Fogo na floresta
Uma multidão liderada por madeireiros depredou na noite de domingo o posto do Ibama no município de Paragominas, no leste do Pará, e tentou atacar os funcionários, que se abrigaram num hotel.
Os atacantes queimaram móveis, computadores e quatro veículos, além de grande número de documentos.
Um trator foi usado para derrubar o portão do hotel onde estavam hospedados quatro funcionários do órgão de defesa ambiental, mas a polícia usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão e impediu que entrassem.
Os funcionários, convocados para fiscalizar a exploração ilegal de madeira na região, haviam apreendido dezenove caminhões com 400 metros cúbicos de toras retiradas da reserva indígena de Alto Rio Guamá, na divisa com o Maranhão.
Durante o ataque, os manifestantes levaram os caminhões com suas cargas e até o início da noite de segunda-feira eles não haviam sido localizados.
A região de Paragominas está na lista das 36 cidades líderes de desmatamento na Amazônia, mas é também o município onde ocorre uma das mais bem sucedidas experiências de manejo florestal sustentável.
A notícia dá conta de uma escalada de conflitos na região, exatamente nos pontos onde as autoridades tentam colocar algum limite na ação dos desmatadores.
Pelo número de envolvidos, trata-se de um dos episódios mais graves na sucessão de confrontos que vêm ocorrendo desde que o Ministério do Meio Ambiente começou a Operação Rastro Negro, que tenta controlar abusos na cadeia produtiva de carvão no Pará.
Mas apenas a Folha de S.Paulo publicou uma reportagem a respeito.
Os outros jornais de circulação nacional simplesmente ignoraram o fato.
A região de Paragominas vive coberta por uma nuvem de fumaça, gerada pelas carvoarias, a maioria funcionando sem licença e muitas queimando madeira retirada ilegalmente das florestas.
O corte de árvores para a indústria madeireira e para a exportação é feito na maioria dos casos de forma convencional, o que provoca o surgimento de grandes clareiras na floresta, onde posteriormente penetram os fornecedores de lenha para as carvoarias.
Atrás dos carvoeiros vêm os criadores de gado, e completa-se o cliclo da destruição.
O conflito de domingo à noite não foi um episódio isolado e representa uma oportunidade para mostrar de perto o que acontece na Amazônia.
Mas, com exceção da Folha, a imprensa parece que se interessa apenas pelas estatísticas de desmatamento.
Fugindo do assunto
A imprensa brasileira deu pouco espaço para o acordo recentemente assinado entre o governo brasileiro e o Vaticano.
Desde o ano 2.000, a Santa Sé vinha pressionando o Brasil por garantias para o ensino religioso nas escolas públicas.
O governo protelou quanto pôde, para evitar a discussão sobre interferências indevidas da Igreja em assuntos do Estado, mas em 2006 o Vaticano encaminhou a proposta que desaguou no acordo assinado neste mês.
O texto final não provoca mudanças práticas, mas garante a manutenção das aulas de religião.
O governo brasileiro rejeitou um artigo que exigia o cumprimento de feriados católicos, como o dia de Aparecida.
A imprensa noticiou pontualmente o acordo, mas, acompanhando o governo, fugiu do debate sobre a tentativa de ingerência da Igreja em assuntos do Estado.
Alberto Dines:
– A imprensa comportou-se corretamente omitindo da sociedade a assinatura recente do acordo com o Vaticano? Se o Estado de Direito pressupõe uma completa separação entre o Estado e as diferentes confissões religiosas, em última análise a imprensa não estaria trabalhando contra seus interesses? A grande verdade é que nesta Concordata com o Vaticano a grande prejudicada foi a nossa imprensa já que o sigilo que pretendia foi rompido. A prova estará sendo apresentada na edição desta noite do Observatório da Imprensa. Pela TV-Cultura, à meia-noite e dez. E pela TV-Brasil, excepcionalmente às 22 horas. Ao vivo.