Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

  Programa 460
>>Cultura da violência
>>Ainda o clamor social

Cultura da violência


Mídia e Congresso se parecem muito nas tentativas erráticas de seguir uma sociedade que pena para obter a melhoria de políticas públicas. Hoje o Globo registra o que chama de guerra de egos no Congresso em torno da paternidade de leis que endurecem punições. É quase impossível “endurecer” ainda mais as condições em que se dá a privação de liberdade no Brasil. Nos últimos dias saíram notícias sobre menores que assassinaram pais e avós. Trata-se de uma cultura da violência. Esse é o principal desafio.


Ainda o clamor social


Alberto Dines questiona a posição do presidente Lula no debate sobre violência.


Dines:


– Os comentaristas políticos estão afirmando que o Congresso está aprovando a sucessão de medidas para reforçar as penas porque está sensível ao “clamor social”. Mas os comentaristas sabem que que estão lidando com uma abstração. O “clamor social” manifesta-se nas ruas e nas praças, mas no caso do menino João Hélio Fernandes, o clamor social está sendo captado principalmente através dos meios de comunicação. E por que razão o Congresso desta vez resolveu ouvir o clamor social? Simplesmente por que é um congresso recém-empossado e com a nódoa da tentativa de auto-aumento de 92% nos seus vencimentos. Mas por que razão o presidente Lula não ouve este “clamor social” se está na mesma Praça dos Três Poderes tão perto do Congresso? Difícil encontrar uma explicação para a atitude quase olímpica deste craque a comunicação que é o presidente Lula no trágico episódio. Sua mais expressiva manifestação foi na contramão do “clamor social”: preocupado apenas com a questão da maioridade penal, deu um categórico “não”, como se inexistissem outras medidas no repertório de ações para tornar mais rigoroso o cumprimento das leis. Lula parece contrariado com a dimensão deste “clamor social”, imaginava que esta semana seria ocupada apenas pelo PAC e não consegue esconder a sua contrariedade. Ou talvez tenha percebido que este “clamor social” está sendo vocalizado pela mídia e não queira passar a impressão de que está sendo agendado por ela. Qualquer que seja a explicação, este não é o Lula que empolga as multidões.



Movimento estudantil


Sinal alentador vem da participação em lúcidos protestos contra a violência, no Rio, de movimento estudantil organizado. Talvez essa seja a grande escola que ajude a formar cidadãos capazes de impedir a mídia e as autoridades de, quando aparecer o próximo assunto motor de audiência, esquecer fatos gravíssimos como o assassinato do menino João Hélio.


Direitos das crianças


Laura Mattos informa na Folha que o Ministério Público vai cobrar das Tvs a obediência à portaria que obriga a mudar horário de programa com fusos diferentes.


Álcool para menores


A Veja São Paulo desta semana publicou reportagem de Paola de Salvo que mostrou como uma maioria de casas noturnas da Zona Sul da capital paulista serve a menores bebidas alcoólicas de todo tipo. A revista contratou dois modelos de 14 e 15 anos, uma menina e um garoto, que, com consentimento dos pais e de sua agência, foram a bares e pediram bebidas, pagaram e se retiraram sem beber. De dez casas, sete serviram os adolescentes. Foi a maneira encontrada pela revista para divulgar a aprovação de uma lei proposta pela deputada estadual Maria Lúcia Amary que determina o fechamento de estabelecimentos que sirvam bebida alcoólica a menores de 18 anos, o que já é proibido há 17 anos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, ECA. O resultado da reportagem é inquestionável. Todos os donos dos bares foram ouvidos. Os faltosos reconheceram o erro. Mas não houve repercussão, como relata Paola de Salvo.


Paola:


– A repercussão foi nula. Praticamente nula. Para não dizer nula, eu recebi uma carta do pessoal que me forneceu dados, o Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool). Só eles comentaram a matéria, mais ninguém… Leitores, cartas, nenhuma. Só para fazer uma comparação, quando a gente divulgou aqui uma crônica do Walcyr Carrasco, sobre o cachorro dele que estava doente, prestes a morrer, foi o recorde de cartas. Então, não sei explicar isso. Por que isso não sensibiliza os leitores. Sinceramente, não consigo explicar.


Mauro:


– Paola de Salvo explica a motivação da reportagem.


Paola:


– Pela relevância do tema e porque os bares se localizam em locais freqüentados pelos leitores, e os pais dos adolescentes que freqüentam esses locais eventualmente se preocupam com isso, se justificou a pauta.



São Francisco


Volta ao noticiário a transposição do Rio São Francisco, sem que tenha sido melhorada a informação sobre o assunto.