Tricentésimo programa
Este é o programa de número 300, agora com transmissão por duas emissoras AM e quatro FM, além da colocação do áudio nos sites do Observatório da Imprensa e do IG (só navegador Explorer). A todos os ouvintes (e leitores) e colaboradores, o nosso muito obrigado.
Porteira fechada
Os dois jornais mais influentes de São Paulo atribuíram razões opostas à saída de Roberto Rodrigues do Ministério da Agricultura. Segundo a Folha, foi pressão de ruralistas. Na versão do Estado, a pressão foi do presidente Lula, que desejaria submeter a Agricultura à lógica da disputa eleitoral. Certamente houve as duas pressões.
Reportagem de Raymundo Costa, do Valor, sobre os desdobramentos da saída de Rodrigues, diz que o PT quer aparelhar o ministério da Agricultura. E que o PMDB, de olho no Ministério da Saúde, prefere esperar o resultado do primeiro turno, que lhe dará grande bancada, para negociar cargos num segundo mandato de Lula. O PMDB quer mais ministérios, e ministérios de “porteira fechada”, ou seja, “com a condição de poder indicar livremente os nomes para o segundo e o terceiro escalão”.
Futebol é paixão, jornalismo é razão
Alberto Dines toma como ponto de partida uma análise da maneira como o Jornal Nacional mascarou, anteontem, o mau desempenho da Seleção brasileira.
Dines:
– Um adendo ao seu justo comentário de ontem sobre a cobertura da Copa: a maioria dos jornalões nacionais e dos jornais populares do Rio e São Paulo comemorou com uma forte dose de ceticismo a vitória do Brasil contra Gana. Isto é um dado novo e muito positivo no panorama jornalístico brasileiro. Estamos aprendendo a usar o olho crítico. Nossa imprensa, enfim, começa a perceber que o papel dos jornalistas, inclusive esportivos, não deve confundir-se com o dos torcedores que vão para rua comemorar qualquer coisa. Futebol é paixão, mas o exercício do jornalismo exige o uso da razão. Razão e distanciamento. O gol de Adriano foi colocado sob suspeição segundos depois de ser marcado. Isto é inédito num país onde o juiz só era chamado de ladrão quando prejudicava nossa camisa. Bom sinal: falta agora ensaiar isenção em outras esferas.
Radiodifusão sem lei
Ontem, em seminário da Comissão de Participação Legislativa da Câmara, a convite do deputado Geraldo Thadeu (PPS-MG), o Observatório da Imprensa voltou a pedir que o Congresso examine a situação dos parlamentares que detêm indevidamente concessões de radiodifusão, o que é vedado pela Constituição. O presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, Sérgio Murillo de Andrade, disse que 40% das concessões de radiodifusão funcionam em caráter precário. Gustavo Gindre, coordenador do Instituto de Estudos e Projetos em Comunicação e Cultura, Indecs, cobrou renovação do Código Brasileiro de Telecomunicações, em vigor há 44 anos.
A confusa comunicação pública
O presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, ilustra a necessidade de se modificar a situação confusa da comunicação pública no Brasil.
Bucci:
– Um dos maiores desafios futuros, mas para o futuro imediato, no Brasil, é a organização da chamada comunicação pública. Hoje nós temos televisões e rádios, regidas pelas mais diversas formas jurídicas. Fundações de direito privado, fundações de direito público, organizações sociais, empresas públicas, e alguns departamentos diretamente vinculados ao poder do governo, que cumprem mais ou menos a função de comunicação pública. Isso só pode ser resolvido no bojo de uma Lei Geral de Comunicação, que, no mundo dos sonhos, deveria estar acoplada à discussão de TV digital e rádio digital no Brasil.
Esta solução poderia estabelecer um parâmetro universal. É preciso distinguir no Brasil, dentro do grande guarda-chuva, avariado, hoje, da comunicação pública, o que é comunicação institucional, diretamente voltada para fazer a vinculação do que acontece num poder com o público – o exemplo é TV Justiça, TV Senado, TV Câmara, NBR –, e o que é comunicação pública, voltada a oferecer para o público educação, informação e cultura sem critérios comerciais, sendo, portanto, um espelho diferenciado em relação àquilo que faz a comunicação comercial.
Crônica de guerra
As notícias do combate entre a segurança pública paulista e o PCC entram em ritmo de crônica de guerra. Os criminosos reagem a perdas. O papel de alguns advogados está sendo desmascarado.