Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Programa 3
>> Mais um caso de má conduta na mídia americana
>> A lógica irresistível da campanha
>> Severino, a estrela
>> Relembrar o nazifascismo

Mais um caso de má conduta na mídia americana

Nesta sexta-feira, seis de maio, o crítico de mídia do jornal americano Washington Post, Howard Kurtz, noticia a demissão de um veterano correspondente de guerra, Tom Squitieri. Ele era do US Today e fazia cobertura no Pentágono. Numa reportagem de 28 de março, ‘pegou emprestadas’ declarações publicadas em outra reportagem essa do Indianapolis Star, que saiu nada menos do que um ano antes.

O assunto era a falta de proteção de veículos de transporte de tropas no Iraque. Falavam o pai de um soldado morto e um senador democrata do estado de Indiana. O advogado do repórter que se demitiu alegou que ele voltou a falar com esses personagens antes de escrever sua história.

Squitieri não é um jovem carreirista cascateiro como o repórter Jayson Blair, do New York Times. É um veterano com dezesseis anos de carreira. Foi ferido em Sarajevo e espancado por uma turba no Haiti. Aparecia freqüentemente em programas da rede MSNBC. Tinha criticado outra estrela do US Today, Jack Kelley, que foi mandado embora no ano passado por ter inventado pelo menos vinte reportagens ao longo de uma década.

O crítico de mídia do Washington Post, Howard Kurtz, que dá todas essas informações, lamenta que jornalistas americanos continuem usando trabalhos de outras pessoas sem dar o devido crédito, apesar de todos esses casos de grande repercussão. Se ele visse o que se faz nos noticiários da internet brasileira, cairia no choro…

A lógica irresistível da campanha

Está criada a dinâmica da campanha eleitoral de 2006, e parece que não tem mais jeito. Todo o debate segue essa lógica. Nas primeiras páginas dos jornais mais influentes do país, nesta sexta-feira, assuntos diferentes aparecem sob o mesmo chapéu: o que o governo perde ou ganha. Seja no Congresso Nacional (foi o caso de uma indicação do ministro Márcio Thomaz Bastos para o Conselho Nacional de Justiça, derrotada), seja no Supremo Tribunal Federal, onde foi aceita a Medida Provisória que dá ao presidente do Banco Central status de ministro.

O Jornal do Brasil põe a coisa em termos crus, futebolísticos, com a manchete: ‘Governo perde outra na Câmara.’

Esse perde-ganha futebolístico se afasta de uma reflexão mais madura sobre políticas públicas e atos do governo. A mídia não se incomoda nem um pouco. Ao contrário: mergulha de cabeça.

Severino, a estrela

E o jornal O Globo continua dando ao presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti, o tratamento de uma Gisele Bündchen às avessas. Falem mal, mas falem de mim.

Relembrar o nazifascismo

− Mauro, os 60 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, que serão comemorados neste próximo domingo, nos obrigam a rever o fenômeno do nazifascismo, sobretudo as incríveis ascensões dos tiranos Hitler e Mussolini. Os neonazistas na Alemanha e os neofascistas na Itália não conseguirão chegar ao poder novamente. O perigo não está nos clones ostensivos de Hitler e Mussolini que andam por aí. O perigo está nas semelhanças disfarçadas.

− Que semelhanças seriam essas, Dines?

− Veja: Hitler, nos anos 20, também dizia coisas ditadas pelo senso comum. Claro, não falava em juros altos, mas falava nos fabulosos índices de inflação, e o povão adorava. Hoje, ninguém lembra que Hitler também foi ridicularizado pelos jornais e até apelidado de ‘Hans Salame’.Mas de repente, sem disparar um tiro, tomou o poder.

− Dines, uma visão lúcida dos grandes fatos da história é uma ferramenta indispensável para cada cidadão tomar posição no debate da vida pública. Nas bancas de jornais encontram-se várias revistas de história dedicadas à Segunda Guerra Mundial. É preciso avaliar a qualidade desses trabalhos. Uma coisa que incomoda, e eu não sei até que ponto os responsáveis se dão conta do que estão fazendo, é usar nas capas a imagem de Hitler em pé de igualdade com outros personagens históricos.