Veja quer o governo
A revista Veja lançou seu candidato à vice-presidência da República em 2010.
A entrevista com o senador peemedebista Jarbas Vasconcelos não sairia mais adequada à posição política adotada pela revista – e pela maioria da imprensa brasileira – se tivesse sido produzida pela assessoria de imprensa do próprio senador.
Mas o resultado da operação, por enquanto, é nulo.
Apesar de algumas notas publicadas no final de semana, aquilo que deveria ser uma jogada bombástica vai se diluindo na geléia geral da política, como diz hoje nos jornais o outro ícone da moralidade, o senador Pedro Simon.
O que Jarbas Vasconcelos disse à Veja não constitui novidade.
A novidade é um senador dizer que a maioria dos integrantes do seu partido só pensa em ganhar dinheiro com a corrupção – e não ser expulso do partido.
Pois, segundo os jornais de hoje, o PMDB deve imaginar uma punição a Jarbas Vasconcelos mas não deverá lhe dar de presente a expulsão, que o colocaria no palanque para a eleição presidencial de 2010.
Até mesmo o senador Pedro Simon, tido como a grande reserva moral do partido, minimizou as declarações de Vasconcelos, dizendo que a corrupção está presente em outras agremiações, citando PT, PSDB, DEM, PPS e PTB.
Então, qual é a jogada?
O lance de Veja é apresentar Jarbas Vasconcelos como a última flor no lodaçal do PMDB, capaz de grudar o maior partido do Brasil a um projeto político diferente do atual governo.
Na resposta à última pergunta da entrevista, como se estivesse cumprindo o roteiro de sua assessoria de imprensa, o senador pernambucano afirma que não tem mais gosto de seguir disputando cargos na política, exceto se viesse a ser engajado na candidatura do governador de São Paulo, José Serra, à presidência da República.
Acontece que, isolado, ele pouco acrescentaria à candidatura da oposição.
Aquilo que poderia ser uma bomba a rachar o PMDB acaba tendo um efeito nulo.
Os lideres do partido, entre eles o presidente do Senado, José Sarney, citado pessoalmente na Veja, se fingiram de mortos.
E o próprio Jarbas Vasconcelos, procurado por jornalistas para especificar os casos de corrupção a que se referiu na entrevista, disse que não acrescentaria mais nada.
Para os leitores que se entusiasmaram com as declarações fortes do senador, fica apenas o eco dos rojões.
Sem acusações concretas, fica a sensação de mais um factóide. Pirotecnia política.
Xenofobia e afobação
A imprensa se afobou e as autoridades brasileiras se precipitaram no caso da jovem advogada que denunciou ter sido atacada por neonazistas na Suíça.
A notícia controversa foi dada como verdadeira, em primeira mão, pelo blog do Globo online em Brasília, na quarta-feira passada.
Toda a imprensa embarcou na história.
Só na sexta-feira a TV Globo colocou em dúvida a versão da jovem.
O caso mistura xenofobia de verdade, emocionalismo e pouca disposição para investigar.
Enganada por sua própria afobação, a imprensa pode inverter os sinais.
Alberto Dines:
– Nada há de definitivo sobre as denúncias de Paula Oliveira contra os neo-nazistas suíços que a teriam atacado. Médicos garantem que ela não abortou, a polícia acha que os ferimentos teriam sido auto-infligidos.
Mesmo assim diversos articulistas dos jornalões de ontem tentaram diminuir a importância desta reviravolta. Um deles afirmou que esta era uma questão secundária porque o caso de Paula Oliveira é ‘verossímil’ numa Europa conturbada pela violência política.
Outra colunista admitiu que Paula pode ter errado mas ‘o erro maior está lá, na Europa’.
Vamos com calma: a União Européia não esconde a sua preocupação com a xenofobia e o racismo. O erro maior é mentir, inventar, criar um caso diplomático e produzir um vexame internacional. Erro maior é uma imprensa que não investiga antes de denunciar. Erro maior cometem as autoridades que botam a boca no trombone antes mesmo de averiguar o que se passou.
A verdade é que a xenofobia européia e a anti-xenofobia brasileira estão ficando muito parecidas. A emoção nunca pode substituir a razão.