Olhando o passado e o futuro
A revista Época,comemora seu décimo aniversário com uma edição em que fala do seu passado e apresenta uma visão de futuro desenhada por articulistas convidados.
A revista os apresenta como especialistas em suas áreas, mas a visão de futuro que oferecem não alcança a próxima década.
No geral, a edição vale mais para o leitor pela retrospectiva do que pela tentativa de fazer futurologia.
Os infográficos e textos curtos sobre o que mudou no Brasil e no mundo nos últimos dez anos são uma maneira interessante de passar por vários assuntos em poucas páginas, mas ainda faz falta o aprofundamento em certos temas importantes.
Perdeu-se, por exemplo, a oportunidade para contar as mudanças que aconteceram na economia brasileira nos últimos anos, e que colocam o País no limiar de um período de desenvolvimento prolongado.
Também faltou contar o processo político que marcou a década, quando pela primeira vez dois partidos de perfil esquerdista se sucederam o poder federal, mas não conseguiram alterar o modelo que dominou a política nacional desde o período da redemocratização.
O olhar sobre o passado foi tímido.
O olhar para o futuro foi conservador.
Talvez essa característica da revista Época, de se mostrar moderna no visual mas convencional no trato editorial dos fatos, seja a restrição maior que a impediu de, em dez anos, desbancar a revista Veja, ainda a principal publicação semanal de informações.
Veja sai nesta semana com uma edição em que, ambiciosamentete, tenta fazer um retrato de dois Brasis: o Brasil atrasado e aquele que a revista chama de Primeiro Mundo.
Mas a edição de Veja não resulta de um esforço de reportagem.
É produto da leitura de um livro, Brasil Globalizado, uma coletânea de textos de 22 economistas e do sociólogo e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O texto apresenta o Brasil dividido em duas nações diferentes, aquela que nos prende ao passado do atraso e a que nos empurra para a ‘civilização’ em algum ponto no futuro.
Na capa, o símbolo do atraso é o mosquito da dengue.
O símbolo do avanço é um jato da Embraer.
O texto, retirado do livro organizado pelos economistas Octavio de Barros e Fabio Giambiagi, alinha os fatores que os autores convidados consideram favoráveis ou desfavoráveis ao desenvolvimento do Brasil.
A edição serve como uma bela propaganda do livro.
Mas peca pela simplificação: afinal, o Brasil que voa para o futuro é irmão xifópago do Brasil que morre de dengue.
Revisando a História
Ainda na linha das retrospectivas, o ombudsman da Folha de S.Paulo faz um reparo a certos equívocos que a imprensa vem repetindo há décadas.
Um deles se refere ao movimento de contestação dos jovens em 1968.
Aos quarenta anos, os protestos que marcaram o mundo voltam à mídia.
Esse será o assunto do Observatório da Imprensa na TV, amanhã.
Alberto Dines:
– Por causa do feriadão revistas e jornais preferiram a ‘operação padrão’, isto é, jornalismo burocrático. Os investimentos ficaram para o próximo fim de semana, primeiro domingo do mês, salário no bolso do leitor, anúncios fartos. A contribuição mais relevante foi oferecida pelo Ouvidor da Folha, Carlos Eduardo Lins da Silva, ao atender à reclamação do leitor Renato Martinelli e contar a história de uma foto que há 40 anos é apresentada como ícone dos protestos de Maio de 68 em S. Paulo, mas foi tomada sete meses antes, em 26 de outubro de 1967. A foto não retrata o confronto entre os estudantes reacionários do Mackenzie e os combatentes progressistas da USP como dizia a legenda errada e, não obstante, repetida ao longo dos últimos 40 anos. Este confronto aconteceu efetivamente, mas a foto não é esta. Os acontecimentos de Maio de 68 na França merecem ser lembrados e precisam ser verificados. No Rio, por exemplo, tudo começou antes, em 28 de Março, quando o estudante Edson Luís foi morto no restaurante do Calabouço, o ponto culminante ocorreu em 13 de Dezembro quando a linha dura militar estabeleceu uma ditadura formal e rigorosa. No meio, a Passeata dos 100 mil realizada em 26 de Junho. A história precisa ser constantemente checada e quem pode fazê-lo com facilidade é a imprensa. A edição de amanhã do ‘Observatório da Imprensa’ vai tratar de 1968. À meia-noite e dez na TV-Cultura, às 22:40 na TV-Brasil, ao vivo.