O jornal Estado de S.Paulo, o Estadão-ão-ão dos comerciais, tornou-se de vez panfleto oficial de propaganda e cabo eleitoral do PSDB. Geraldo Alckmin e José Serra nem precisam se preocupar em gastar com jornais e panfletos do partido para exaltar suas obras e análises apenas positivas de seus governos. Basta ler o Estadão. E se o PSDB estiver disposto a fazer um acordo direto com os donos, pode distribuir o jornal nas casas dos eleitores durante a campanha, pois a maioria já acha os candidatos tucanos os melhores para o país, o partido destes superior aos outros e outras bobagens que se lê diariamente em editoriais do jornal.
Analisando apenas a edição de sábado (1º/4), nota-se a bajulação nos editoriais e o favorecimento nas reportagens aos candidatos do partido. Começando pela capa do jornal, onde sempre a manchete principal é uma insinuação negativa ao governo Lula – e desta vez trata do relatório final da CPI dos Correios. Os petistas contestaram o relatório, que deixou de lado muitas figuras importantes envolvidas nos esquemas, como o banqueiro Daniel Dantas, protegido da oposição e há anos envolvido em denúncias e processos relativos aos esquemas de corrupção por ele montados no governo anterior e nesse também.
Do lado da manchete, a foto do ‘nobre’, do ‘intelectual’ José Serra anunciando que vai sair da prefeitura de São Paulo e disputar o governo do estado. Na edição de domingo, o jornal praticamente assumiu as palavras de Serra como sendo a vontade dos editores, na manchete bem grande: ‘Não podemos deixar o Estado nas mãos do PT’. Esse ‘não podemos’ inclui o jornal, que está trabalhando com o PSDB para eleger Alckmin presidente e agora Serra para governador.
Os dois lados da moeda
Na página seguinte, que é a dos editoriais, vem a maior demonstração de cabo eleitoral e panfletarismo do jornal a favor de Alckmin, exaltando a inauguração e o recorde na ampliação da linha do metrô em São Paulo feita por ele e Serra um dia antes. Este não é o primeiro caso de apoio e bajulação às ações das administrações Alckmin e Serra. O jornal apoiou quase todas as decisões dos dois, até na política preconceituosa e racista de despejo de mendigos e pobres das ruas do centro de SP, generalizando todos como viciados e bandidos.
Os vetos de Alckmin na educação e todas as inaugurações de obras feitas por ele e Serra ganharam apoio incondicional nos editoriais e destaque nas reportagens. Detalhe: nenhuma foi tachada de obra eleitoreira. Nas páginas seguintes desse dia, as reportagens dão destaque especial às frases ditas por Serra, que ainda conta com o apoio de outra colunista, Dora Kramer, que adora o partido e seus candidatos. As denúncias e as mais de 60 CPIs barradas no governo Alckmin são minimizadas e nem ganham destaque nas reportagens, muito menos nos editoriais irados pedindo mais investigações e pré-julgando os acusados, como se lê a qualquer indicio de irregularidade do governo Lula.
O PSDB há 10 anos governa o estado mais rico do país sem nenhuma crítica não só do Estadão, mas da imprensa paulista em geral. A mais grave foi feita esta semana pela concorrente Folha de S.Paulo, sem destaque no Estadão, o qual já esqueceu de investigar o caso da Nossa Caixa.
O problema da grande imprensa, em especial a paulista, não é a crítica feroz ao governo Lula, mas à falta de espaço para opiniões divergentes. Uma vez ou outra em algum caderno do jornal sai uma entrevista de pessoas que pensam diferente e têm idéias divergentes das propagadas pela grande imprensa, mas é quase inexpressivo esse espaço. O outro problema é a diferença que a mídia faz com relação a políticos de algumas siglas partidárias. Não se trata de defender esse ou aquele partido ou governo. Mas a imprensa deve buscar e mostrar os dois lados da moeda, investigar todos políticos sem exceção e, se estiver de um lado só, deixar isso claro para o leitor.
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Biólogo, Piracicaba, SP