Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

>>Silêncio, estranho silêncio
>>O risco do retrocesso

Silêncio, estranho silêncio

A chamada Operação Satiagraha, que mereceu tantas páginas de jornais e revistas, foi oficialmente concluída.

O inquérito segue para a Justiça, sob um estranho silêncio da imprensa.

Nesta quinta-feira, apenas o Estado de S.Paulo registra que a Polícia Federal indiciou o executivo Roberto Amaral, mais um colaborador do dono do Banco Opportunity.

Agora são treze, oficialmente, os acusados de envolvimento em crimes de evasão de divisas, formação de quadrilha e outras falcatruas.

O personagem do dia, Roberto Amaral, é velho conhecido de jornalistas que cobrem a confluência da política com a área de negócios.

Ele costumava circular com desenvoltura pelos gabinetes de Brasília desde os anos 70, sendo apontado como lobista da construtora Andrade Gueierrez.

Durante o governo Fernando Collor, era dos personagens que entravam e saíam do gabinete presidencial a qualquer hora, mesmo sem ter seu nome anotado na agenda de audiências.

Foi grande amigo do notório tesoureiro de campanha do ex-presidente Collor, Paulo César Farias, lembra a reportagem do Estadão.

Se fosse do tipo falastrão, Roberto Amaral teria muitas histórias para contar.

Mas, ao que parece, não há muitas pessoas dispostas a ouví-lo.

Nem mesmo na imprensa.

Pois nada justifica os outros jornais terem ignorado o fato de que, com o indiciamento de Amaral, conclui-se o inquérito que a Polícia Federal batizou de Satiagraha.

O observador atento, que de tão atento pode até ser tido como chato, perguntaria: por que razão, depois de tanto escândalo sobre as práticas do delegado Protógenes Queiroz, que deu início e estruturou o inquérito, os jornais ignoram seu desfecho?

O indiciamento de Roberto Amaral foi feito há uma semana.

A publicação da notícia e da conclusão do inquérito parece ter sido resultado do interesse exclusivo do repórter, já que não há nem mesmo uma palavra de referência na primeira página do jornal.

O caso agora está na Justiça.

Daniel Dantas vai responder por cinco crimes: gestão fraudulenta, formação de quadrilha, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e operação irregular de crédito.

Terá a companhia de doze sócios e colaboradores.

Ele á foi condenado a dez anos de prisão, em primeira instância, por corrupção ativa.

E de repente a imprensa perdeu o interesse por ele.

O risco do retrocesso

Os jornais ignoraram, nesta quinta-feira, o julgamento da Lei de Imprensa no Supremo Tribunal Federal.

Para que não se diga que o assunto passou em branco, a Folha de S. Paulo fez um registro.

Alberto Dines:

– Não é apenas o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) que está empenhado em extinguir o que sobrou da Lei de Imprensa. Também o patronato jornalístico andou seriamente envolvido com a mesma causa, evidentemente por razões diferentes.

Mas no intervalo de 30 dias entre as duas votações no Supremo Tribunal Federal, ficou evidente que os jornalões arrefeceram o seu entusiasmo. Pesou a opinião de juristas de peso como Miguel Reale Jr. e Manuel Alceu Affonso Ferreira, que mostraram o perigo de se sepultar os 55 artigos que restaram do estatuto original da famigerada Lei de Imprensa sem se dispor de um instrumento legal substituto. Assim, todas as questões terão que ser resolvidas com base no Código Penal que jamais foi xingado de “entulho autoritário”, porém ostenta em seu DNA as marcas inconfundíveis do Estado Novo, criado que foi em dezembro de 1940 pelo reacionaríssimo ministro da Justiça Francisco Campos.

A votação marcada para hoje no STF não mereceu da grande imprensa qualquer destaque: nos últimos dias, Miro Teixeira ficou sozinho porque as empresas jornalísticas estavam mais incomodadas com a existência de uma lei específica para a imprensa do que com o estabelecimento de uma estrutura legal genuinamente democrática. Resultado: caso a Lei de Imprensa seja totalmente aposentada, no lugar de avanço poderemos ser levados ao retrocesso.

Fascinados por símbolos politicamente corretos muitas vezes somos levados a adotar soluções moralmente injustas.