Na calada do fim de ano
O deputado Fernando Gabeira, diz a coluna de Ancelmo Gois no Globo, suspeita que as mesas da Câmara e do Senado queiram aproveitar o período do Natal, quando há uma certa desmobilização da sociedade, para aprovar aumento da remuneração dos parlamentares. A hora é de mobilização da mídia.
Inocência ou complacência?
Alberto Dines diz que veículos de imprensa ou são enrolados pelo discurso oficial sobre a crise aeronáutica, ou são complacentes com as autoridades.
Dines:
– A maior tragédia ocorrida nos céus brasileiros está se transformando numa sátira. Sátira dolorosa, deprimente, arrasadora, E a mídia desempenha um importante papel nesta história quando recusa-se a enxergar as coisas além do dia a dia. Talvez enxergue, mas não queira abrir o bico. Cinco dias depois da tragédia, o ministro Waldir Pires contestou com veemência no Jornal Nacional as declarações do jornalista Joe Sharkey, passageiro do Legacy, que denunciou a existência de “pontos cegos” no espaço aéreo brasileiro. Ontem vimos no mesmo Jornal Nacional o mesmo ministro Pires recuar e admitir abertamente no Congresso que existem “pontos cegos”. Será que a TV Globo não guardou as imagens da primeira declaração do ministro para compará-las com a de ontem ou não quis constranger o governo diante de 60 milhões de telespectadores? Tem mais: a infalível e rigorosa Polícia Federal divulga um relatório parcial sobre a colisão, indicia os pilotos do Legacy, mas adia o indiciamento dos controladores que já reconheceram em entrevista à revista Época sua parte na catástrofe. Por que não se indiciam todos os culpados (ou culposos) ao mesmo tempo? Medo de criar um trauma antes das festas de fim de ano? Ou a imprensa não está percebendo as incoerências da posição federal ou está procurando ser gentil com as autoridades deixando tudo para janeiro, isto é, depois da posse. Neste caso, sim, configura-se um complô da mídia, mas não contra o governo e, sim, a favor dele. Os 154 mortos, suas famílias e as milhares de vítimas do apagão não vão perdoar esta leviandade.
Legado involuntário de Pinochet
Veículos americanos de imprensa usaram a morte de Augusto Pinochet e a doença terminal de Fidel Castro como símbolo do fim de uma era. A revista The Economist desta semana faz outra comparação, mais séria. Diz que o destino de Pinochet traçou uma linha divisória na situação dos ditadores do século XX. Relembra que até a instauração de processo contra o ex-ditador chileno, por iniciativa do juiz espanhol Baltasar Garzón, nenhum tirano havia sido levado a julgamento. Depois, vários o foram. O caso mais recente é o do ex-ditador uruguaio Juan María Bordaberry.
O jornal Valor traduz artigo da Economist sobre o legado econômico de Pinochet. Argumenta que a redução do peso do Estado chileno foi ditada pela preocupação do ditador de não dividir o poder.
O poder do PCC
Dia após dia o Estadão publica novas e inquietantes informações sobre o grau de articulação do PCC, maior organização criminosa paulista.
Pimenta Neves
Só a Folha, entre os três maiores jornais, informa que o jornalista Pimenta Neves, condenado pelo assassinato da jornalista Sandra Gomide, foi diretor de redação do Estado de S. Paulo. Será que essa informação não seria útil para os leitores do próprio Estadão e os do Globo terem idéia da razão pela qual a mídia dá tanto destaque a esse assunto policial?
Factóide esvaziado
O prefeito do Rio, Cesar Maia, foi o detentor da grife dos factóides, notícias verdadeiras ou falsas infladas para chamar a atenção do público. Durante anos a imprensa foi sua aliada nessa prática. Hoje, o Globo denuncia plano de Cesar Maia de se auto-indicar para o Tribunal de Contas do Município. A historiadora Maria Celina d´Araújo, da Fundação Getúlio Vargas, diz que é um factóide. Mas que, a se transformar em realidade, seria a desmoralização do tribunal, encarregado de julgar as contas do próprio Maia. O Globo publica uma lista de fracassos da atual gestão de Cesar Maia na prefeitura carioca.