O show de candidatos
Os jornais paulistas reproduzem hoje o debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, realizado ontem pela TV Bandeirantes, como se fosse um show de variedades.
A iniciativa do debate é louvável, mas ainda não foi desta vez que se obteve alguma coisa dos politicos que não estivesse no roteiro escrito por seus marqueteiros.
O Estado de S. Paulo chegou a comparar o comportamento dos candidatos às reações da platéia de convidados, observando que havia mais animação entre os assistentes do que entre os protagonistas.
A Folha de S.Paulo não muda o tom, destacando as trocas de farpas entre os candidates mais bem posicionados nas pesquisas e registrando o constrangedor confronto entre o ex-prefeito
Paulo Maluf e a vereadora Sônia Francine.
Foi o que restou da longa carreira do controverso politico, campeão de encrencas com a Justiça.
A culpa não é da imprensa, mas ela poderia cobrar mais seriedade e respeito com os eleitores.
Os candidatos não apresentaram propostas inovadoras, não se aprofundaram nas graves questões que afetam a qualidade de vida da população paulistana e, principalmente, ignoraram propostas que vêm sendo oferecidas a eles pela sociedade.
Um bom pacote desses projetos foi organizado pelo movimento chamado Nossa São Paulo – Propostas para uma cidade justa e sustentável.
O movimento, liderado pelo empresário Oded Grajew, vem coletando idéias inovadoras para as grandes cidades brasileiras, muitas das quais inspiradas nos projetos que permitiram a recuperação das mais deterioradas comunidades da Colômbia.
Mas a imprensa parece ignorá-los, quando poderia melhorar o nível dos debates apresentando essas questões aos politicos.
No Rio de Janeiro, o Globo vem promovendo sabatinas com os candidatos a prefeito, mas da mesma forma os entrevistadores têm deixado escapar oportunidades para obter deles idéias novas para as mudanças radicais de que a cidade necessita.
Não há como evitar certo desânimo no leitor-eleitor, diante das evidências de que nenhum dos programas anunciados parece capaz de estimular a sociedade e gerar algum otimismo.
Se os candidates, orientados por seus marqueteiros, preferem apresentar mais do mesmo, pelo menos a imprensa poderia estar animando esses eventos com questões mais estimulantes.
Os nomes que faltam
A imprensa agiu como canal livre para os arapongas.
Agora tem obrigação de ir mais fundo na questão e revelar quem são os criminosos que estão tentando jogar combustível na crise entre os poderes da República.
Alberto Dines:
– As explosivas crises nos mercados financeiros e na Bolívia, abafaram ontem as repercussões da sessão da CPI dos Grampos no dia anterior. As tensões internacionais eram (e ainda são) tão grandes que não sobrou emoção nem espaço para escancarar uma perigosa crise institucional iniciada a partir da descoberta dos grampos na presidência do STF.
As revelações do diretor licenciado da ABIN, Paulo Maurício Fortunado Pinto e do ex-responsável pela Operação Satiagraha, o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, são preocupantes: o diretor da ABIN admitiu abertamente que 52 agentes seus atuaram durante quatro meses na operação Satiagraha e ajudaram a PF a realizar os grampos com a ajuda do araponga aposentado Francisco Ambrósio de Nascimento.
Como se não bastasse, o delegado Protógenes confirmou que pagou pelos serviços do ex-araponga do SNI com a verba da Operação Satiagraha. Significa que a ABIN e a PF subverteram a ordem, as normas e a Constituição ao executar tarefas incompatíveis com as suas funções.
A grande imprensa não pode ignorar ou minimizar as implicações destes perigosos desvios de conduta porque esta crise começou na imprensa, no segmento dos semanários. A grande imprensa foi mais uma vez usada para divulgar denúncias que não investigou.
O grupo que vazou para Veja o teor da escuta ilegal da conversa entre o presidente do STF, Gilmar Mendes, e o senador Demócrito Torres é certamente o mesmo que passou para a IstoÉ o nome do araponga aposentado, Francisco Ambrósio que fez os grampos.
Há grupos dentro da Policia Federal e dentro da ABIN se digladiando abertamente, sem que as autoridades superiores consigam impor um mínimo de disciplina. Nosso sistema de segurança está sendo detonado pelos resíduos da Operação Satiagraha. Isto é mais grave do que a perigosa situação na Bolívia.