O tamanho do Estado
A semana chega ao fim e a imprensa foge do debate central que deverá marcar as reuniões de dirigentes mundiais até o começo de abril.
O primeiro encontro será realizado amanhã, entre os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos.
Depois, segue-se uma sucessão de reuniões de ministros de vários países, até a do G-20, que colocará em torno da mesma mesa representantes dos sete países mais ricos e os chamados países emergentes.
O Brasil apóia a proposta do presidente americano, Barack Obama, de promover o relançamento da economia mundial em novas bases, com forte apoio de recursos públicos.
Mas também concorda com a proposta da União Européia, de tornar mais rigorosas as regras de controle da economia global.
Como pano de fundo dessa negociação encontra-se a questão do tamanho do Estado e de suas funções no longo prazo.
Para alguns dos protagonistas desse debate, o Estado deve intervir na emergência e preparar uma saída rápida, para preservar a independência dos mercados.
Para outros, a crise gerou a oportunidade para rediscutir justamente a independência dos mercados e colocar os negócios sob maior supervisão de organismos representativos da sociedade.
O modelo brasileiro de intervenção na crise, que será levado ao encontro do G-20, é o da ação através de bancos estatais para estimular a economia e provocar a concorrência dos bancos privados pela concessão de créditos à produção e ao consumo.
A proposta brasileira é complementada pela tese de que o mundo precisa de um novo sistema de governança, mais amplo, que tire o mando das mãos das superpotências e funcione como um colegiado, incluindo os emergentes.
Os jornais observam hoje que o comércio global pode sofrer uma queda de até 17% neste ano.
As medidas protecionistas com que alguns países reagiram logo após a eclosão da crise acabou agravando a situação geral.
Da mesma forma, as experiências dos países ricos para recuperar os gigantes financeiros abalados por fraudes e má gestão de recursos não conseguiram produzir um mínimo de estabilidade.
Abril será um divisor de águas, mas a imprensa ainda não conseguiu apresentar aos leitores um quadro esclarecedor de tudo que está em jogo.
A volta do Fenômeno
A ironia dos fatos foi levantada pelo técnico da Seleção brasileira, ao lembrar que há poucos meses a imprensa demonizava o jogador Ronaldo Nazário, considerando-o acabado para o futebol.
A euforia despertada pelo seu desempenho no Corinthianas leva ao ponto extremo, e muitos jornalistas já defendem sua convocação para as eliminatórias da Copa do Mundo.
Entre um ponto e outro desse comportamento, onde deveria se situar o jornalismo esportivo?
Alberto Dines:
– A mídia está encantada com os dois desempenhos de Ronaldo, o camisa 9 do Corinthians. Mais uma façanha, mesmo irrisória, e este senhor estará sendo rebatizado como Fenômeno. A missão do torcedor é torcer, delirar. Ao jornalista cabe não distorcer, usar a razão e o discernimento. Há um ano, Ronaldo estava sendo tratado como a Geni da canção de Chico Buarque. Nesta reviravolta há, certamente, um toque de solidariedade. A recuperação de um ser humano é sempre auspiciosa, sobretudo quando se trata de um ídolo. E, sobretudo, quando este ídolo é corinthiano. Estas súbitas mudanças de humor dos jornalistas esportivos – felizmente não todos – mostram como é diferente o universo futebolístico. O jornalista político geralmente dá preferência aos fatos negativos, pois acredita que através deles pode levar o eleitor – espécie de torcedor – a optar por mudanças. Já o jornalista esportivo, geralmente, prefere o clima da euforia. Corrupção no mundo da cartolagem, mediocridade na seleção nacional e campeonatos inexpressivos, são fatos que não animam os editores das páginas de esporte. A preferência é pela euforia. Já o mundo da política vive da realidade e das suas mazelas. Como no mundo dos negócios: a prisão em Nova York do trapaceiro Bernard Madoff e a possibilidade de ser sentenciado a 150 anos de prisão fizeram a alegria de uma legião de investidores. Inclusive no Brasil.