A batalha do Banco Central
A conversa do presidente Lula com jornalistas, ontem, não pode ser reduzida a um único ponto, mas a declaração que vai repercutir nos próximos dias é sobre a manutenção da equipe econômica, no mesmo momento em que caía o diretor de Política Econômica do Banco Central, Afonso Bevilaqua. Na Folha, especula-se que a chamada linha desenvolvimentista do PT tentará influir na sucessão de Bevilaqua. O Estadão, como a atenuar o impacto da notícia, publica a lista dos diretores que saíram do BC desde 2003.
Lula disse que não pretende terceiro mandato sucessivo. Ninguém perguntou se ele pensa ou não em 2014.
Em defesa da mídia
Alberto Dines critica entrevista dada ao Observatório da Imprensa pelo professor Fábio Wanderley Reis.
Dines:
– Na entrevista do cientista político Fábio Wanderley Reis ao site do Observatório da Imprensa ontem, ele acusa a mídia e a academia de se entrosarem num coro que tem muita indignação, mas pouco estudo sério. O emérito professor comete uma injustiça e dois equívocos. A função da imprensa é justamente esta de vocalizar a indignação, isso vale para a imprensa brasileira ou qualquer outra num estado democrático. Pretender que a imprensa produza “estudos sérios” todos os dias é ignorar a sua função de noticiar o que aconteceu. A imprensa faz as primeiras avaliações. Quem tem obrigação de produzir estudos sérios é a academia. E se a academia hoje está mais empenhada em produzir brigas do que debates sérios – como mostrou o professor Renato Janine Ribeiro um dia antes, em nosso programa de TV – a culpa não é da mídia mas da academia. É verdade que certos setores da nossa imprensa, como os semanários de informação, perderam qualidade. Os analistas de política ou economia obrigados a produzir três ou quatro comentários por dia às vezes escorregam na ligeireza. Mas as edições de domingo dos grandes jornais brasileiros oferecem excelente material para reflexões, como lembrou recentemente o jornalista Luis Weis em nosso site. A mídia produziu o milagre de manter a sociedade mobilizada ao longo de um mês inteiro em torno da questão da violência e obrigou a classe política a encarar esta questão com um senso de urgência incomum. Quem ainda não conseguiu fazer coisa alguma é o governo. Mas esse é um mistério que o professor Fabio Wanderley Reis poderia nos ajudar a esclarecer.
Repressão não é o que resolve
Quem destacou o tema da conexão um tanto estéril entre mídia e academia fui eu, Mauro Malin. Não se trata de pretender que a imprensa produza estudos sérios todos os dias, mas de cobrar da academia trabalhos com maior profundidade. Hoje, existe uma inversão: a mídia, vale dizer a busca da celebridade, pauta algumas manifestações da academia.
Quanto à posição do governo, acho-a prudente. Desde a redemocratização, os governos federais sempre procuraram se esquivar da questão da criminalidade – e o atual não foge à regra, embora alardeie o contrário. Mas não acredito que leis mais duras ajudem o Brasil a enfrentar os problemas da criminalidade violenta.
Deputados e radiodifusão
O repórter Ricardo Taffner escreveu para o site Congresso em Foco a reportagem “Donos de rádio e TV ocupam comissão estratégica na Câmara”. É uma situação que o Observatório da Imprensa denuncia há anos.
Taffner:
– Algumas iniciativas agora se tornam novidades. No final do ano passado teve a comissão para avaliar as concessões, as renovações, mas ainda é meio tímida essa movimentação, até porque a maioria dos deputados acham que não existe conflito, que não existe problema. O único problema seria se, no momento de renovar a própria concessão, aí o deputado teria que se ausentar. Tirando isso, não haveria conflito de interesses.
Mauro:
– Não se trata apenas de formalismo legal. A discussão sobre propriedade dos meios de comunicação é política e diz respeito muito diretamente ao funcionamento da democracia.
Taffner:
– É uma questão política, uma questão ética, também. Mas eu não sei se esse debate avança. Até porque a própria mídia não tem contribuído para o debate. Ainda não existe um debate mais acalorado sobre essa questão. Acho que era necessário a mídia entrar um pouco mais forte nessa questão, para ver se a opinião pública, a própria sociedade começa a cobrar isso. Porque o parlamentar só se mexe quando existe uma cobrança da sociedade. E, felizmente ou infelizmente, quem consegue passar isso para a opinião pública é a própria mídia. Então, tem que ter uma parceria aí.