Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Programa 10
>> Controle do Judiciário
>> Empresas e ditaduras
>> Caso da Newsweek pega fogo nos EUA

O caso da censura imposta à denúncia do governador de Rondônia, Ivo Cassol, feita por intermédio do Fantástico foi mais grave do que se supôs no primeiro momento. Houve uma tentativa de proibição reportagem em todo o país. A Rede Globo vai recorrer da decisão que tirou o caso do ar em Rondônia.

 

Nessa história pode não haver mocinhos. Para começar, o noticiário informa que o governador, ele mesmo sob acusação de atos ilícitos, fez a gravação em dezembro de 2003. Então, por que só agora a divulgou?

 

Controle do Judiciário

 

É preciso ligar os três casos recentes de censura imposta pelo Judiciário, como faz o Alberto Dines, que antecipa uma expectativa em relação à entrada em funcionamento do Conselho Nacional de Justiça. Fala, Dines.

 

Dines:

 

– Mauro, dentro de alguns dias, no início de junho, deve ser instalado o Conselho Nacional de Justiça. Você vai me perguntar o que esse órgão de controle externo do Judiciário tem a ver com a nossa imprensa. Nada a ver e tudo a ver. Pois a nova vítima do Poder Judiciário é aquele que antigamente chamava-se de quarto poder, a imprensa. E o Judiciário teoricamente deveria funcionar como uma espécie de guarda-costas da imprensa. Teoricamente.

 

Na prática o Judiciário tem sido o algoz da imprensa. A última façanha foi protagonizada por um desembargador de Rondônia, que embargou a veiculação das denúncias do Fantástico, justamente no estado dos deputados chantagistas. Há duas semanas um juiz de Goiânia impediu um escritor de protestar contra a apreensão de seu livro. E outro determinou a prisão domiciliar de um jornalista longe de seu domicílio.

 

Se conseguir acabar com a censura togada, o novo conselho já terá prestado um grande serviço ao país.

 

Empresas e ditaduras

 

Entre os jornais mais influentes, só O Globo destacou na primeira página que o governo Bush faz pressão para que não sejam apuradas pela Justiça americana denúncias sobre empresas que supostamente teriam usado violência contra trabalhadores em países latino-americanos. Há histórias gravíssimas na Argentina e na Colômbia.

 

O assunto é importante também no Brasil. A chamada imprensa alternativa fez na década de 1970 denúncias muito graves sobre emprego, na segurança de fábricas, de pessoas vinculadas a esquemas estatais de repressão, inclusive da antiga Alemanha nazista.

 

Caso da Newsweek pega fogo nos EUA

 

Explodiu hoje na mídia a repercussão da reportagem da revista Newsweek, do dia 1 de maio, segundo a qual um americano teria jogado numa latrina da prisão de Guantánamo um exemplar do Alcorão.

 

Dezessete pessoas morreram em protestos no Afeganistão, cerca de cem ficaram feridas na Índia e no Paquistão. A revista recuou. Disse que sua fonte anônima não tinha mais certeza sobre o caso.

 

O New York Times está questionando o uso de fontes anônimas. Quem também sai mal da história é o Pentágono, que, consultado, não contestou a reportagem antes de sua publicação.

 

E o pior é que, no mundo árabe, a retratação está sendo vista por muito setores como mera tática para minorar as conseqüências de um fato que teria realmente ocorrido.

 

Uma sondagem recente mostrou que quarenta e cinco por cento dos americanos não acreditam em nada, ou quase nada, do que lêem nos jornais.

 

A mídia americana colocou acima da preocupação com o jornalismo de qualidade, de seu compromisso com o público, de sua função social, a meta prioritária de tornar essa atividade altamente lucrativa.

 

Essa é a confusão que precisa ser desfeita agora.