A tortura volta à pauta
O Estado de S.Paulo reacende o debate sobre a repressão do regime militar à insurreição armada na região do Araguaia, com a publicação de declarações de ex-soldados que participaram do combate aos guerrilheiros e relatam casos de torturas e assassinatos.
A reportagem do Estadão, publicada neste domingo (14/09/2008), está baseada em depoimentos tomados pela Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, que considera importante o fato de que antigos agentes do governo tenham confirmado a ocorrência desses fatos.
A resistência de representantes das Forças Armadas à investigação de crimes cometidos por militares durante a repressão à oposição armada ao regime de exceção se baseia no argumento de que se tratava de uma situação de guerra, na qual ambos os lados conheciam os riscos ao ingressarem no conflito.
Os depoimentos publicados pelo Estado de S.Paulo, se confirmados, demonstram que, se houve um estado de guerra, também ocorreram crimes que precisam ser esclarecidos.
A tortura e o assassinato não fazem parte dos códigos militares.
O problema com os depoimentos, segundo a reportagem do Estadão, é que alguns dos declarantes estão pleiteando o reconhecimento de danos causados por maus-tratos quando serviam as Forças Armadas, o que pode afetar sua credibilidade.
A informações fazem parte de 116 pedidos de reintegração às Forças Armadas feitas por 315 ex-soldados, que pleiteiam indenizações.
Quase todos são integrantes da Associação Brasileira dos ex-Combatentes da Guerrilha do Araguaia.
Como são parte interessada na retomada das investigações sobre o episódio, seus depoimentos podem perder valor.
No entanto, as evidências que apresentam deveriam ser suficientes para a imprensa colocar o tema na pauta.
Se foram cometidos crimes durante o episódio que as Forças Armadas consideram situação de guerra, esses crimes têm autores e precisam ser esclarecidos.
A imprensa pode ajudar.
Afinal, a missão da imprensa é buscar a verdade, ainda que tardia.
Tremores em Wall Street
Os jornais brasileiros praticamente traduziram o material que foi fartamente publicado ontem nos Estados Unidos, por conta das turbulências provocadas no mercado financeiro pela anunciada falência do banco americano Lehmann Brothers e da venda do Merryll Linch para o Bank of America.
Os textos publicados hoje no Brasil repetem em teor e em alarme o que estava sendo divulgado ontem, tanto pelos jornais mais celebrados quando nos títulos gratuitos que circulam na região do distrito financeiro de Nova York.
Da mesma forma, a imprensa brasileira repete as declarações dos candidatos à Presidência dos Estados Unidos, o democrata Barack Obama e o republicano John McCain, que defenderam uma reforma radical no sistema de negociação de ações, considerada excessivamente vulnerável e presa a um círculo vicioso de pessimismo.
Salvo um ou outro comentarista, não se observa grande esforço dos jornais brasileiros para localizar melhor a economia nacional no contexto da atual turbulência de Wall Street.
A crise e as manifestações de Obama e McCain são sintomas de que não apenas o mercado está precisando de intervenções mais efetivas e coordenadas dos governos, o que faz arrepiar os cabelos de nove entre dez editores de economia, como também indicam que está na hora de a imprensa mudar sua abordagem tradicional sobre o mundo dos negócios.
Detalhe: por volta do meio-dia de ontem, boletins edletrônicos de alguns bancos brasileiros enviados a seus clientes estavam mais atualizados sobre o novo surto de crise financeira global do que os sites dos chamados grandes jornais.