Previsão de baixarias
Os jornais e revistas do final de semana concentraram-se na análise do aparente vigor da economia brasileira, dando repercussão a previsões otimistas sobre o período pós crise financeira.
Também deram espaço para os debates sobre o projeto de construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Xingu, e à eleição indireta do sucessor de José Roberto Arruda no governo do Distrito Federal.
Mas o tema predominante, desde sábado até as edições desta segunda-feira, é a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A revista Veja compõe o destaque negativo do período, com uma edição sem pudores: o leitor da revista já não tem como diferenciar notícias de boatos e meros palpites. Aquela que já foi a mais influente publicação nacional não passa de um panfleto.
Sua leitura já não é suficiente para dar um retrato da semana e os jornalões de domingo, com seus cadernos especiais, cumprem melhor o papel de resumir o período.
Ainda assim, o leitor de jornais pode se ressentir de algum descompasso no acompanhamento dos fatos: o noticiário e as análises dos cadernos de economia e negócios fazem um otimista e animado retrato do Brasil, mas a seção de política e o noticiário sobre o dia a dia nas nossas cidades revelam as mazelas que ainda emperram a vida dos brasileiros.
Na política, destaque para a campanha eleitoral, que embora ainda esteja fora do prazo legal, é uma realidade indisfarçável.
A cada pesquisa, como a que foi publicada no sábado pela Folha de S.Paulo, recrudescem as apostas e renovam-se as previsões dos profetas de plantão, com algumas obviedades, como a “descoberta” de que Lula é protagonista de sua própria sucessão.
A escolha do novo governador do Distrito Federal, Rogério Rosso, não mereceu grandes debates sobre o fato de que pelo menos dez dos treze deputados distritais que o elegeram estão na lista de suspeitos no caso que custou o mandato ao ex-governador José Roberto Arruda.
Talvez a própria imprensa esteja cansada desse escândalo.
A novela da usina de Belo Monte ganhou ares de filme americano com a presença do diretor James Cameron entre os figurantes, mas ninguém ainda explicou definitivamente se e por que essa usina é necessária.
Por fim, destaque para a previsão de que, na campanha eleitoral deste ano, será recomendável retirar as crianças da sala.
A festa na lama
Alberto Dines:
Como lembrar os 50 anos da fundação de Brasília – como um momento épico, glorioso e único da nossa história ou, ao contrário, como um dos maiores vexames políticos? Comemorar efemérides é salutar mas antes convém precaver-se. Podem transformar-se em perigosas armadilhas quando se ignora a dinâmica do presente e nos entregamos passivamente ao passado.
Ninguém poderia imaginar que quatro dias antes das festas do cinqüentenário da nova Capital a vaga do governador seria preenchida numa eleição indireta por deputados indiciados pela polícia e o antecessor fosse encarcerado por ordem judicial antes mesmo de ser deposto. Nem poderíamos prever que o lado épico da construção da utopia arquitetônica e urbanística da nova Capital fosse soterrado pelas espantosas revelações de suborno e prevaricação na sua administração.
Brasília foi concebida e construída como solução para uma série de problemas e hoje, apenas 50 anos depois, tornou-se lamentável símbolo das mazelas que deveria sanar. Em termos morais sua modernidade não consegue torná-la diferente de S. Luiz do Maranhão ou de Macapá.
Esta penosa dualidade refletiu-se nas envergonhadas e mirradas rememorações apresentadas pelos jornais e revistas neste fim de semana. É possível que os meios de comunicação tenham adiado a divulgação do material festivo para o próprio dia 21 de Abril separando a nostalgia das glórias passadas das penosas realidades do presente. De qualquer forma, a efeméride está definitivamente comprometida, ainda mais pelas evidências de que a solução mais correta e definitiva – a intervenção federal – foi descartada para evitar que o escândalo respingasse no governo central.
Clio, a deusa da história, não aprecia os juízos apressados: é caprichosa, surpreendente e impaciente. A última palavra sobre Brasília talvez só venha a ser conhecida quando completar 60, 70 ou 100 anos.