Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Marina silencia, Marina perde
>>O jornalismo no submundo

Marina silencia, Marina perde


A persistência de uma caricatura na primeira página do Globo, nesta semana, na qual a senadora Marina Silva aparece em cima de um muro, sendo assediada por Dilma Rousseff e José Serra, levanta a questão curiosa: Marina acertou ou errou ao se manter isolada do debate eleitoral no segundo turno?


Porque a imparcialidade alegada por ela só existe, se existir, em seu foro íntimo, pois seus assessores, companheiros de chapa e demais dirigentes e militantes do Partido Verde voltaram aos seus recantos anteriores ao início da disputa eleitoral.


Dentro dessa questão, está na hora de analisar se o movimento pela sustentabilidade ganhou ou perdeu com a atitude da senadora, e se ela, pessoalmente, guarda algum cacife para a eleição de 2014, como supostamente é sua intenção.


Num cenário de total conflagração, na qual o partido no poder luta para dar continuidade ao projeto do atual governo e o candidato da oposição dá a vida para não perder sua melhor oportunidade para chegar à Presidência da República, alguns analistas questionam se foi acertado assumir uma neutralidade que, todos sabem, nada tem de neutra.


No nível de exacerbação ao qual chegou a campanha, com os candidatos trocando a apresentação de programas de governo por encenações patéticas e discursos destinados a agradar a meia dúzia de fanáticos religiosos, manter-se em cima do muro mais confunde do que esclarece o eleitor, como pontua Eugênio Bucci em seu artigo no Estadão desta quinta-feira.


Mas, muito para lá da vida pessoal e da carreira política de Marina, é preciso refletir o que ganha – ou perde – o movimento pela sustentabilidade com sua representante no embate eleitoral em atitude de Pôncio Pilatos.


Não se sabe quantos, entre os vinte milhões de votos que ela obteve no primeiro turno, têm origem na consciência da defesa do patrimônio ambiental, e quantos foram votos de protesto contra a baixaria da campanha.


Nem o meio ambiente entrou na pauta política, nem a baixaria saiu de cena.


Ao se omitir, Marina certamente esvazia um pouco seu carisma.


E a agenda da sustentabilidade fica de fora no segundo turno. 


O jornalismo no submundo


Alberto Dines:


– Quem quer que seja o beneficiário final das informações obtidas pela quebra do sigilo de dirigentes tucanos uma coisa está comprovada: a participação de um jornalista –  Amaury Ribeiro Jr. –  na comercialização destes dados confidenciais. Pela segunda vez consecutiva em pleitos presidenciais aparece uma banda podre da imprensa operando sem constrangimentos o comércio clandestino de informações. Em 2006, o semanário IstoÉ prestou-se a divulgar sem investigar um dossiê comprovadamente falso, o “Dossiê Vedoin”, pago por um grupo de “inteligência” que o presidente Lula na época classificou, indignado, de “aloprados”.


Agora, no inquérito da Polícia Federal sobre a quebra do sigilo fiscal de dirigentes do PSDB e familiares do candidato José Serra, evidencia-se que o jornalista Amaury Ribeiro Jr. pagou pelas informações sigilosas e elas não se destinavam ao jornal onde então trabalhava (Estado de Minas Gerais). Não importa a quem se destinavam as informações, neste momento é irrelevante discutir quem se aproveitaria ou se aproveitou do ilícito. Importa que certa imprensa, seduzida pelo sensacionalismo conspícuo, está aprendendo a conviver com a arapongagem (profissional ou amadora) e, aos poucos, está se transformando num prolongamento dos serviços de espionagem.


A investigação jornalística deve servir à sociedade; quando se terceiriza e presta serviços a interesses escusos torna-se parceira do crime organizado. O jornalista em questão não é um foca, neófito, tem experiência, passou por redações de grandes empresas jornalísticas. Sabe que o jornalista não compra informações, investiga. Aparentemente o jornalista não absorveu os procedimentos corretos e preferiu incorporar-se ao submundo, o universo dos franco-atiradores que alguns chamam de “imprensa marrom”.