O mundo visto pelos jornais
Os jornais tratam hoje da nova tentativa de acordo entre israelenses e palestinos, promovida pelo desacreditado presidente americano George W. Bush.
Apesar das declarações otimistas dos envolvidos, o noticiário não transpira animação.
Talvez o fato de o anfitrião não ser conhecido propriamente como um promotor da paz tenha alguma influência na visão da imprensa.
O melhor retrato do encontro foi feito pelo desenhista Cássio Loredano e publicado no Estado de S.Paulo. Mostra dois xifópagos, irmãos siameses, em posição de duelo.
Os jornais de hoje também noticiam a violência nas ruas de Sucre, na Bolívia, onde quatro pessoas morreram durante protestos contra a nova Constituição aprovada por iniciativa do presidente Evo Morales.
Está nos diários, da mesma forma, a morte de um homem durante manifestações contra a proposta de reforma constitucional do presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Também são notícia os choques entre policiais e moradores nos subúrbios de Paris, que começaram com a morte de dois adolescentes, atropelados por um carro da polícia.
Jovens filhos de imigrantes árabes e africanos voltaram às ruas, como em 2005. O protesto contra a polícia tem como pano de fundo a persistência do desemprego e das más condições de vida nos subúrbios pobres da capital francesa.
A semelhança entre os três acontecimentos é a insatisfação de parte da população com as políticas públicas de seus governantes.
Na América do Sul, protesta-se contra mudanças.
Na Europa, protesta-se pela falta de mudanças.
Os acontecimentos na Bolívia e na Venezuela são chamados de confrontos, protestos e manifestações.
Os acontecimentos nos bairros pobres de Paris são chamados de distúrbios.
Detalhes como esses ajudam a entender como a imprensa diária molda a visão de mundo dos seus leitores.
TV Pública e a mídia privada
A julgar pelos 15 membros do conselho curador da Empresa Brasileira de Comunicação, a futura TV pública vai nascer sob o signo da pluralidade.
Além de quatro ministros – o da Educação, da cultura, de Comunicação Social e o de Ciência e Tecnologia, o conselho terá o ex-deputado Delfim Netto, que foi ministro durante a ditadura militar, uma carnavalesca, um cantor de ‘rap, empresários, acadêmicos e especialistas em televisão.
A nova emissora terá um orçamento geral e 350 milhões de reais e ainda está em fase de formatação.
As transmissões começam já neste domingo, mas o governo prevê que ela estará inteiramente constituída só em março do ano que vem.
A Medida Provisória que cria a TV pública ainda não foi votada, mas a imprensa, quase que por unanimidade, vinha criticando a decisão do governo.
O ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, acha que a divulgação do diversificado conselho curador reduza o tom das críticas.
Os protestos da imprensa foram estimulados por parlamentares que também são donos de emissoras.
Mas os jornais não ligaram os dois fatos.
A criação da TV pública se insere no grande debate sobre a imprensa no Brasil.
Dines:
– Quem lê jornais no Brasil – só o cidadão com alto poder aquisitivo e título universitário? Neste caso, quem consome a chamada imprensa popular? Os dois segmentos defendem linhas diferentes ou são complementares? Qual a força do jornalismo escrito quando comparado com o radiofônico ou o jornalismo televisivo? E por que razão alguns governantes sul-americanos mostram-se tão avessos ao trabalho da imprensa? Não querem intermediários e, por isso, preferem falar diretamente com as massas? A força e as fraquezas da mídia impressa serão discutidas hoje à noite no ‘Observatório da Imprensa’. Às 22:40, ao vivo, pela rede Cultura e pela rede da TV-Educativa.