Diário oficial da “guerra”
Meios de comunicação cariocas disputam o troféu Guerra do Iraque. Se a Secretaria de Segurança contasse com um diário oficial, ele não teria sido tão oficialesco na cobertura da reação policial na Penha e no Alemão quanto, pela ordem, as revistas Época e Veja, os jornais O Dia, Extra e O Globo, e a TV Globo, para citar os mais notórios.
Nessa cobertura, as equipes do Estadão e da Folha honram o jornalismo independente. A Carta Capital, que apóia o governo federal, aliado de Sérgio Cabral Filho, fica em cima do muro.
Rio e São Paulo
Alberto Dines critica a pouca atenção de jornais de São Paulo a crimes ocorridos na capital paulista.
Dines:
– As diferenças entre a imprensa do Rio e a imprensa de São Paulo são cada vez mais evidentes. Isso é bom no aspecto político porque estimula a diversidade e o pluralismo. Mas no caso da cobertura sobre a violência os contrastes entre os jornalões do eixo Rio-São Paulo criam perigosas distorções. A chacina na madrugada de sábado no Morro do Piolho, zona norte paulista, quando foram fuzilados seis jovens é exemplo desta distorção. É décima quinta chacina deste ano. Apenas a Folha conseguiu dar uma pequena chamada na primeira página, mas os detalhes da barbaridade foram enfiados lá no fim do segundo caderno de assuntos locais. Na pequena notícia da primeira página a Folha fala em 25 mortos apenas na zona norte neste ano mas esqueceram de totalizar as vítimas de todas as chacinas em 2007. São 58, repito 58. No Estadão, a batalha do Complexo do Alemão no Rio teve destaque na primeira página, mas nenhuma palavra sobre o assassinato dos seis jovens paulistas, notícia enterrada lá no fim do noticiário local. Esta disparidade no tratamento do noticiário policial pode ter algo a ver com a rivalidade entre as duas metrópoles e a competição entre seus grandes jornais. Mas a conseqüência mais grave é deformação da realidade. O Estado Paralelo não é exclusivo do Rio, também existe em S.Paulo. Só que a imprensa local não gosta de encará-lo.
Milícias esquecidas
Continuam ausentes do noticiário informações sobre as milícias. São quadrilhas formadas por policiais e ex-policiais que estabeleceram domínio territorial em uma centena de favelas do Rio e têm ligações com políticos para os quais funcionam como cabos eleitorais. Elas, e não apenas facções criminosas, como declarou ao Jornal do Brasil o deputado federal Marcelo Itagiba, podem ser beneficiárias da repressão na Penha e no Alemão.
Contagem de corpos
A Folha e o Globo falam hoje em 22 mortos no Alemão, não 19. A Folha diz que quatro não tinham antecedentes criminais e três tinham menos de 18 anos de idade. Em desenhos, mostra sinais de execução sumária. O Globo e o Estadão noticiam críticas à ação policial feitas por defensores de direitos humanos.
Meta de inflação
Na semana passada, o governo fez uma aparente trapalhada com as metas de inflação. O Ministério da Fazenda, orientado pelo presidente Lula, impôs para 2009 uma meta de 4,5 por cento, mas admitindo que o Banco Central persiga a meta de 4 por cento. O repórter Cristiano Romero, da sucursal de Brasília do jornal Valor, diz por que o assunto, amplamente tratado na mídia especializada, é importante para todos.
Cristiano:
– É uma discussão importante porque ela traz algumas sutilezas, algumas nuances. E uma delas é a seguinte. O regime de metas para a inflação basicamente é um regime de administração de expectativas. Quando o Conselho Monetário Nacional fixa uma meta de inflação para um determinado ano o mercado fica sabendo que o Banco Central vai perseguir aquela meta no tempo estipulado. O mercado – não é só o mercado financeiro, mas o mundo real, o setor produtivo – sabe que o Banco Central fará tudo para trazer a inflação para aquela meta. A empresa sabe com antecedência que não pode reajustar preços de maneira descontrolada porque o Banco Central vai forçar a economia a baixar a inflação, ou seja, vai ter um custo alto se ela fizer isso. Como é um regime de administração de expectativas, é estranho o fato de o Brasil já ter hoje uma inflação inferior à meta – no ano passado a inflação foi de 3,1 por cento; neste ano, 2007, a expectativa é de que ela fique em torno de 3,6; e no ano que vem a expectativa é que ela fique em torno de 3,9 –, então não faz sentido você, ao fixar a meta para daqui a dois anos, prever um aumento da meta. Não necessariamente a inflação aumentará, pelo fato de a meta ser mais alta. Mas o fato é que você está dizendo para o mercado o seguinte: Olha, vamos ter aí um espacinho para ter uma inflação maior.
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