O discurso da desordem
O day after do referendo é um bom retrato das características da mídia brasileira hoje. Algum aprofundamento só há nos jornais. Mas, infelizmente, nos jornais se estampam o despreparo e a leviandade de uma parte importante da imprensa. Sucedem-se análises da manifestação do eleitorado a partir de números que não foram suficientemente estudados. Por exemplo: as urnas teriam revelado o tamanho do eleitorado conservador brasileiro. O referendo foi confuso demais, desde o início, para que se possa fazer essa quantificação.
Mas, como os candidatos não apenas alimentam jornais, eles também os lêem e muitas vezes acreditam no que lêem, surgirá um discurso mais à direita na eleição de 2006.
O prefeito César Maia foi precursor, ao trocar em meio à campanha, sem a menor cerimônia, o Sim pelo Não. Só que ele o fez encampando um discurso demencial. Um peixe podre. Maia entrou na conversa de que, diante das falhas da segurança pública, só resta ao cidadão se armar. Não é um discurso da ordem. É um discurso da desordem.
Discutir a segurança
O melhor que se pode fazer agora é manter acesa e tornar mais eficaz, menos impressionista, a discussão sobre as políticas de segurança pública e as políticas sociais sem as quais ela não funciona. Se tiver pesado no voto de domingo a crítica à ineficácia das políticas em curso, há espaço para isso. Ao contrário do que imaginam alguns apressados, o povo não votou em massa pela truculência. Se o governo Lula investir seriamente em segurança, ganha ibope.
Herzog, trinta anos
O Alberto Dines destaca o significado da data de hoje, trinta anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog pela repressão da ditadura militar. E anuncia uma iniciativa importante do Observatório da Imprensa. Fala, Dines.
Dines:
– Mauro, este 25 de Outubro é um dia solene e inspirador. Ao recordar o assassinato do jornalista Vladimir Herzog no DOI-CODI paulista, ocorrido há exatos 30 anos, estamos rememorando também o penoso percurso entre aqueles anos de chumbo e a plenitude do processo democrático que hoje desfrutamos. O Observatório da Imprensa na TV de hoje integra-se à programação organizada em conjunto pelas redes da TVE e da Cultura a partir das dez horas da noite. Entraremos no ar, excepcionalmente, às onze e meia nas duas redes. Vale a pena assistir a esta programação especial e participar de um momento importante na história da nossa imprensa.
Mauro, eu disse há pouco que hoje é um dia solene e inspirador. Inspirador porque, por coincidência foi agendada para hoje, às 14h30, em Brasília, a audiência com o Vice-Procurador Geral da República quando o Instituto Projor, mantenedor dos Observatórios da Imprensa, entregará a documentação para instruir uma representação contra o lamentável sistema de distribuir concessões de rádio e TV a deputados e senadores. Há anos estamos denunciando esta quebra de decoro que agrava a perigosa concentração da nossa mídia. Hoje, 25 de outubro, passamos à ação.
Pegadinha
O Ministério Público Federal pediu a cassação da concessão da RedeTV!. A ação acusa a emissora de homofobia e de desrespeito aos direitos humanos no quadro Pegadinhas do programa Tarde Quente, de João Kléber.
A emissora se recusou a fazer acordo com o Ministério Público. A indenização por dano moral coletivo pedida é de 20 milhões de reais.
Caixa dois do PSDB
É salutar que o problema de caixa dois no PSDB tenha chegado hoje à manchete da Folha de S. Paulo, como reivindicou no domingo o ombudsman do jornal, Marcelo Beraba. O que provocou a manchete foi uma reportagem da IstoÉ mostrando que o senador Eduardo Azeredo, atual presidente do PSDB, teve relação com o lobista Marcos Valério.
O partido que ocupou durante oito anos o Planalto precisa escolher se prevalece a solidariedade interna ou o interesse público.
A origem da dinheirama
Notícia importante está no Valor de hoje. O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral, anuncia que serão convocados a depor empresários que deram dinheiro para as operações de Marcos Valério. Essa é a grande pergunta ainda não respondida de toda a crise do “mensalão”: de onde veio o dinheiro. Bem mais importante do que a agonia de José Dirceu.
Salvem a floresta
A jornalista Míriam Leitão, que foi a Nova York receber o importante prêmio Maria Moors Cabot, da Universidade de Columbia, trouxe uma advertência que transmite hoje no Globo: a preocupação com a devastação da Amazônia é maior na mídia americana do que no governo e na mídia do Brasil. É roteiro para uma crise de bom tamanho.