Financiamento da política
Duas questões levantadas por Maurício Marinho no Conselho de Ética convocam a mídia a um trabalho qualificado de acompanhamento e investigação própria. Ambas ligadas ao financiamento da vida político-partidária.
A primeira questão já havia sido sugerida por Roberto Jefferson em suas confissões na tribuna, na Folha de São Paulo e no programa Roda Viva, da TV Cultura. É o loteamento de cargos na máquina estatal e para-estatal. A imprensa está devendo um levantamento sistemático ou exemplar do assunto. É difícil, mas factível.
A segunda questão que a mídia precisa ajudar o povo a entender é ainda mais difícil. Trata-se do papel político das agências de publicidade. Uma porcentagem muito grande de aspirantes a cargos públicos trabalha nos bastidores com dinheiro canalizado via agências de publicidade. Antes, durante e depois das campanhas eleitorais.
No Estado de S. Paulo desta quinta-feira, 23 de junho, o jornalista Celso Ming escreve que as campanhas eleitorais de 2002 custaram nove bilhões de reais, pelas contas do deputado Rubens Otoni, do PT de Goiás.
Verbas do Planalto
O papel político das agências de publicidade é um assunto espinhoso. O Painel da Folha de São Paulo noticia hoje que a Secretaria de Comunicação da Presidência da República discute uma operação, abre aspas, “para dar alívio a alguns veículos de comunicação que enfrentam dificuldades financeiras”. Tratar-se-ia de reforçar, com a ajuda de aliados do Planalto, a divulgação da chamada “agenda positiva”.
Olho vivo, ouvinte!
Comunicação sem intermediários
Se há assuntos que desafiam a competência da imprensa, as próprias mudanças de configuração da mídia estão mudando a relação da população com a coisa pública, como destaca o Alberto Dines.
Dines:
− Estamos assistindo a uma transformação extraordinária na cobertura do carrossel de inquéritos – o cidadão está ligadão, acompanha tudo ao vivo pelo rádio e pelas tevês a cabo e o que é melhor − está entendendo tudo, mesmo que a informação chegue em grandes quantidades, aos pedaços, em estado bruto. Em compensação chega de forma intensa, palpitante, auto-explicada. Por enquanto, este novo tipo de cobertura está conseguindo envelhecer prematuramente os jornais do dia seguinte e até mesmo ultrapassar os telejornais da noite. Dentro de alguns dias, com o acúmulo de fatos e nomes, talvez o cidadão precise recorrer aos mediadores da mídia para amarrar todas as pontas.
De qualquer forma, temos um dado novo na cobertura política – atores e espectadores estão se comunicando diretamente, sem intermediários. Nestas condições fica difícil fingir, desmentir ou disfarçar. Resultado: os parlamentares que participam dos inquéritos agora não têm outra saída senão assumir seus papeis. Apesar dos solavancos, a democracia sai ganhando.
Internet muda a publicidade
O crescimento da Internet de banda larga é um dos vetores da ampliação dos meios de comunicação. Estudo noticiado hoje no Estadão mostra que esse crescimento fará a publicidade crescer, o que é bom para os veículos.
Mas na Internet não existe a relação unilateral dos outros meios de comunicação. Não é tão fácil influenciar quem pode decidir quanto tempo pode dedicar a um assunto, quando pretende fazê-lo, e onde. Na Internet, a barreira tende a ser o excesso de informações, não a escassez. Mas falta ainda, nos veículos mais populares, informação qualificada.
Baixaria em tempo real
Jorge Moreno, do Globo, colocou ontem notas em seu blog diretamente da CPI dos Correios e do plenário da Câmara. Moreno relatou: “Estou sendo amassado com meus colegas, em busca do melhor ângulo”. O jornalista ficou impressionado com a baixaria. Escreveu: “Com trinta anos aqui, nunca vi coisa igual”.
E ainda nem começou a CPI dos Bingos.
Cassol, o videomaker
O Senado poderá recomendar hoje o impeachment do governador de Rondônia, Ivo Cassol, o mesmo que produziu um vídeo de suposta propina para o Fantástico.