Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

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Cobertura superficial

A cobertura que os jornais brasileiros fizeram da reunião de cúpula do Mercosul, encerrada ontem em Montevidéu, pode ser considerada pífia.

Nada mais do que a reprodução dos discursos, a descrição de algumas cenas do encontro, e nenhuma informação sobre o estado das negociações.

Os jornais brasileiros ainda se impressionam com bravatas do venezuelano Hugo Chavez contra os Estados Unidos.

Num momento em que o Brasil, país líder do bloco, enfrenta um profundo corte na previsão de receitas por conta da extinção da CPMF, quando Chávez faz o rescaldo da derrota no plebiscito e quando o boliviano Evo Morales enfrenta uma grave crise institucional, é pouco o que foi oferecido hoje aos leitores.

Também se falou pouco sobre a crise nas relações entre a Argentina e o Uruguai, por causa da instalação de uma fábrica de papel perto da fronteira entre os dois países.

Basicamente, o noticiário apenas faz referência aos afagos do uruguaio Tabaré Vásquez à argentina Cristina Kirchner.

Os jornais souberam fazer muito bem a descrição do clima do encontro, mas não se preocuparam em atualizar o leitor quanto ao estado do processo de integração regional.

Além disso, era de se esperar que os líderes do Mercosul fizessem referência aos temas que preocupam cada um dos países.

Apenas o Globo fez uma citação, ainda que rápida, ao fato de que os presidentes reunidos ofereceram apoio ao boliviano Evo Morales no conflito com os Estados autonomistas.

Mesmo assim, nenhum dos jornais reproduziu o material distribuído por agências internacionais, nos quais fica claro que o Mercosul não apoiará um movimento de sedição na Bolívia.

Trata-se de um detalhe importante para o leitor entender o alcance da crise interna boliviana.

Mas os jornais brasileiros já tomaram partido e não parecem interessados em esclarecer.

Na cobertura dos temas latino-americanos, a imprensa brasileira passa a impressão sutil de que, no fundo, preferia ter vizinhos menos… latino-americanos.

Novidades na TV

O advento da TV digital traz uma grande oportunidade para o Brasil repensar o sistema de concessão de canais de radiodifusão, por causa do impacto da nova tecnologia nos processos de produção e distribuição de conteúdos.

Mas o caminho da democratização da comunicação precisa ser pavimentado com ajuda da imprensa.

Iniciativas nesse sentido, que eventualmente surgem no Congresso, deveriam receber mais luzes da mídia.

Luiz Egypto:

Um sinal alvissareiro sobre a política de concessão de canais de radiodifusão foi dado na quarta-feira passada, quando uma subcomissão especial da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara aprovou o relatório da deputada Maria do Carmo (PT-MG), que estabelece novas normas e procedimentos para a tramitação dos processos de outorga e renovação dessas concessões.

Embora muito bem-vindo por suas proposições democratizantes, o relatório ainda deve percorrer caminhos espinhosos. Primeiro, precisa ser aprovado pela própria Comissão, cujo plenário abriga vários parlamentares radiodifusores. Depois, aceitar suas recomendações implicará a aprovação de três Propostas de Emenda Constitucional (PEC) e um projeto de lei, além do desarquivamento de outras iniciativas que dormitam nas gavetas do Legislativo. Um projeto da ex-deputada Jandira Feghali, por exemplo, que estabelece critérios para a regionalização da produção de TV e porcentuais de veiculação de produção independente, foi aprovado pela Câmara em 2003 e até hoje está parado no Senado.

Sempre resta a esperança de que nossos parlamentares  se convençam, de uma vez por todas, que o aprimoramento da democracia depende de uma comunicação democrática. Mas está difícil.

Clique aqui para conhecer o relatório da deputada Maria do Carmo.