Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A revolta das mídias sociais
>>Precisa-se de jornalistas

A revolta das mídias sociais


Os jornais produzem nesta quarta-feira um pequeno mosaico sobre as tecnologias digitais e sua relação com a comunicação jornalística.


Nada muito revelador, apenas alguns registros para serem acrescentados à coleção de informações que ajudam a entender este período de transição em que vivemos.


Em algum ponto no futuro, pesquisadores poderão usar as informações de hoje para desenhar um retrato do mundo nesta segunda década do século 21. 


Os jornais dizem, por exemplo, que no Brasil já se pode pagar contas e até confessar pecados através do telefone celular.


O uso do confessionário online, que custa R$ 1,99, é feito através de um aplicativo do iPhone aprovado pela igreja católica.


Também há uma pesquisa, publicada no Estado de S.Paulo, dizendo que as mídias sociais ainda são totalmente pautadas pela mídia tradicional, funcionando basicamente como caixas de ressonância do que sai na velha imprensa.


O estudo, intitulado “Verdades, Mentiras & Mídias Sociais”, foi realizado pela agência de publicidade JWT e demonstra, segundo o Estadão, que as mídias sociais sofrem grande influência das mídias tradicionais e que o contrário não acontece, ou seja, jornais, rádio e TV não costumam ser pautados pelo Twitter ou o Facebook.


A observação é interessante mas pode induzir a conclusões perigosas: como se sabe, uma das principais características dos novos meios é a capacidade de mudar repentinamente os hábitos de seus usuários.


Além disso, como se pode afirmar que um colunista ou editor de jornal não é informado por mensagens que recebe através dos meios digitais?


Observe-se, por exemplo, que a revolta no Egito foi organizada através das redes sociais online e que, até agora, os meios digitais cumprem importante papel na guerra midiática contra o governo, apesar da grande exclusão digital no país – apenas 20 milhões dos 80 milhões de egípcios têm acesso à internet.


Enquanto a internet esteve bloqueada, os jovens manifestantes produziam imagens das manifestações através de seus celulares e entregavam cópias para jornalistas estrangeiros.


Dessa forma, conseguiram furar o isolamento midiático que o governo tentou impor ao país.


Um dos mentores da revolta foi o diretor de Marketing do Google para o norte da África e o Oriente Médio, Wael Ghonim, tratado como herói pela multidão ao ser libertado da prisão.


Os fatos no Egito mostram que a mídia digital não apenas funciona como veículo de informação – também pode ser usada como meio de expressão amplo e irrestrito da vontade e da opinião das pessoas.


Essa é a diferença em relação às mídias tradicionais, que funcionam em mão única.


Precisa-se de jornalistas


Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:


– O mercado digital foi sacudido anteontem com o anúncio da compra do site jornalístico Huffington Post pelo gigante de internet America Online – pela bagatela de 315 milhões de dólares. O primeiro, considerado de esquerda nos Estados Unidos por sua proximidade com o ideário do Partido Democrata, além de produzir conteúdo próprio funciona como uma espécie de federação de blogs e é tido como um exemplo da viabilidade econômica do jornalismo digital. Criado em 2005 pela ex-socialite Arianna Huffington, com um investimento de 35 milhões de dólares, o site viveu um crescendo de popularidade e começou a dar lucros já no ano passado.


De sua parte, a America Online, que cresceu como provedora de acesso à internet, detém o quinto lugar no ranking americano de audiência, investiu pesado em entretenimento e carrega a história de uma polêmica fusão com o grupo Time-Warner, em 2000, que durou nove anos e acarretou prejuízos mútuos.


Agora, sob o comando de um ex-executivo do Google, America Online decide agregar credibilidade jornalística à marca atraindo para o seu guarda-chuva o site jornalístico mais bem sucedido dos Estados Unidos, que em dezembro passado contabilizou 25 milhões de visitantes únicos. O Huffington Post previa para este ano receitas de 65 milhões de dólares.


Um dos desdobramentos do negócio é a assunção de Arianna ao comando editorial do recém-criado Huffington Post Media Group, que, após a fusão, vai controlar todo o conteúdo jornalístico das centenas de sites da companhia. De todo modo, essa operação emite um sinal notável para os observadores: no processo de conquista e fidelização de audiências, as companhias de mídia contam com o jornalismo. Precisam de jornalismo. E de jornalistas.