Impunidade aos bilhões
A cada dia cresce o bolo do dinheiro que pode ter passado pelo esquema de corrupção operado por Marcos Valério de Souza. Hoje noticia-se que a CPI dos Correios não sabe a origem e o destino de 23 bilhões e 900 milhões de reais. Segundo os parlamentares, nem os bancos nem o governo ajudam a desvendar a trama. A mídia tem noticiado sem desanimar, mas isso não significa que os malfeitos serão punidos.
Depoimento incômodo
Depõe hoje na CPI dos Bingos o economista Paulo de Tarso Venceslau, um dos primeiros a denunciar, há quase dez anos, corrupção no PT.
Lógica de campanha
A mídia é obrigada a noticiar corretamente os passos do presidente da República. Inauguração, obra, discurso lido ou improvisado. Mas, com todo o respeito, torna-se cada vez mais necessário avaliar os custos de se ter um presidente candidato. Como qualquer postulante, Lula vai destacar o que lhe parecer bom para ganhar voto. E evitar o que lhe parecer incômodo. É o caso das reformas abandonadas nos três primeiros anos de governo. Essas, ou a imprensa cobra, ou ficarão esquecidas.
Hoje no jornal Valor o economista José Júlio Senna diz que desde 1980 a economia mundial cresceu 135% e a brasileira, só 75%.
A prioridade nos palanques de Lula e de seus adversários é polarizar, não propriamente discutir uma agenda modernizadora. E assim se entra mal no ano da campanha sucessória. Cabe à mídia martelar nos pontos incômodos para todos os candidatos. Quem sabe isso melhora a qualidade da discussão e do voto.
Susto interrompe férias
Se a mídia talvez possa influir no curso da campanha eleitoral, ela se mostrou impotente para restringir a folga dos parlamentares, como constata o Alberto Dines.
Dines:
– É preciso dar a mão à palmatória: ao longo de um mês a imprensa não conseguiu obrigar os deputados a comparecer ao trabalho embora estivessem ganhando em dobro. Quem conseguiu o milagre foi uma decisão de um juiz de efeito moral que determinava o fim do pagamento pelo recesso remunerado e o despertar do esperto Aldo Rebelo que finalmente decidiu cortar o ponto dos deputados faltosos. Jornais e televisões cansaram de mostrar plenário, corredores e gabinetes vazios. De nada adiantou. Isso é ruim para a imprensa. Será que os famosos “300 picaretas” da Câmara Baixa já não temem o poder a imprensa? Estão tão certos da sua impunidade e da eterna sobrevivência que já não se importam com o que se publica a seu respeito? Ou será que o mensalão voltou a funcionar? Uma coisa é certa: a Câmara só despertou da siesta de verão para aprovar a criação de uma nova CPI. Agora contra a oposição.
Observatório na televisão
Hoje o Observatório da Imprensa reprisa na televisão um dos programas de 2005 relacionados com a crise política. Às 10 e meia da noite na TV Educativa e às 11 horas na TV Cultura.
Guerra suja
O empresário Nelson Tanure arrendou títulos importantes, o Jornal do Brasil e a Gazeta Mercantil, pratica uma política miserabilista e faz uso negocial mal disfarçado do controle desses jornais. Foi chamado de predador pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Fred Ghedini, a quem processa por isso.
No domingo, o Jornal do Brasil fez uma retaliação contra dois jornalistas do Estado de S. Paulo, Lourival Sant´Anna e Alberto Komatsu. O JB deu com grande espalhafato duas páginas a pretexto de denunciar a liberdade condicional do jornalista Antônio Pimenta Neves, que no ano 2000 matou a tiros a também jornalista Sandra Gomide, sua ex-namorada. Mas o alvo eram reportagens publicadas em dezembro no Estado de S. Paulo. No dia 18, reportagem de Sant´Anna, que era subordinado a Pimenta no Estadão, recapitulou um antigo negócio no ramo das ferrovias em que os personagens foram Tanure, Paulo Maluf e Delfim Netto. No título aparecia a pretensão de Tanure ao controle da Varig. No dia seguinte, nova reportagem, de Komatsu, sobre Tanure e a Varig.
[Frase acrescentada no áudio que foi para as rádios MEC AM e FM do Rio de Janeiro: Hoje, o Jornal do Brasil e a Gazeta Mercantil abrem baterias contra o trabalho jornalístico de Lourival Sant´Anna. Ver esclarecimento no Em Cima da Mídia.]
Os jornalistas do Estadão estão sendo processados por Tanure, mas ele não se contentou com isso. Usou seus veículos para retaliar. Há muito tempo não se via nos grandes jornais brasileiros esse tipo de guerra suja.