A indignação sai do buraco
Há um novo tipo de indignação no ar, depois de tanta frustração produzida entre jornalistas e na opinião pública pela ausência de punição dos implicados em escândalos que se sucedem desde o início do “mensalão”, em meados de 2005. É verdade que ainda não se respondeu à pergunta mil vezes repetida: de onde veio o dinheiro do valerioduto? Assim como não se sabe de onde saiu o dinheiro do dossiê Vedoin, no final de 2006.
Mas a mídia, que em alguns momentos parecia pregar no deserto, hoje volta a ser porta-voz de um sentimento de indignação popular cujas conseqüências políticas não devem ser subestimadas. Ontem, o Jornal Nacional, o mais importante noticiário do país, fustigou sem contemporizar o governo paulista, reduzindo a margem de manobra para tentativas de tirar o corpo fora em relação ao acidente do metrô.
Hoje, nos jornais, ao lado de muitas outras manifestações de crítica, Elio Gaspari resume, num título feliz: “O Apagão das Empreiteiras”. Que se soma, como Gaspari afirma, ao recente apagão das empresas aéreas.
Haverá muita manobra, pesará toda a tradição brasileira de sair pela tangente, governantes e empreiteiras usarão seus poderosos recursos para turvar o debate, mas há perguntas categóricas que é difícil contornar: por que as empresas avisaram seus operários e não pediram a interdição das vizinhanças da obra periclitante?
A insistência em fazer essa pergunta, hoje muito forte na mídia, indica que talvez algo de novo esteja surgindo na sociedade brasileira.
O desastre educacional
Alberto Dines fala do desastre que é a situação educacional precária constatada em avaliação da Ordem dos Advogados do Brasil.
Dines:
– A mídia paulista, como é natural, está angustiada com a cratera do metrô: o resgate dos corpos, o trabalho dos bombeiros e as aflições daqueles que foram obrigados a abandonar as suas casas criaram um vínculo de solidariedade que não é muito comum em cidades com estas dimensões. Já a mídia carioca está proibida de esquecer a guerra contra os bandos terroristas que ontem queimaram mais dois ônibus, desta vez na Mangueira. Com o governo em férias as páginas de política tentam animar a disputa pela presidência da Câmara que, afinal, apresentou a primeira novidade: o aparecimento de um candidato da terceira via. O horror em Bagdá toma conta das páginas internacionais enquanto o aquecimento global começa a ficar mais visível, mas não o suficiente, nas páginas de ciência. Assim, não sobra muito espaço nem muito tempo para encarar uma das situações mais chocantes do país. Das trezentas e vinte e duas faculdades de direito avaliadas pela OAB em todo país, apenas oitenta e sete podem ser recomendadas, pouco mais de um terço. Há estados, como Roraima, Amapá e Tocantins, que não conseguiram emplacar uma única faculdade nesta categoria. Este não é apenas um desastre educacional, é a matriz da corrupção, da ineficiência administrativa e, sobretudo, da nossa incapacidade para formar elites. A cratera revelada pela OAB não atrai as atenções da imprensa mas ela é tão grande, tão grande, que nela cabem todas as outras mazelas.
Nacionalizar a segurança
No Globo de hoje, Ilimar Franco diz que governadores do Sul e do Nordeste começam a se mexer para enfrentar possíveis reflexos de uma política de segurança hipoteticamente mais eficaz em São Paulo e no Rio de Janeiro. Está na hora de discutir seriamente a nacionalização do problema da segurança pública. Os Estados Unidos, onde as questões federativas têm o peso que se conhece, fizeram isso nas primeiras décadas do século passado.
O dossiê contra Álvaro Lins
No fim do ano, no Rio e em São Paulo, a mídia publicou com grande destaque acusações de corrupção contra o ex-chefe da Polícia Civil do Rio, Álvaro Lins, deputado estadual eleito. Mas jornalistas do Rio hoje reconhecem que será difícil, nos termos da denúncia feita, o processo contra Lins caminhar. O caso, tão recente e espalhafatoso, está inteiramente esquecido.
Severino, Aldo e a imprensa
Em entrevista ao Globo, o suplente de deputado federal Severino Cavalcanti, que já reinou na Câmara, aponta como defeito algo que pode ser uma virtude do atual presidente da Casa, Aldo Rebelo, o homem das metáforas bélicas. Diz Severino que Aldo “se acomodou muito com a imprensa. Ele tem medo. Faz o que a imprensa quer”. É lorota de Severino, claro, Aldo não faz isso, mas é manifestação útil para demarcar campos de opinião.