O fator Marina
Um elemento novo pousou sobre a crise do Senado Federal e poderá apressar o esfriamento dos ânimos ou, pelo contrário, acender ainda mais a fogueira dos conflitos.
Em meio aos debates sobre o julgamento do presidente da Casa, José Sarney, no Conselho de Ética, vem a público a informação de que o Partido Verde convidou oficialmente a senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva a mudar de sigla e se candidatar à presidência da República.
Há cerca de um mês, circula nas chamadas redes sociais da internet uma campanha pela candidatura dela, num processo semelhante, embora ainda muito embrionário, do movimento que ajudou a alavancar a candidatura vitoriosa de Barack Obama a presidente dos Estados Unidos.
Depois dos discursos acalorados de segunda-feira, que ameaçaram levar a confronto físico algumas das figuras mais ruidosas do Senado, a imprensa andou especulando sobre o que viria a seguir: um recuo nas posições dos dois grupos beligerantes, o acirramento do conflito, ou um passo atrás para novas avaliações?
A terça-feira foi de certa pausa, ocupada pelas repercussões sobre o bate-boca de segunda, e os líderes dos dois grupos aproveitaram para analisar a situação,
Nesse contexto é que se torna importante a revelação de que Marina Silva começou a levar a sério a campanha pelo lançamento de sua candidatura, que já vinha circulando na internet mas ainda era ignorada pelos jornais.
Tanto governistas como oposicionistas querem saber a quem favorece a eventual entrada da senadora na disputa presidencial.
A imprensa não oferece uma análise definitiva, mas tende a considerar que uma candidatura de Marina Silva pode afetar mais as chances de vitória da candidata extra oficial do governo, a ministra Dilma Rousseff, do que as do governador José Serra, provável candidato da oposição.
Como se sabe, Marina deixou o governo, principalmente, por causa das restrições que sofreu por parte de Dilma Rousseff durante as discussões para a implantação do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC.
Rolando na lama
Acontece que, entre os oposicionistas, corre a hipótese de que, se Marina Silva entrar na disputa, poderá formar uma terceira força capaz de decidir a eleição no segundo turno.
O temor da oposição é que Marina tire votos dos dois lados no primeiro turno e, na segunda fase, acabe voltando para o colo do governo, ajudando a eleger Dilma Rousseff.
Por outro lado, o fato de um dos líderes do Partido Verde, Zequinha Sarney, filho do presidente do Senado, ter sido um dos portadores oficiais do convite a Marina mistura ainda mais os temas da crise no Senado e da eleição presidencial do ano que vem.
Se os beligerantes de segunda-feira passaram o dia seguinte lambendo as feridas e fazendo avaliações, os próximos dias vão exigir muito mais do que os xingamentos e ameaças que transformaram a tribuna do Senado em ringue de vale tudo.
Afinal, a briga em torno da cadeira de José Sarney não tem como motivação principal a questão da moralidade na política, mas a movimentação do pêndulo que vai definir as forças nos dois blocos que se preparam para a sucessão do presidente Lula da Silva.
A entrada em cena da ex-ministra Marina Silva pode fazer muitos eleitores se darem conta de que os atuais candidatos acabam representando duas faces da mesma moeda.
E os políticos detestam surpresas na boca da urna.
Não deve ser por outro motivo que os combatentes guardaram momentaneamente suas armas.
O PMDB adiou sua anunciada decisão de entrar com representação contra o líder do PSDB, Arthur virgílio, por manter em seu gabinete um funcionário fantasma; o PT adiou a reunião em que a bancada deveria decidir sobre o pedido de afastamento de José Sarney; o PSDB desistiu de emitir nota conjunta para marcar posição com o PSB e o PDT; e o Partido Democratas abandonou a idéia de abrir nova representação contra Sarney.
Tanto os aliados quanto os adversários de momento do presidente do Senado sabem que, se levarem em frente o confronto sem um acerto nos bastidores sobre os limites da crise, acabarão por rolar todos na lama, porque não há vestais em nenhum dos lados da briga.
Enquanto isso, a entrada na disputa presidencial da senadora Marina Silva traz o risco, para eles, de fazer muitos eleitores imaginarem que pode haver, sim, uma alternativa para aqueles que não aguentam mais tantos escândalos.