Punições caminham
O governo e o PT fizeram todo tipo de manobra mas até aqui não conseguiram deter o processo de punição em curso na Câmara dos Deputados. Caminha de modo desajeitado, deixa muita coisa de fora, mas caminha.
O vice e a Defesa
O vice-presidente José Alencar dá declarações que produzem nas pessoas com juízo uma vontade irreprimível de defender o mandato do presidente Lula. A mídia se limita a repercuti-las.
O vice, que acaba de participar da fundação de um partido patrocinado pela Igreja Universal do Reino de Deus, é ministro da Defesa. Não seria conveniente apresentar um balanço de suas realizações na pasta? A situação das Forças Armadas não é das mais brilhantes. Para dizer o mínimo.
Risco no campo
O Ministério da Agricultura subestimou os riscos da febre aftosa. Aceitou o erro do Ministério da Fazenda quando este bloqueou recursos para prevenção e vigilância de epizootias. Não estão sozinhos. A mídia continua de costas para o interior do Brasil. Nesta quarta-feira, 12 de outubro, o Estado de S. Paulo parece acordar no meio de um pesadelo. Dá foto dramática na capa, editorial, páginas do caderno de Economia. É verdade que no suplemento Agrícola o milho ocupa a primeira página. No caderno de Economia, o editor do Agrícola, José Carlos Cafundó, alerta que o surto de aftosa é apenas a ponta do iceberg de problemas que envolvem o agronegócio brasileiro. Opinião semelhante foi manifestada ontem em entrevista ao Observatório da Imprensa pelo ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira Luiz Hafers.
O sim e o não embolados
O Tribunal Superior Eleitoral equiparou o referendo a uma eleição e, com isso, deixou o rádio e a televisão engessados na discussão do desarmamento.
A campanha do sim, que contava com o poder da grande mídia, principalmente da TV Globo, ficou desnorteada. A campanha do não usa deslavadamente a bandeira dos direitos individuais e coletivos – contra a ditadura, pelas diretas, a favor das mulheres, na boca dos jovens – para vender seu peixe conservador.
Está cada vez mais claro que a pergunta sobre a venda de armas foi mal formulada e confunde o eleitor. Mônica Bergamo informa hoje na Folha que uma pesquisa do Ibope, ainda em tabulação, mostra que pode até dar empate, porque o não cresce rapidamente. Mônica diz que o governo vai pedir ajuda às grandes emissoras. Como?
Até agora, a mídia não conseguiu nem qualificar as estatísticas, que são manipuladas pelos dois lados. A confusão só fez aumentar. Toda contribuição da imprensa nesta reta final em prol do esclarecimento será valiosa.
Mão de gato no Congresso
O editor do Observatório da Imprensa online, Luiz Egypto, alerta para uma manobra em curso no Congresso Nacional.
Egypto:
– Vejam só: passou batido, sem despertar a curiosidade da mídia, uma Proposta de Emenda Constitucional formulada pelo deputado Alceste Almeida, do PMDB de Roraima, que modifica o Artigo 222 da Constituição Federal.
Embora não faça referência explícita ao assunto, a proposta do nobre deputado visa permitir que deputados e senadores possam ser proprietários de jornais, emissoras de rádio e de televisão.
É sabido e notório, porém – e o Observatório já mostrou isso –, que contrariando a norma legal vários parlamentares exercem o controle de empresas de radiodifusão, que são concessões públicas. A Constituição proíbe que deputados e senadores mantenham contrato ou exerçam função remunerada em empresas concessionárias de serviço público. E agora, abandonando de vez os escrúpulos éticos, os signatários da proposta encontraram uma forma de resolver o problema: mudar a Constituição.
É uma desfaçatez. E a sociedade precisa ficar de olho.
Tese sobre o caso Herzog
O professor de História Mário Sérgio de Moraes vai defender em novembro na USP tese de doutorado sobre o Caso Herzog. Seu trabalho procura valorizar a atuação de forças políticas que propuseram a luta pelas liberdades democráticas como caminho para derrotar a ditadura. Mário Sérgio é irmão do juiz Márcio José de Moraes, que em 1978 deu ganho de causa à viúva de Vladimir Herzog, Clarice, e aos filhos, responsabilizando a União pela morte de Vlado. O estudo dele abrange uma descrição da imprensa da época.
Mário Sérgio:
– Dentro da imprensa havia um movimento da Folha da Tarde, que era uma folha policial, ou seja, eram pessoas de dentro do Dops, ligadas ao mundo da Folha, dos jornais, que ali reproduziam as matérias vindas dos chamados porões. Havia a grande imprensa, que foi extremamente cautelosa. Ela noticiou o Herzog. O Estadão noticiou, a Folha noticiou, o Estadão um pouco mais ousado que a Folha, mas foi proibido internamente de fazer a investigação. E o setor da imprensa alternativa. Era uma espécie de porta-voz dessa classe média intelectualizada. Fora a imprensa clandestina, que evidentemente tinha pouquíssima penetração, embora algumas pessoas, estudantes, etc., tivessem acesso.
Mauro:
– A pesquisa de Mário Sérgio de Moraes valoriza a mobilização da sociedade civil que já tinha começado em São Paulo quando jornalistas ligados ao Partido Comunista foram presos e Herzog, assassinado.
Biblioteca Nacional
O professor Moniz Sodré, colaborador deste Observatório da Imprensa, poderá ser o novo presidente da Biblioteca Nacional.