Visão mais ampla
A imprensa não deve perder de vista que a oportunidade certa para discutir as grandes questões nacionais e as propostas de governo é a campanha eleitoral. Por mais que as políticas dos candidatos se pareçam em muitos aspectos, ou exatamente por isso, já que os comandos de campanha podem estar de olhos excessivamente postos em pesquisas de intenção de voto. Alguém precisa enxergar as coisas com uma visão mais elevada.
Leitura além da Copa
Alberto Dines mostra a riqueza potencial do noticiário, apesar da presença avassaladora, na mídia, dos interesses comandados pelos contratos de transmissão da Copa do Mundo.
Dines:
– A melhor coisa que poderia acontecer ao Brasil na Copa do Mundo foi aquela estréia, digamos, modesta. A euforia e o ufanismo da torcida felizmente foram contidos, as estrelas da Seleção já sabem que precisarão deixar o salto alto e o governo descobriu que vai precisar trabalhar duro e rápido num mês que prometia ser um agradável “mix” de festas juninas e festas futebolísticas. Só que a pauta do governo não pode basear-se na pauta da imprensa: os principais veículos do país gastaram fábulas de dinheiro para mandar grandes equipes à Alemanha e precisam rentabilizar o investimento e monetizar rigorosamente cada centímetro do seu espaço e cada segundo do seu tempo. Apesar da ressaca pós-estréia, a mídia continua sem apetite para enfrentar as duras realidades do país e do mundo. A instabilidade dos mercados financeiros não é para ser minimizada, a incapacidade das empresas aéreas brasileiras em cobrir os vôos que a Varig já não consegue atender liga o alarme justamente na véspera da temporada de férias, quando aumenta a demanda por passagens. E a força do crime organizado é cada dia mais visível. Governantes devem ler jornais para saber o que se passa, mas quando os jornais só pensam no jogo do próximo domingo convém seguir outra agenda.
Persas e árabes
O governo do Irã tirou de circulação no país a revista The Economist por ter publicado um mapa do Golfo Pérsico sem o gentílico, chamando-o apenas de “O golfo”. A Folha explica hoje que as autoridades iranianas combatem a designação alternativa “Golfo Árabe”. Atrás dessas sutilezas se escondem os mais ferozes conflitos provocados pelo nacionalismo.
ABI volta a São Paulo
A Associação Brasileira de Imprensa, que passou anos ausente de São Paulo, voltará a atuar no estado. O evento de inauguração da representação paulista da ABI será na noite de terça-feira, dia 20, no Teatro São Pedro, com a presença do governador e do prefeito, entre outras autoridades. Estará à frente da ABI em São Paulo o jornalista Audálio Dantas, vice-presidente nacional da entidade. Ele fala das circunstâncias dessa retomada.
Audálio:
– A ABI, que esteve durante vários anos ausente de São Paulo, está empenhada em ter a sua presença aqui, pela importância, evidentemente, de São Paulo – o maior número de jornalistas do país está aqui concentrado. E essa representação tem um significado especial na medida em que a ABI está para completar 100 anos de existência, marcado com um comprometimento permanente com as lutas em defesa das liberdades democráticas, dos direitos humanos. Teremos aqui um Conselho Consultivo do qual será presidente Dom Paulo Evaristo Arns, que também é jornalista, ligado, conseqüentemente, a essas nossas lutas.
Grito de guerra
Uniformizado e de armas na mão, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou ontem que não renovará concessões de televisões que ajam como quinta coluna. O conceito de inimigo interno se presta a dúvidas, evidentemente. No Estadão de hoje, a manchete diz que a medida poderá atingir as emissoras que criticam o presidente.
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Leitor, participe. Escreva para noradio@ig.com.br.