Finanças de campanha
Vira e mexe recai-se na mesma fonte de problemas políticos: o financiamento de campanhas eleitorais. Hoje o Painel da Folha informa que um documento sobre caixa dois na campanha eleitoral de Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais em 1998 envolve 12 partidos. O Estadão noticia que a CPI dos Correios rastreou a passagem de 377 milhões de reais por uma conta da empresa do publicitário Duda Mendonça. Aí já não se trata de campanha, mas de benesses conquistadas pelo marqueteiro vitorioso.
Relação conflituosa
O Alberto Dines diz que se o presidente Lula continuar às turras com a imprensa, haverá mais tensão ainda em futuras entrevistas.
Dines:
– O presidente da República levou seis meses para reconhecer de forma inequívoca que recebeu uma facada nas costas dos companheiros do PT. Isso aconteceu ontem à noite, no Fantástico. O presidente levou três anos para admitir que não poderia continuar malhando a imprensa sem encará-la francamente numa entrevista coletiva ou exclusiva. Felizmente capitulou. Quando premido pelas confissões do marqueteiro Duda Mendonça, o presidente Lula fez um pronunciamento admitindo que foi traído. Meses depois, recebeu Paulo Markun com seus antecessores do Roda Viva e ontem respondeu ao razoável cerco de Pedro Bial, do Fantástico.
Estamos, portanto, na estaca zero. Em algum momento o presidente precisará dizer quem o esfaqueou. E não pode esperar pelas conclusões da CPI. O esfaqueador ou esfaqueadores terão que ser reconhecidos em outras entrevistas para jornalistas responsáveis, com direito a réplicas e tréplicas. Mesmo que o presidente Lula pretenda utilizar a imprensa como palanque eleitoral como o fez ontem no Fantástico é indispensável lembrar no momento em que começa o seu ano decisivo, que o fenômeno Lula foi um fenômeno midiático. Se continuar massacrando a imprensa como tem feito ultimamente, as próximas entrevistas serão fatalmente mais penosas para o entrevistado do que foi a de ontem no Fantástico.
Dirceu com Paulo Coelho
A assessoria de imprensa do ex-ministro José Dirceu funcionou a todo vapor na passagem de ano. Emplacou a mesma nota, com pequena variação de detalhes, na coluna de hoje de Ancelmo Gois, no Globo, e no Painel da Folha. A nota tem sabor de Paulo Coelho, de quem Dirceu é hóspede na França.
Dirceu faz o dever de casa de toda personalidade que pretende se manter à tona. A mídia acolhe.
Num registro menos frívolo, o ex-ministro e ex-deputado tinha dado em São Paulo, antes de viajar, entrevista ao jornal Página 12, da Argentina, publicada no dia 31. Está na Folha de hoje. Dirceu insiste na tese do complô da mídia. Diz que Fernando Henrique Cardoso e o PSDB se aproveitaram da investigação sobre corrupção para desdobrar uma estratégia de desestabilização, com a ajuda da imprensa de São Paulo.
Cuidado com a histeria
Em entrevista ao jornal Valor desta segunda-feira, 2 de janeiro, o professor Renato Lessa, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Iuperj, dá uma boa sugestão de critério para a cobertura jornalística neste ano eleitoral. Ele diz que a campanha poderá resvalar para a histeria ética sem que questões de conteúdo sejam tratadas. Se a imprensa se deixar levar pelos mais baixos instintos dos partidos engalfinhados, e dela própria, é isso que vai predominar. E o resultado será maior desgaste do sistema representativo.
Lessa trabalha também com a idéia interessante de que o presidente da República, desde Fernando Collor, virou uma espécie de relações públicas do governo.
Só problemas, sem soluções
O Estadão abriu o ano com uma bela cacetada na demagogia em torno de moradores de rua. O editorial “Parasitas da mendicância”, de ontem, critica o espaço dado na mídia a pessoas que jamais apresentam soluções para os problemas, apenas tratam de impedir que eles sejam minorados. O editorial foi suscitado pela construção de uma rampa “antimendigos” num acesso à Avenida Paulista a partir da Doutor Arnaldo.
Faltou dizer que as autoridades também não têm nem um esboço de política consistente para o problema, limitando-se a enxotar, ou tentar enxotar, alguns grupos mais conspícuos, como o da passagem de acesso à Paulista.