Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Os operadores
>>Partidos do crime

CPI eficaz


É cada dia mais evidente a utilidade da CPI do Apagão Aéreo. De controladores de vôo a presidentes de empresas aéreas, passando por altos oficiais da Aeronáutica, depoentes têm apontado problemas sérios que precisam ser solucionados.


Chovem denúncias


Presidente do Senado encostado na parede, empreiteiras pilhadas em flagrante, altos funcionários e prefeitos acusados, dirigentes da Polícia Federal afastados. Uma situação que, mais uma vez, põe à prova a capacidade das redações de apurar e editar tanta notícia.


Por mais que a imprensa se esforce em mostrar malfeitos e conexões espúrias, e ela se esforça, as denúncias se chocam contra um muro de autoproteção de esquemas que têm funcionado muito bem, obrigado.


A maior deficiência da cobertura é ficar na superfície dos fenômenos. É urgente que repórteres mais experientes sejam destacados para se ocupar, com tempo suficiente e apoio das redações, em estabelecer todos os nexos e mostrar como é o fluxo da corrupção da vida pública e privada no Brasil. Não apenas porque se trata de corrupção, mas principalmente porque se trata de ataques permanentes à democracia.


Os operadores


O jornalista Lucas Figueiredo, repórter especial do Estado de Minas e do Correio Braziliense, escreveu dois livros sobre alta corrupção no Brasil. Morcegos Negros, de 2000, sobre a ligação entre o esquema de PC Farias-Collor com a Máfia italiana, e O Operador, lançado no ano passado com o subtítulo Como (e a mando de quem) Marcos Valério irrigou os cofres do PSDB e do PT. Ele mostra o papel central que teve na origem da atividade do operador do mensalão o hoje ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, que foi vice-governador de Eduardo Azeredo, do PSDB, em Minas Gerais. O repórter critica a preocupação da mídia com personagens que são meros agentes operacionais da corrupção.


Lucas:


– O sujeito que é aquele que pega dinheiro de um lado e entrega do outro… esse acaba, por uma incompetência da imprensa – ela precisa criar um vilão, então ela cria os Paulo César da vida, os Marcos Valério da vida, que são grãos de areia nessas histórias todas e acabam se transformando nos vilões da história, sendo que, na verdade, têm uma importância muito colateral em tudo que acontece porque são operários de esquemas de corrupção que têm peças de reposição aos milhares. E a grande questão é: quem faz a corrupção no Brasil? Quem são os corruptores? A mídia nunca vai muito atrás nem é muito rigorosa em relação a isso.


Clique aqui para ler a entrevista completa de Lucas Figueiredo. Ele dá notícias atuais de Marcos Valério e questiona a qualidade da denúncia apresentada há um ano pelo procurador geral da República, Antonio Fernando de Souza, contra o que seria uma quadrilha chefiada por José Dirceu.


Partidos do crime


Do noticiário policial de hoje do Estadão pode ser extraída uma aula completa sobre as ligações entre crime e poder no Brasil. O Ministério Público paulista apura ligações de autoridades de Mauá, na Grande São Paulo, com dirigentes do PCC. Aparecem no enredo, por supostas ligações com o partido do crime, integrantes do Executivo e do Legislativo da cidade. É mencionada também uma juíza eleitoral. Notar que os empresários locais envolvidos nessa investigação, donos de postos de gasolina, são apontados como integrantes do PCC.


Vira-se a página e encontra-se uma disputa aberta entre as polícias civil e militar de São Paulo em torno de uma lista de supostas propinas para delegacias policiais apreendida com um advogado. Policiais civis referem-se a militares como “coxinhas”. É o mesmo apelido depreciativo usado pela bandidagem contra a PM.


Piratas


As rádios piratas são inimigas das rádios comunitárias. Se houvesse maior facilidade para o funcionamento de rádios comunitárias regulares, seria mais intensa a vigilância contra rádios que, entre outras coisas, interferem em comunicações entre aeroportos e aviões. Vigilância dos cidadãos, que pode funcionar melhor do que a falha repressão das autoridades.


Classificação ameaçada


O ministro da Justiça, Tarso Genro, recebe hoje entidades que defendem a classificação indicativa de programas de televisão. A presssão contra a classificação é forte.


TV obscura


O governo Lula prometeu transparência no debate sobre a constituição de uma nova TV pública, mas tudo que se soube nas últimas semanas apareceu em reportagens que não citam fontes, como a de hoje, na Folha, que fala numa “TV Brasil” ao custo de 350 milhões de reais por ano.