Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo
Terça-feira, 4 de abril de 2006
TV DIGITAL
Globo descarta operação digital no ano
‘O diretor de engenharia da TV Globo, Fernando Bittencourt, descartou ontem a possibilidade de transmissões comerciais da TV digital ainda neste ano, como desejava o governo.
Segundo ele, a demora no anúncio da escolha do sistema de modulação que será utilizado na digitalização da TV aberta brasileira vai impedir que as transmissões sejam iniciadas em setembro, como estava planejado pelo Ministério das Comunicações.
A Folha publicou que o governo já se decidiu pelo padrão japonês, preferido das emissoras de TV.
No início do ano, o governo chegou a anunciar que as emissoras fariam testes em junho, durante a Copa, e iniciariam as transmissões comerciais nas principais capitais em setembro.
Segundo previsão de Bittencourt, que também representa a SET (Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e Telecomunicações), a TV digital neste ano ficará restrita a demonstrações para poucos receptores.
Segundo o engenheiro, as emissoras de TV precisariam de um ano a um ano e meio para iniciarem as transmissões digitais comerciais. ‘A gente já sabe que não dá tempo mais de ter aparelho de consumo no mercado neste ano.’’
TODA MÍDIA
Daqui para a frente
‘Fátima Bernardes, ao entrar com a notícia no final da tarde, ontem na Globo, não poderia ser mais sucinta:
_ Tomaram posse agora nove ministros. Vão substituir os que deixaram os cargos para concorrer às eleições. Na cerimônia, o presidente agradeceu o trabalho dos que saem e desejou sorte aos que entram.
Na blogosfera brasiliense, Ricardo Noblat tachou como ‘irrelevante o discurso de Lula’ e ‘enfadonho’ o de Waldir Pires. Mas Gustavo Krieger, no Blog Brasil, tratou de avaliar melhor a mise-en-scène:
_ Não foi coincidência a escolha de Pires como orador. Em meio a tantas acusações, tem passado imune. Foi ele o encarregado de defender o caráter republicano do governo.
Mas havia mais na cena, como bem identificou o ‘Jornal da Record’, sublinhando que ‘esta segunda-feira marca o início informal da campanha’ não só para Lula, mas para Geraldo Alckmin em Brasília.
Da fala de Lula, o ‘JR’ destacou, como ‘orientação’:
_ Daqui para a frente, pé no chão, muita humildade, mas muita coragem de brigar.
O portal Terra, da Telefônica, destacou a declaração de que ‘a melhor defesa é o ataque’. E deu então, em manchete, ‘Alckmin responde a Lula e diz que governo joga na retranca’.
O tucano, notou a Record, aterrissou ontem na capital para ‘dar a largada’. E ‘a primeira disputa é quem vai ficar com que fatia do PMDB’.
Os blogs de Josias de Souza, na Folha Online, a Jorge Moreno, no Globo Online, abraçavam ontem como prioridade os bastidores das duas campanhas em formação. Com atenção para os próximos passos peemedebistas _e cearenses, pernambucanos, paranaenses etc.
Na web, também começou ontem a movimentação para a campanha eleitoral.
O Globo Online partiu para a briga com aqueles blogs que se firmaram no início da crise, copiando sites noticiosos. Não mais, parece dizer o site, que agora traz uma barreira ao ‘copy/paste’ e avisa:
_ Caro usuário, não é possível copiar este conteúdo.
Quem quiser que ‘entre em contato’, para a ‘autorização’. A barreira, na verdade, é fácil de contornar, mas vai constranger muito blog parasita.
CREPÚSCULO
O blogueiro Jorge Moreno, no auge da tensão dias atrás em Brasília, saiu-se com esta nota:
_ A crise está afetando e muito a relação entre os repórteres. Se escreve uma coisa, é logo rotulado. Se a notícia interessa à oposição, é tucano. Se coincide com interesses do governo, é petista. Vejo amizades serem desfeitas pela paixão da crise. É uma bobagem sem tamanho:
está provado que não há diferença mais entre PT e PSDB. E por que ninguém me chama de pefelista?
O debate sobre a ‘rotulagem’ não é restrito a Brasília. De Washington, Michael Kinsley, estrela do jornalismo que deixou marca da CNN ao ‘Washington Post’, expôs no fim de semana a discussão que vem desde 2005 nos EUA. Relatando a transição do ‘opinionismo’ da web para os canais de notícias e a imprensa, defendeu o ‘abandono da pretensão à objetividade’ no artigo ‘O crepúsculo da objetividade’, na revista on-line Slate.
GOOGLE ENTRE NÓS
O novo serviço de busca de livros avança no país
E prossegue a pouca notada _e noticiada_ invasão do Brasil pelo Google. Era a manchete ontem no site IDG Now!, que cobre tecnologia, no portal UOL:
_ Google quer acervo da Biblioteca Nacional. Ainda é uma ‘proposta informal’, mas já estaria em ‘US$ 10 milhões’. A biblioteca, observou o site, é a maior da América Latina e a sétima do mundo. A gigante de busca, segundo o IDG Now!, já fechou conteúdo para seu mecanismo voltado a livros com as editoras brasileiras Contexto e Senac, entre outras, e estaria em negociação com as maiores, como a Record.
De fora
Enquanto blogs e telejornais comentam que Dilma Rousseff é a nova estrela nas cerimônias e que o ex-ministro Ciro Gomes já trata da campanha de Lula, José Dirceu dá entrevistas sem parar.
Ontem, falou a Mário Kertész na rádio Metrópole e no blog do baiano. Anteontem, falou longamente ao argentino ‘Página 12’.
A mensagem é aquela:
_ Vou ajudar a reeleição.
Mas será de ‘fora’.
Da vez
‘Márcio Thomaz Bastos é a bola da vez?’, perguntava um destaque na home page do UOL.
Ainda que o ministro tenha feito manchetes no Google Notícias, não faltaram concorrentes _do relatório da CPI à acareação de Paulo Okamotto.
Pelo jeito, a oposição ainda não escolheu de quem é a vez, afinal, no jogo de dominó.’
FSP
CONTESTADAPainel do leitor
Caseiro
‘‘A Folha de 2/4, ao noticiar que foi o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci quem mandou quebrar o sigilo do caseiro Francenildo Costa (‘Palocci ordenou a Mattoso violação do sigilo do caseiro’, Brasil), relata reportagem publicada pela revista ‘Veja’ em que sou citado. Diz o texto que, segundo a ‘Veja’, ‘em conversa de Palocci com Mattoso e o advogado criminalista Arnaldo Malheiros, amigo de Thomaz Bastos, foi aventada a idéia de oferecer R$ 1 milhão a algum funcionário da Caixa que se dispusesse a assumir a culpa pela quebra do sigilo’. Faltou dizer, contudo, que desmenti enfaticamente ter estado em qualquer reunião onde esse tema tenha sido tratado. Faltou dizer também que, em legenda, a própria revista ‘Veja’ afirma que eu e o ministro Márcio Thomaz Bastos fomos os que ‘alertaram Palocci sobre ilegalidades da operação’. Quero deixar claro que não participei da aventada trama e -embora o jornal não tenha endossado a afirmação- entendo necessário registrar que, conquanto o teor das reuniões profissionais que mantenho seja coberto por sigilo, afirmo que jamais presenciei discussão, proposta ou referência a qualquer tipo de negócio para ‘compra de consciência’ ou falsa assunção de responsabilidade.’
Arnaldo Malheiros Filho, advogado (São Paulo, SP)’
ITÁLIA
Berlusconi e Prodi trocam ofensas na TV
‘O candidato socialista italiano Romano Prodi prometeu ontem retirar os 2.600 soldados italianos que estão no Iraque ‘o mais rápido possível’. Essa foi uma das muitas promessas que marcaram o último debate entre Prodi e o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, antes da eleição dos próximos dias 9 e 10.
Como as pesquisas dão de 3,5 a 5 pontos percentuais de vantagem a Prodi, o debate foi a grande oportunidade atrás do voto indeciso, um terço do eleitorado. Houve ataques duros entre os dois.
Prodi disse que Berlusconi se sustentava em números falsos, ‘como um bêbado em um poste’. Berlusconi contra-atacou. ‘Prodi é um idiota útil. Empresta sua cara de padre bonzinho à esquerda, onde 70% são ex-comunistas.’
O principal tema do debate foi a carga de impostos. Prodi anunciou que voltaria a cobrar o imposto sobre heranças, extinto por Berlusconi. Ele insistiu que o imposto só afetaria os mais ricos, ‘que têm milhões de euros’.
Já Berlusconi acusou o socialista de não ter o controle da coligação de centro-esquerda, que reúne diversos partidos, de ex-democratas-cristãos a comunistas. ‘Prodi diz algumas coisas, mas sua tropa pensa o oposto. Sinto muito, mas não dá para acreditar nele.’
O debate também falou do aumento das penas para crimes cometidos contra crianças. O país está em comoção pelo assassinato de um menino de 17 meses, morto a golpes de pá por seu seqüestrador. ‘A pena de morte está fora da nossa cultura e civilização’, disse Prodi. Berlusconi prometeu penas maiores para crimes contra mulheres e crianças.
Segundo vários especialistas, este debate foi bem mais equilibrado que o primeiro, onde Berlusconi tinha perdido claramente.
No domingo, quem acabou participando da campanha eleitoral foi o vocalista do grupo de rock U2, o irlandês Bono, também ativista político na luta contra a pobreza no Terceiro Mundo. Ele reclamou do uso da sua imagem por Berlusconi em uma brochura que o partido do premiê enviou a milhões de italianos.
O texto diz que ‘o astro irlandês é grato ao primeiro-ministro pelas ações do governo italiano aos países pobres’. Em carta ao jornal ‘Corriere della Sera’, publicada na capa da edição dominical, o cantor critica o não-cumprimento das promessas de Berlusconi.
‘Tragicamente, nos últimos anos, sob seu governo, a Itália se tornou a última da classe, entre os 22 países mais ricos do mundo, em ajuda per capita aos países do Terceiro Mundo’, escreveu.
Com agências internacionais’
TELEVISÃO
Globo veta Ibope em tempo real no Projac
‘Diretor-geral da TV Globo, Octavio Florisbal determinou o corte do fornecimento de dados de audiência em tempo real para quase todos os diretores da emissora. Agora, nem diretores de programas ao vivo, como o ‘Domingão do Faustão’, sabem qual audiência estão registrando enquanto estão no ar.
Há dois anos, a Globo vem reduzindo o número de profissionais que têm acesso à audiência minuto a minuto colhida pelo Ibope na Grande São Paulo. No último final de semana, no entanto, o corte foi radical. Nenhum computador do Projac (o complexo de estúdios da Globo no Rio) tinha acesso aos números.
Agora, só autores de novelas e diretores de centrais recebem o Ibope em tempo real. Isso gerou muita chiadeira nos bastidores.
O Ibope em tempo real é uma ferramenta útil para programas ao vivo. Baseados nele, diretores de programas podem aumentar ou reduzir a participação de determinado artista.
Oficialmente, o motivo do corte do Ibope em tempo real não é apenas evitar que os diretores da Globo se sintam pressionados pela ferramenta, comprometendo a qualidade da programação.
A medida busca, primeiramente, evitar análises equivocadas da oscilação de audiência. A idéia de Florisbal seria forçar diretores da emissora a buscarem análises mais consistentes, produzidas pelo departamento de pesquisas.
OUTRO CANAL
Contragolpe 1 Júlia (Glória Pires) vai retomar o controle da Belíssima já nas próximas semanas da novela das oito da Globo. Ela consegue comprar as ações de Mary Montilla, ficando com 51% do capital da empresa, e destituirá André (Marcello Antony).
Contragolpe 2 As ações de Mary Montilla compõem os 51% que estavam em nome de Júlia e que André tomou dela. Agora, ele terá que devolver os 2% da ex-vedete, ficando com 49% das ações. E Júlia convencerá a perua a vendê-las para ela com a promessa de lançar uma linha de lingerie com a marca Mary Montilla.
Conta A proposta do ombudsman da TV Cultura de extinguir os telejornais da emissora daria uma ‘economia’ de R$ 25 milhões. Para se manter, a Cultura recebe quase R$ 100 milhões anuais do governo do Estado de São Paulo _um quarto vai para o jornalismo.
Grade 1 Não foram bem as estréias do SBT. ‘Rei Majestade’, algo como um ‘Velhos Talentos’ de Silvio Santos, deu só oito pontos no domingo à noite, contra 31 da Globo e 17 da Record. O esportivo ‘Jogo Duro’ marcou seis de média, contra sete da Record e 18 da Globo. ‘Supernanny’, no sábado, também ficou em terceiro (sete), mas sua reapresentação no domingo foi vice (11 pontos).
Grade 2 O ‘Pânico na TV’, em novo horário (20h/22h), cravou seis pontos, apenas um a menos do que vinha dando das 18h às 20h.’
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O Globo
Terça-feira, 4 de abril de 2006
ALCKMIN SOB SUSPEITA
PT quer investigar acupunturista de Alckmin
‘SÃO PAULO. O acupunturista do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), Jou Eel Jia, entrou ontem no foco das investigações do Ministério Público do Estado e da Assembléia Legislativa paulista. A liderança do PT reuniu contratos da Associação de Medicina Tradicional Chinesa do Brasil, presidida por Jia, e suspeita de tráfico de influência. Um dos contratos, para treinar professores em meditação, é de R$ 1,044 milhão.
A Procuradoria-Geral de Justiça do Estado abriu procedimento para investigar a possibilidade de a revista de Jia, ?Ch?an Tao?, ter recebido verbas de estatais com influência do então governador. São dois contratos, de R$ 120 mil no total, firmados com a Ceetep (Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista). A investigação se estenderá a outros contratos da revista com estatais, como a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo). Na edição de março, a revista publicou entrevista de nove páginas com Alckmin, que também está sendo investigado. Os contratos entre a Secretaria da Educação e a Associação podem ser anexados à investigação, chefiada pelo procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho.
*Secretaria: R$ 1 milhão com transportes e diárias*
A parceria da Associação de Medicina Tradicional Chinesa com a Secretaria de Educação está no balanço de 2005 do governo Alckmin publicado no Diário Oficial do Legislativo em 18 de março de 2006. Há ao menos dois projetos conjuntos: ?Spa Urbano Escola da Família? e ?A Saúde começa na Educação?. No primeiro, a entidade faz oficinas para desenvolver ?o controle do corpo e da mente? no Spa Cha?n Tao. O outro projeto afirma ter treinado 29 mil professores com meditação, com gasto de R$ 1,044 milhão.
A Secretaria de Educação informou que a despesa foi feita para cobrir transporte e diárias dos professores e negou ter contratos com a associação. Haveria ?termo e cooperação técnica? entre as instituições.
O líder do PT na Assembléia, Enio Tatto, vai convocar o acupunturista para que ele se explique aos deputados.’
COMUNICAÇÃO CORPORATIVA
Ex-assessor de Clinton fará palestra no Brasil
‘O futuro da comunicação empresarial será o principal tema do 9 Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas, que acontecerá em São Paulo nos próximos dias 3, 4 e 5 de maio. A estrela do encontro será Jake Siewert, ex-secretário de Imprensa da Casa Branca no governo Bill Clinton e hoje vice-presidente de Comunicação da Alcoa. De acordo com Eduardo Ribeiro, da Mega Brasil, empresa responsável pela organização do evento, o executivo vai compartilhar suas experiências durante crises:
Vamos abordar todos os principais temas que interessam ao setor, com destaque para a apresentação de casos famosos de empresas e administração de crises. A presença de Siewert só vai acrescentar ao encontro deste ano.
Inscrições até 28 de abril têm desconto
Os interessados em participar do congresso podem se inscrever no site www.megabrasil.com.br ou pelos telefones (11) 5573-3627 ou (11) 5573-7573. O preço varia de R$ 500 (um dia) a R$ 1.200 (o congresso todo), por participante, até o dia 28 de abril. Após essa data, o custo vai variar de R$ 650 a R$ 1.500. Paralelamente ao evento serão oferecidos ? por um custo adicional ? dez /workshops/ , além de visitas técnicas e culturais. Estão programadas visitas à Central Globo de Jornalismo e ao Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, por exemplo.
Estamos esperando a participação de cerca de 800 profissionais do setor de todo o país na edição deste ano afirmou Ribeiro.’
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O Estado de S. Paulo
Terça-feira, 4 de abril de 2006
A QUEDA DE PALOCCI
Policiais estão à procura de ex-assessor da Fazenda
‘A Polícia Federal está desde a sexta-feira tentando intimar o jornalista Marcelo Netto, assessor de imprensa do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, por suspeita de envolvimento no escândalo da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, mas não consegue encontrá-lo.
Netto é acusado de ter vazado os extratos bancários de Nildo para a imprensa e deverá ser indiciado, podendo até ser alvo de prisão temporária, caso continue a evitar o depoimento à Polícia Federal.
Desde o início das investigações, o assessor de Palocci vem sendo apontado como suspeito, mas os primeiros dados objetivos surgiram na última sexta-feira, quando o motorista do ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso informou ter visto o carro do jornalista – um Mercedes Benz Classe A – na garagem da casa do então ministro Palocci, na noite de 16 de março.
Naquela mesma noite, Palocci e Mattoso estavam reunidos com dois representantes do Ministério da Justiça, a quem o petista solicitou investigação sobre a movimentação financeira do caseiro.
A suspeita se confirmou no último domingo, quando o secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, Daniel Goldberg, afirmou que Netto realmente esteve presente na reunião de 16 de março.
A Polícia Federal tentou ontem mais uma vez entregar a intimação ao jornalista ou a algum advogado que o represente, mas não conseguiu.’
ALCKMIN SOB SUSPEITA
MP manda apurar publicidade na gestão Alckmin
‘O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Rodrigo César Rebello Pinho, mandou investigar denúncia de irregularidades envolvendo o ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB às eleições presidenciais, por suposto direcionamento de verbas de publicidade.
São dois procedimentos, um criminal e outro civil. Indagado sobre eventual intimação de Alckmin para depor, o chefe do Ministério Público Estadual declarou: ‘Essa questão será examinada.’
Há uma semana, Pinho foi reconduzido pelo tucano ao posto de mandatário máximo do MP. Quando escolhido por Alckmin, o procurador disse que tem ‘relação harmoniosa’ com o chefe do Executivo, mas que isso não prejudica a independência da instituição que dirige.
As investigações foram abertas com base em representações do deputado Romeu Tuma (PMDB). Pinho afirmou que o fato não o incomoda: ‘Toda representação que chega acompanhada de subsídios deve ser investigada, mas não podemos antecipar nenhuma conclusão.’
Tuma cita em ambos os documentos reportagens publicadas pelo jornal Folha de S. Paulo. Uma representação pede apuração sobre ‘eventual ato de improbidade’ que teria sido praticado pela ex-primeira dama Lu Alckmin por ter recebido ‘doações irregulares, centenas de vestidos, à guisa de presentes’. Cada peça, criação do estilista Rogério Figueiredo, é avaliada em até R$ 5 mil.
‘Com base em que foi a sra. primeira dama presenteada no exercício da função de presidente do Fundo Social de Solidariedade?’, diz Tuma. ‘Ciente de que as doações compõem as receitas do Fundo, que fim deu aos vestidos? Confundiu-se o público e o privado por quê?’
A outra representação trata do pagamento de R$ 60 mil que a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista, estatal, efetuou a título de ‘patrocínio institucional’ à revista Chan Tao, da Associação de Medicina Tradicional Chinesa do Brasil, presidida por Jou Eel Jia, acupunturista de Alckmin.
O Setor de Patrimônio Público da Procuradoria-Geral fará a apuração criminal. A civil ficou a cargo da Promotoria da Cidadania. A promotora Andréa Chiaratti será a responsável pelo inquérito de publicidade. A apuração sobre os vestidos de Lu será feita por outro promotor.’
Christiane Samarco
‘Estão procurando pêlo em ovo’
‘O pré-candidato tucano à Presidência Geraldo Alckmin definiu como ‘positivas’ as investigações do Ministério Público sobre a oferta de vestidos para sua mulher, Lu Alckmin, e sobre o patrocínio público à revista Chan Tao, mas classificou as denúncias como ‘injustas e totalmente desproporcionais’. Seus adversários, disse o ex-governador, ‘estão procurando pêlo em ovo’.
‘Eu não tenho medo de cara feia, tenho a consciência tranqüila’, disse Alckmin, no início da noite, ao desembarcar em Brasília para uma primeira reunião de estruturação da sua campanha com a Executiva Nacional do PSDB.
O candidato contou que ontem conversou com o deputado Roberto Freire (PE), presidente e pré-candidato do PPS à Presidência. ‘Vamos manter o diálogo’, disse Alckmin, admitindo, porém, que seu sonho é fechar uma aliança com PFL e PSDB.’
TV DIGITAL
Televisão digital só deve estrear no Brasil em 2007
‘A operação comercial da TV digital no Brasil só deve começar mesmo em 2007. A previsão foi feita ontem pelo diretor de Engenharia da Rede Globo, Fernando Bittencourt. A demora do governo em escolher o padrão tecnológico a ser adotado no País vai atrasar também os testes da transmissão dos programas da TV aberta em sinal digital, que devem ocorrer só no fim do ano.
Esse calendário contraria os planos do governo, que queria fazer os testes em junho, durante a Copa do Mundo, e iniciar a operação comercial em 7 de setembro, como anunciou o ministro das Comunicações, Hélio Costa. ‘Comercialmente não dá mais tempo de entrar neste ano. O que pode haver é uma demonstração na Copa do Mundo’, disse Bittencourt, após debate no Conselho de Comunicação Social do Senado.
Segundo o diretor da Globo, que representou nos debates a Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e Telecomunicações, as emissoras de TV precisam de um ano a um ano e meio para a entrada comercial. E lembrou que a indústria de televisores também não estará pronta para produzir novos aparelhos em menos de um ano.
O governo tem de escolher entre os padrões japonês, europeu e americano. As emissoras já declararam a preferência pelo japonês, que também tem a simpatia de Costa. Ele confirmou, ontem, a viagem que uma delegação de ministros fará ao Japão e à Coréia na segunda-feira, para negociar a instalação de uma fábrica de semicondutores no País. O resultado das negociações, disse o ministro, constará no relatório que os ministros do Comitê de Desenvolvimento da TV Digital apresentarão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas não marcou data para a conclusão do documento, nem para o anúncio do padrão.
Essa viagem, segundo Bittencourt, aumenta as possibilidades de o governo optar pelo sistema japonês. ‘Se estão criando um grupo para ir para o Japão, é porque tem grandes chances.’ Mas ganha força no governo a tese de que a delegação deve passar também pela Europa. A idéia foi defendida há uma semana pelo embaixador da União Européia (UE) no País, João Pacheco – e, segundo fontes próximas ao Palácio do Planalto, tem apoio do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. A passagem pela Europa seria para reverter uma tendência verificada entre os ministros do Comitê de Desenvolvimento de apoio ao padrão japonês.
Ontem, o diretor de Tecnologia e Pesquisa da Philips do Brasil, Walter Duran, informou que a UE ofereceu ao governo brasileiro isenção da taxa de importação para televisores digitais e conversores produzidos no Brasil e vendidos para países europeus. Seria uma das contrapartidas pela opção pelo sistema europeu.
Em carta encaminhada ao governo brasileiro pela UE, em 24 de março, a Philips e a ST Microelectronics manifestam interesse em instalar no Brasil uma fábrica de semicondutores, mas informam que isso dependeria do resultado de estudo de viabilidade, que poderiam levar um ano para ficar pronto – mesmo prazo dos japoneses.’
NYT
NA WEBPaulo Sotero
NYT muda site para atrair público na web
‘A edição eletrônica do The New York Times, a mais lida entre os jornais americanos, está de cara nova e ficou mais fácil de navegar. O novo desenho, que foi ao ar ontem, permite ao usuário ir direto ao que quer ler e/ou ver com um único clique. O nytimes.com tornou-se mais interativo e oferece agora não apenas textos e fotos, mas também vídeos, além de acesso direto a milhares de novas páginas sobre pessoas que são notícia, análises de temas e serviços.
A mudança foi programada para abrigar uma outra inovação emblemática da transformação que as tecnologias de informação estão impondo aos meios de comunicação de massa nos países industrializados. Desde ontem, os leitores do New York Times tradicional não mais encontram na seção de Negócios as seis páginas com preço de ações e outros indicadores econômicos.
Premido pela dupla necessidade de, por um lado, cortar custos de papel num jornal que, como quase todos os grandes diários americanos, viu o número de leitores cair e a receita de publicidade estagnar, e, por outro, acompanhar a migração dos leitores para a internet, de hoje em diante o Times publicará cotações e indicadores apenas na edição eletrônica, de segunda a sábado. As informações virão com mais detalhes e os leitores terão a possibilidade de selecionar apenas as que mais lhes interessarem, criando um espaço específico para isso na versão personalizada do jornal – o my.nytimes.com – um novo serviço também colocado à disposição. Os indicadores e cotações continuarão a sair impressos apenas no jornal de domingo.
‘Nosso objetivo, quando começamos a redesenhar o jornal online, há um ano, foi tornar o acesso ao New York Times online mais fácil e mais útil’, disse Leonard M. Apcar, editor-chefe do nytimes.com, em nota aos leitores. As mudanças introduzidas na edição eletrônica tornaram-se inadiáveis no ano passado, quando o número de usuários do Times online – 1,4 milhão, em dezembro – superou pela primeira vez a dos leitores do jornal impresso – 1,1 milhão.
Embora a receita da edição eletrônica e dos outros serviços online tenha representado em 2005 somente 2% do faturamento de US$ 3,4 bilhões da New York Times Company, o jornal online e os 34 sites de serviços e publicações do grupo, que incluem o Boston Globe e o International Herald Tribune, são o negócio que mais cresce da empresa. . Iniciado no ano passado, o serviço já atraiu 450 mil assinantes. Duas semanas atrás, Scott B. Meyer, o presidente da New York Times Company previu que o faturamento na internet deve superar US$ 100 milhões este ano.
A exemplo da esmagadora maioria dos 1.456 jornais dos EUA, o nytimes.com é um site aberto aos interessados em seu conteúdo noticioso. Mas cobra o acesso aos arquivos, aos colunistas, e às palavras cruzadas, que são consideradas as melhores da imprensa americana. Entre os diários de circulação nacional, apenas o Wall Street Journal, que se dirige a um público mais especializado, cobra pelo conteúdo eletrônico.’
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Aumenta a leitura dos jornais dos EUA na rede
‘Um terço dos internautas americanos (cerca de 55 milhões) visita sites de jornais pelo menos uma vez por mês, segundo estudo da Newspaper Association of America (NAA). Pode parecer pouco, mas não é. De janeiro a dezembro de 2005, o número de visitantes únicos dos sites de jornais aumentou 21%, e o total de páginas vistas avançou 43%.
Um dos maiores desafios dos jornais, hoje, é atrair leitores jovens. O estudo mostrou que os sites aumentaram o número de acessos aos jornais, atraindo 14% mais leitores com idades de 25 a 34 anos e 9% mais na faixa de 18 a 24 anos.
‘Os leitores são a medida mais fácil de se comparar os valores dos jornais, e é essencial para os jornais serem capazes de apresentar informações sobre consumidores de todas as idades e através de toda a carteira de produtos impressos e digitais que distribuímos todos os dias’, afirmou o presidente da NAA, John Sturm, em comunicado.
Os jornais controlam 11 dos 25 sites de notícias e informação mais visitados dos EUA. Localmente, os jornais fornecem a informação dominante na maioria dos 75 maiores mercados americanos.
Na análise da audiência dos veículos impressos, o estudo mostrou que 78% dos adultos lêem um jornal num período de 5 dias da semana e um domingo, o que representa mais de 116 milhões de pessoas de um total de 149 milhões de adultos que residem nos mercados analisados.
A divulgação do estudo coincidiu com a realização da conferência anual da NAA em Chicago. Os jornais ouviram reclamações de anunciantes de que é mais difícil comprar anúncios nos jornais que em outros meios, principalmente quando envolve mais de uma publicação.
‘Por que não posso comprar espaço impresso e na internet ao mesmo tempo?’, indagou Andrew Swinand, vice-presidente executivo da agência de publicidade Starcom Worldwide.
COM THE ASSOCIATED PRESS’
TELEVISÃO
Pânico em novo dia
‘Não é só um novo horário. Depois da nova classificação etária aplicada ao programa Pânico, da RedeTV!, a atração deve mudar de dia na programação.
Na semana passada, o Ministério da Justiça reclassificou o humorístico, antes livre, como impróprio para menores de 12 anos. Segundo o órgão, a atração não poderá mais ser exibida antes das 20 h por veicular conteúdo inadequado para crianças. O Pânico ia ao ar anteriormente às 18 h. A emissora tentou reverter a decisão em Brasília até a noite de domingo, sem sucesso.
No novo horário, das 20 às 22 horas, o Pânico na TV! registrou média de 6,5 pontos de audiência e ficou por 40 minutos em terceiro lugar no ibope. Nada mal para uma mudança repentina.
Uma das idéias da RedeTV! é manter o Pânico às 20 h, só que aos sábados ou às sextas. Outra alternativa é adequar a atração às exigências do Ministério, o que permitiria a volta do programa para 18 h. O problema do Pânico ficar aos domingos, às 20 h, é o Bola na Rede, que, com a mudança, iria ao ar às 18h, antes de os principais jogos de futebol terminarem. Em tempo: o afastamento de Sabrina Sato anunciado anteontem na atração tem cheiro de armação.’
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Jornal do Brasil
Terça-feira, 4 de abril de 2006
LÍNGUA PORTUGUESA
Deonísio da Silva
O Mercador De Brasília
‘O mercador de Veneza, de William Shakespeare, ilumina o mercador de Brasília. Mercador, mercado e mercadores estão na ordem do dia. O agora ex-ministro Ciro Gomes declarou: ‘O PT não leu Montesquieu, e vivia fazendo essa história, com o chicote moral da nação.’ Dos denunciantes diz: ‘Não tem um camarada desses aí que não tenha um petista atravessado na goela.’
Homens de letras sabem que a Literatura antecipou o Direito em várias épocas. Mais do que o Direito, fez valer também a Justiça muito antes de ser estipulada na legislação. Não é à toa que advogados de boa formação utilizam textos literários em suas argumentações.
Advogados, juízes e promotores são encontrados entre escritores e também entre personagens literários, alguns dos quais emblemáticos, como é o caso de Baltasar, jovem bacharel que, apresentado pelo famoso advogado Belário, de quem é parente, vai defender Antônio, levado ao tribunal pelo usurário Shylock, que lhe emprestou três mil ducados com a garantia de uma libra de carne do corpo do rico devedor, escolhida da parte do corpo que o credor quisesse. Esta é a trama central de O Mercador de Veneza.
Antônio costuma ofender Shylock, amaldiçoando-o por emprestar dinheiro a juros. Mas seu amigo Bassânio precisa da quantia para fazer a corte à jovem Pórcia, de Belmonte, cujo pai, ao morrer, deixou um testamento estipulando o modo de ela arrumar marido: dispôs três estojos: um de ouro, um de prata, um de chumbo.
O mercador de Veneza aceita a condição de Shylock. O ardiloso financista diz que se trata de uma brincadeira, pois uma libra de carne de Antônio vale menos do que carne de animal, mas insiste para que o contrato seja feito num notário. No íntimo, quer vingar-se de Antônio, a quem odeia profundamente.
Não é somente o amor que é cego, o ódio também. Cego pela amizade, Antônio, confiante que muitos de seus navios mercantes estarão de volta em sessenta dias, aceita o prazo de três meses. Cego pelo ódio, Shylock diz, antes de emprestar: ‘seus recursos são hipotéticos: um galeão destinado a Trípoli, outro a caminho das Índias, um terceiro no México e um quarto rumo à Inglaterra’. Nesse ínterim, Jéssica, a filha de Shylock, foge com Lourenço, que é apaixonado por ela, levando boa parte da riqueza do pai.
Os navios naufragam. Antônio, prestes a ser sacrificado pessoalmente por Shylock no tribunal, porque tal direito é garantido pelas leis de Veneza, é defendido pelo jovem advogado Baltasar, disfarce adotado por Pórcia, a esta altura já mulher de Bassânio, que escolheu o estojo de chumbo, não sem antes receber preciosa cola da noiva por meio de uma canção que diz: ‘onde nasce a fantasia?/ No coração, na cabeça?/ É concebida nos olhos/De olhares nutre-se e morre’.
Shylock recusa o pagamento em dinheiro, mesmo que a quantia, muito maior do que a dívida, lhe seja oferecida por Bassânio e apresentada ao tribunal. Ele quer a libra de carne do devedor, tal como estipulado no contrato selado.
Shylock não consegue executar o mercador de Veneza. O jovem advogado diz, depois de ter sugerido que a clemência seria a melhor saída para as partes, pois bendiz a quem a recebe e a quem a concede, que há de ser uma libra exata e não pode haver derramamento de sangue cristão por mãos judaicas, o que as lei também proíbem terminantemente.
Ao poupar-lhe a vida, na reviravolta judiciária, o doge de Veneza, que preside o julgamento, diz a Shylock: ‘para que vejas a diferença de nossos sentimentos, eu te perdôo a vida antes que me peças’.
A Justiça e o Direito, tidos como valores burgueses, foram seriamente ameaçados por líderes petistas, no atacado e no varejo, tão logo chegaram ao poder, prejudicando enormemente colegas, simpatizantes e, paradoxalmente, não seus notórios adversários, com os quais fizeram alianças espúrias.
Chegou a hora de dar outro fim ao mercador de Brasília. Tomara que a clemência seja mútua. Como nas brigas conjugais, há o ponto de vista do marido, o da mulher e o correto.’
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