dos clientes do Unibanco, que estavam habituados a um tratamento mais pessoal e agora são obrigados a conviver com guardas armados cuja qualificação ou equilíbrio psicológico é mera suposição.
Ou, para ser mais exato, os guardas são certamente qualificados para atirar com precisão, a julgar pelos ferimentos mortais provocados nos dois clientes do Bradesco.
Sabe-se que os bancos são anunciantes poderosos e importantes fontes de socorro para as empresas de comunicação, muitas das quais andaram recentemente dependentes de empréstimos.
Mas o interesse da sociedade merece mais do que uma reportagem incidental e uma nota curta para tratar de um episódio que reflete o desrespeito com que os cidadãos são recebidos nas agências bancárias.
O cidadão é tratado como suspeito, e, se fizer um movimento brusco, além de ser alvejado pelos juros escorchantes, pode levar tiro de verdade.
Os candidatos ao vivo
Alberto Dines:
– As pesquisas de boca-de-urna na Inglaterra aparentemente não confirmaram os prognósticos sobre um grande salto dos liberais-democratas nas eleições de ontem. Mas é visível um crescimento do “partido do meio” ou “terceira via” e o que é mais importante: este crescimento deveu-se em grande parte à entrada em cena da velha TV aberta com debates entre candidatos no estilo americano.
Tudo indica que apesar da vitória conservadora o entranhado bi-partidarismo britânico vai ser atenuado por uma triangulação que favorece coalizões, portanto mais dinâmica e muito mais democrática.
O que importa a este Observatório da Imprensa não é a vitória desta ou daquela facção política mas a derrota dos apocalípticos que prevêem a inexorável hegemonia das novas mídias sobre as mídias tradicionais. É certo que para o triunfo de Obama muito contribuíram as redes sociais da Internet.
Dois anos depois, imaginava-se que o fortalecimento das mídias digitais seria ainda maior na Inglaterra. Não foi o que aconteceu. É evidente que a internet esquentou a campanha e ajudou a valorizar a tremenda gafe cometida pelo trabalhista Gordon Brown ao esquecer que estava com o microfone de lapela ainda ativado quando comentou com um assessor a impertinência de uma eleitora com a qual acabara de conversar na rua.
Mas a TV teve o mérito de trazer os candidatos em carne e osso para o living das casas inglesas comparando-os implacavelmente. A TV deu a volta por cima na velha Albion, assim como os jornais em todo o mundo continuam imbatíveis na tarefa de contextualizar o noticiário. A crença de que tudo vai mudar rapidamente não se confirmou. A humanidade é cautelosa: não gosta de trocar o certo pelo incerto.