Ir além do circo da notícia
Na semana curta que decola hoje, a oposição no Congresso continuará a querer esclarecer o episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, além de acossar pessoas próximas ao presidente Lula, o empresário Roberto Teixeira e o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
De outro lado, o governo fará grande escarcéu publicitário em torno da auto-suficiência em petróleo.
Mais adiante surgirão novas pesquisas de intenção de voto, onde se colherão os efeitos desses esforços contrários.
E as formações políticas farão novos ajustes.
É um cenário medíocre. A mídia, para se desgrudar disso, precisaria fazer um esforço extraordinário que ainda não está em seus planos.
Debater os grandes desafios
Episódios criminosos desgastam os símbolos maiores do poder no país há mais de dois anos, desde que Waldomiro Diniz foi flagrado pedindo propina a um bicheiro.
A campanha eleitoral promove e promoverá muito mais, de todos os lados, a fragilização da imagem dos principais líderes políticos, nos planos federal e estaduais.
Ainda não existe projeto articulado alternativo às propostas pobres que os partidos apresentam.
Mesmo que os candidatos não ofereçam respostas claras aos desafios brasileiros, a imprensa precisa formular perguntar claras. E pode usar a internet para ouvir as preocupações de um número grande de cidadãos.
Isso ajudará a fazer escolhas em outubro com base em critérios menos superficiais.
Salvação da Varig
Alberto Dines aponta incoerência na posição, majoritária entre os veículos de comunicação, de crítica a um auxílio governamental para salvar a Varig.
Dines:
– Ficou claro nas edições de jornais e revistas deste fim de semana que não é apenas o governo federal que não quer meter-se ou comprometer-se com a salvação da Varig. A mídia em coro está afirmando a mesma coisa ao enfatizar a capacidade do mercado de absorver os eventuais traumas decorrentes do fechamento da tradicional empresa. A mídia obviamente é mercadista, defensora da livre-iniciativa, contrária a qualquer intervenção do Estado. O que é uma grande asneira em casos de emergência como este. Além disso, a mídia esquece que, há dois anos, quando estava apertada, com a língua de fora, ela propôs ao governo uma linha de crédito especial através do BNDES. Era dinheiro do Estado para ajudar empresas privadas. Exatamente o que se pretende agora. Quando em 1995 o governo criou o Proer para salvar os bancos, a mídia apoiou com entusiasmo. Foi uma solução criativa que usou recursos do mercado financeiro para evitar uma corrida aos bancos.
O mercado aéreo brasileiro não tem condições de atender a todas as rotas nacionais ou internacionais nem a todos os compromissos assumidos pela Varig com os seus clientes. Além disso, a mídia está fazendo um péssimo negócio ao achar que apenas o mercado produzirá uma solução num passe de mágica. Premidos pela grande demanda os sucessores da Varig tão cedo não gastarão um tostão em publicidade.
Denúncia não garante condenações
A Veja desta semana diz que na denúncia do procurador-geral da República há assuntos que ficaram de fora porque isso faz parte da técnica da promotoria. Segundo a Veja, pelo menos um envolvido no “mensalão”, Lúcio Bolonha Funaro, estaria colaborando com o Ministério Público Federal.
O ouvinte Jorge Xavier, de Brasília, oferece uma outra visão. Diz que a procuradoria não dispõe nem de estrutura, nem de cultura investigativa para produzir provas capazes de condenar os 40 denunciados.
No caso do massacre de Eldorado dos Carajás, passaram-se dez anos, só um coronel e um major da PM foram condenados, mas esperam em liberdade o julgamento de recursos.
Fora do gasoduto
A Gazeta Mercantil informa nesta segunda-feira, 17 de abril, que a Petrobrás poderá importar gás liquefeito da Nigéria e de Trinidad e Tobago como alternativa ao gás boliviano. Se o governo não tomar cuidado, poderá acontecer com o gás o mesmo que aconteceu com o álcool em 1989: desabastecimento. O Globo noticia que a frota brasileira de veículos movidos a gás já passa de um milhão de carros e cresce mais de mil unidades por dia.
Copom vira rotina
Caiu na rotina a reunião mensal do Comitê de Política Monetária para deliberar sobre taxa de juros.
Austeridade à prova
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, emite hoje em entrevista ao Valor sinais positivos quanto à disposição do governo de manter a austeridade fiscal. Mas o Estadão mostra em manchete como os governos conseguem driblar as leis que limitam gastos com funcionalismo.
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