A pergunta do título, na estrofe tropicalista, expressava uma angústia então nascente entre os nascidos e criados junto com a indústria cultural brasileira, e busca respostas no século 21. O último estudo patrocinado pela Universidade de Colúmbia sobre o atual estado das coisas na imprensa dos EUA, comentado neste Observatório (20/3) por Luciano Martins Costa [ver remissão abaixo], não traz novidade.
Espremidos entre velhas dívidas e novos donos, esvaziados de conteúdo e identidade, jornais e programas jornalísticos perdem cada vez mais público, receita e pudores. Em lugar de respostas, mais perguntas: haverá jornalismo amanhã, na era pós-Murdoch, pós-Tanure, pós-internet?
Mesmo na rede mundial, a vida continua sendo cruel, e o jornalismo independente, engajado e ambicioso, necessário nestes tempos de ‘tantos demônios para exorcizar’, cada vez mais é uma hipótese descartável pelo capital.
Também aqui no OI (20/3), a jornalista Bia Moraes [ver remissão abaixo] sugere que as respostas para a crise da imprensa estarão com o público – no futuro. Uma espécie de consumidor não-passivo, nascido e criado em meio à super-oferta de informação digital, dará o tom e o rumo dos produtos informativos. Mas a pergunta não cala: serão produtos jornalísticos? Está sendo formado um público para eles?
Algum jornal
Enquanto isso, multiplicam-se os títulos. É o caso da atual safra de tablóides cariocas, na disputa das famílias Globo e O Dia por um leitor que não existe, mas que pode ser criado se ele decidir optar por um exemplar do Meia Hora ou do recém-lançado Expresso em lugar de um cafezinho daqueles de R$ 0,50. São publicações tão parecidas em formas, cores, pautas e intenções que fica difícil a escolha. Ainda mais se envolvidos o Extra – o preto-e-vermelho básico global – e O Dia, que tenta sair de seu nicho ‘popular’, sem abandonar a cobertura rotineira de crimes, futebol e televisão.
Na coletiva de lançamento do Expresso, o diário dói definido pelos executivos da Infoglobo como um modelo ‘compacto’, diferenciado dos jornalões e dos tais populares. Segundo relata o Blue Bus (27/3), eles calcularam entre 45% e 69%, respectivamente, os integrantes das classes C e D que não lêem jornal por falta de tempo ou dinheiro ou pela concorrência do jornal com outros produtos de consumo.
Já sabendo a quem vender e por quanto, falta convencer o consumidor. Como sempre, a propaganda será a alma do negócio. Quanto ao negócio em si – a notícia, ou o que for embrulhado em papel no lugar dela –, tanto faz. Ninguém lê tanta notícia, nem precisa. Desde que compre algum jornal ou deixe de comprar o do concorrente.
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Jornalista