Esquizofrenias
A televisão noticiou ontem e os jornais publicam hoje a declaração do senador Renan Calheiros de que o processo contra ele é “esquizofrênico”. Ninguém se deu ao trabalho de esclarecer a que título é lançado o adjetivo. O fato é que houve nesse caso um deslizamento sensível: cada vez se discute menos a acusação ou insinuação original, feita sem comprovação até aqui, de que a construtora Mendes Júnior, por intermédio de um lobista, deu dinheiro para o presidente do Senado, e se discute mais o aranzel alagoano de contas dos negócios de Renan.
O noticiário é que parece esquizofrênico. Alguns repórteres e comentaristas dizem que é bom para Renan ganhar tempo para obter o esquecimento do assunto. Não seria a primeira vez nem será a última que isso acontece no Brasil. Outros dizem que o suposto “sangramento” debilita o senador. E que o presidente Lula já estaria preocupado com a situação de seu prestimoso aliado.
Varig faz falta
Alberto Dines diz que o governo deveria ter ajudado a Varig a evitar a falência.
Dines:
– Já foi chamado de apagão aéreo, depois passou ao nível de caos aéreo e, ontem, os telejornais apresentaram a situação nos aeroportos como calamitosa. Quando se trata de dramatizações nossa mídia é perfeita, o mesmo não acontece quando é chamada para explicar, analisar, buscar referências. O que está acontecendo hoje em nossos aeroportos teve o seu início formal na tragédia aérea com o Boeing da Gol. Mas a crise começou verdadeiramente um pouco antes quando o governo recusou uma intervenção para salvar a Varig. O ministro Mantega, a ministra Dilma e o ministro Waldir Pires declararam em uníssono: o vácuo deixado pela Varig seria preenchido “pelo mercado”. Enganaram-se redondamente: a prova está sendo exibida há nove meses consecutivos. O tal do “mercado” não teve condições de tapar o buraco deixado pela Varig. Com receio de parecerem estatistas os ministros preferiram a fórmula privatista quando até na matriz da iniciativa privada, os Estados Unidos, o Estado não abdica do seu papel para enfrentar emergências. É claro que faltam controladores de vôo e falta equipamento. Mas faltam, sobretudo, aviões, falta gerenciamento competente e falta pelo menos mais uma grande empresa aérea na competição. A mídia brasileira aposta sempre no mercado e perde quase sempre. O governo foi na onda e também perdeu. Mas quem paga a conta é a sociedade, que sequer pode seguir os conselhos da ministra Marta Suplicy.
Muitas crises
Em matéria de crise aérea, o governo não parece em condições de fazer melhor do que a iniciativa privada. O presidente Lula mostrou comportamento errático. No fim de março, desautorizou uma ação de enquadramento dos controladores por parte da Aeronáutica. Agora, quando a situação é mais desfavorável, autoriza-a. A Infraero não honrou seu nome e descurou das partes mais estratégicas da infra-estrutura do sistema de aviação. Fez nos aeroportos obras cuja prestação de contas não foi engolida por órgãos encarregados de glosá-la. E agora se constata que os aeroportos da cidade de São Paulo estão com capacidade totalmente esgotada. As empresas privadas também têm sua parte na confusão.
A mídia paga o preço de depender exageradamente do governo para obter informações.
O viaduto de Chávez
Há 15 meses, entrou em colapso um viaduto da estrada que liga Caracas ao aeroporto internacional mais importante da Venezuela. O problema foi posto na conta do descaso do governo de Hugo Chávez com a infra-estrutura do país. Sem entrar no mérito das críticas, constata-se que ontem Chávez inaugurou novo viaduto. O evento, com toda a mobilização cênica de que é capaz o chavismo, ganhou as manchetes dos jornais venezuelanos. Chávez fez o chamado dever de casa. Eis um exemplo que o governo brasileiro poderia seguir. Mas a única cobertura televisiva permitida do evento foi feita por uma emissora do governo, a VTV, Venezolana de Televisión.
Polícia paulista
A safra de escândalos põe em segundo plano sucessivas denúncias feitas após operações da Polícia Federal contra integrantes da cúpula da Polícia Civil paulista. Acusações da maior gravidade, ligadas ao funcionamento de bingos.
Polícia fluminense
No Rio, desdobram-se as informações sobre corrupção de integrantes da Polícia Civil. Hoje é mostrada no jornal O Dia foto de uma mansão avaliada em 700 mil reais cujo dono é um inspetor que ganha 1.900 reais por mês de salário.