Hugo Chávez vem aí
O Estado de S.Paulo e a Folha publicaram na seção de Política a aprovação do ingresso da Venezuela no Mercosul, decidida ontem pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
O Globo publicou a notícia na editoria de Economia.
A proposta de adesão da Venezuela ainda tem que passar por duas votações no plenário da Câmara e ser votada no Senado, onde a aprovação será com certeza mais difícil.
O sentimento geral dos deputados da base aliada, com exceção dos petistas e dos filiados ao PSOL, foi resumida pelo líder do PTB, Jovair Arantes: ‘Chávez é horroroso. Se pudéssemos fazer um boneco dele, faríamos fila para malhá-lo no dia de Judas, mas precisamos da parceria comercial com a Venezuela’, justificou o deputado, segundo a Folha.
Em tese, a Comissão de Constituição e Justiça deveria discutir apenas os aspectos jurídicos da proposta, mas a figura polêmica do presidente venezuelano tomou praticamente todo o espaço destinado à notícia pelos jornais.
O Estado e a Folha publicaram um mapa da América do Sul e informações sobre a história do Mercosul, que foi iniciada em 1991. Mas faltaram informações exatamente sobre o que mais interessa: qual é a vantagem econômica da entrada da Venezuela no bloco comercial.
Os jornais embarcaram na discussão política sobre o regime de Hugo Chávez, se é uma democracia ou uma ditadura, e esqueceram de informar o leitor porque o Brasil quer a Venezuela no Mercosul.
A Venezuela tem um Produto Interno Bruto de 176 bilhões de dólares.
O Brasil exporta para aquele país 3 bilhões e meio de dólares por ano em terminais de telefonia, carros, frango, açúcar e outros produtos industrializados e importa pouco mais de 500 milhões, principalmente em derivados de petróleo.
As vendas do Brasil para a Venezuela cresceram mais de 100% desde 2004.
Com uma parceria assim, Hugo Chávez tem que fazer ainda muitas trapalhadas para merecer o desprezo do Brasil.
Mortes de jornalistas
A Associação Mundial de Jornais divulgou no começo da semana novo relatório sobre a estatística da violência contra jornalistas.
Neste ano, já foram mortos 106 jornalistas desde janeiro, 45 deles só no Iraque. O número está muito próximo do total de 2006 – 110 mortos – o recorde de assassinatos desde que a contagem começou a ser feita.
Descontando-se o caso do Iraque, onde os jornalistas são submetidos aos riscos de todas as guerras, chama atenção o fato de que, em outras regiões, as mortes estão relacionadas ao crime organizado e à corrupção.
A imprensa brasileira não deu muita bola para o relatório.
Segundo a Associação Mundial de Jornais, na América Latina muitos jornalistas são ameaçados, agredidos ou mortos quando se dedicam a investigar o crime organizado, o tráfico de drogas e os casos de corrupção.
No Brasil, a maioria desses está relacionada a problemas fundiários, ações de criminosos ou de políticos corruptos e até questões ambientais.
Mas há controvérsias em torno desse relatório.
Pode ser o caso do brasileiro Ajuricaba de Paula, citado na lista.
Ajuricaba tinha 73 anos quando foi morto no município de Guapimirim, Estado do Rio, no dia 24 de julho de 2006. Ele costumava denunciar a administração municipal por suspeitas de corrupção, e divulgava em órgãos da imprensa regional um movimento de moradores contra os políticos locais.
Segundo a versão da Associação Brasileira de Imprensa, adotada pela Associação Mundial de Jornais, o jornalista teria sido espancado até a morte pelo vereador Oswaldo Vivas, por causa de uma discussão sobre política.
Segundo o acusado, que publicou sua versão no site Observatório da Imprensa em agosto de 2006, foi um acidente. Ele teria tentado evitar uma agressão do jornalista, que estaria armado de um martelo, e ambos caíram ao chão, o que teria ocasionado uma lesão fatal.
A Justiça ainda não julgou a questão.
De qualquer maneira, são muitos os casos de jornalistas brasileiros que ainda são ameaçados e agredidos pelo Brasil afora, sem que as ocorrências engrossem as estatísticas oficiais.
Alguns desses casos resultam em assassinatos.
De tão comuns, as mortes relacionadas a esses conflitos já não sensibilizam a imprensa.
Mesmo quando a vítima é um jornalista.
Essa é a verdadeira fronteira da liberdade de imprensa no Brasil.