Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Milionários da política
>>Sem medo de emocionar

Milionários da política


A revista Época e os jornais do fim de semana fazem uma radiografia do poder político no Brasil, concentrando-se na formação de fortunas com cargos públicos.


Circulam na passarela dos milionários do voto governadores, deputados e senadores, suplentes e vice-governadores.


Por absoluta impossibilidade, o levantamento deixa de lado prefeitos e vereadores, que, aos milhares, também devem estar contribuindo para inflar as estatísticas das fortunas compostas com dinheiro público.


Segundo Época, a figura pública mais bem sucedida em termos financeiros é a governadora de Santa Catarina, Ângela Amin, cujo patrimônio cresceu nada menos do que 750% de 2006 a 2010.


O Estado de S.Paulo contribui para pintar o retrato da política nacional com uma reportagem sobre o nepotismo na composição de chapas, revelando como os mandatos de senador e deputado vão passando de mão em mão dentro das mesmas famílias, como se o cargo eletivo fosse um negócio.


A Folha de S.Paulo reproduz investigação da Polícia Federal mostrando o Rio de Janeiro como o Estado campeão de crimes eleitorais como a compra de votos e caixa 2.


Além disso, também faz seu levantamento sobre os novos-ricos da política e analisa o estranho hábito de candidatos de guardar dinheiro embaixo do colchão.


A revista Veja contribui com uma entrevista do presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio, na qual ele denuncia o domínio de muitas comunidades por parte de grupos criminosos, que decidem em quem os eleitores devem votar e fornecem uma espécie de salvo-conduto para candidatos apoiados pela bandidagem.


Dessa maneira se formam as bancadas dos fichas-sujas, que são abrigadas por muitos partidos porque os dirigentes partidários se interessam apenas pelo número de votos, não pela qualidade dos candidatos.


A soma das reportagens dá uma idéia de como se torna crucial para a democracia brasileira a efetiva aplicação da Lei da Ficha Limpa.


A imprensa precisa ficar de olho no julgamento dos recursos encaminhados às instâncias superiores da Justiça por candidatos com maus antecedentes.


Essa é a mais básica e essencial reforma política ao alcance do Brasil. 


A Imprensa em Questão
Sem medo de emocionar


Wesley, 11 anos, temia os tiros:
morreu com o lápis na mão


Clima de férias na imprensa neste fim de semana. Jornalões e revistinhas circularam por obrigação, páginas e cadernos preenchidos burocraticamente com material de gaveta. Até a disputa eleitoral ficou insossa e o assassinato de Eliza Samúdio convertido em rotina.


Culpa do frio no sudeste (onde são editados os três diários ditos nacionais), mas pode ser ressaca de uma Copa estressante terminada na semana anterior.


Única emoção naquele monte de páginas, mas suficiente para enternecer corações e mentes brutalizadas pelo noticiário de crimes hediondos e chacinas contínuas: a primeira página do Globo no sábado (16/7) devolveu ao nosso jornalismo impresso sua capacidade de emocionar.


Um dia antes, rádios, telejornais e portais noticiaram a morte na Zona Norte do Rio de um menino de onze anos atingido no peito por uma bala perdida em plena sala de aula. Não foi a primeira criança morta na Batalha do Rio, mas esta jamais será esquecida porque o repórter Sérgio Ramalho não apenas deu-lhe um nome (Wesley Gilbert Rodrigues de Andrade), mostrou sua foto com a camisa do São Paulo (do qual era torcedor) e flagrou-o respondendo a uma recente enquete do próprio jornal sobre o bicho-papão que mais temia na comunidade. Resposta premonitória de Wesley: “os tiros”.


Título da primeira página: “Pesadelo virou realidade”, embaixo,  com a tosca caligrafia do menino, a pergunta e a comovente resposta. Enquanto o grosso da imprensa contenta-se com frias e distantes estatísticas, o repórter de O Globo tirou a vítima do anonimato, deu-lhe vida apesar de morto e comoveu o país.


Wesley morreu com um lápis na mão na aula de matemática enquanto policiais e traficantes enfrentavam-se numa batalha campal a poucos metros de distância.


A série de reportagens “O x da questão”, que foi à escola de Wesley já foi citada neste Observatório, porque os repórteres foram a outras escolas e numa delas, onde estudou  Fernando Beira-Mar, descobriram que apenas o arqui-criminoso enveredou pela senda do crime: todos os seus ex-colegas são honrados cidadãos.


Com repórteres sensíveis, comprometidos com a tarefa de contar histórias e editores capazes de se emocionar com o cotidiano, a imprensa não precisa temer a internet.