Sem pudor
Quanto mais demora a definição do ministério pelo presidente Lula, menos se discutem as tarefas, os desafios e a realidade de cada área do governo, e mais o noticiário mergulha nas tratativas para colocação de A, B ou C em cargos que movimentam montanhas de dinheiro público e privado. Sem um pingo de pudor.
Sinal de alerta
Elio Gaspari publicou ontem nota sobre recidiva do “mensalão”. Fala da oferta de 100 mil reais para um deputado calouro.
Congresso desconhecido
Na Gazeta Mercantil de hoje, Angela Bittencourt destaca a importância da composição das comissões permanentes da Câmara e do Senado. Essa cobertura mal chegou a ser ensaiada e logo minguou no noticiário político de Brasília.
Reação irracional
Alberto Dines critica reação irracional a um texto do professor de filosofia Renato Janine Ribeiro.
Dines:
– Junto com o debate sobre crimes e impunidade iniciado há mais de um mês em seguida à morte do menino João Hélio, há uma outra discussão, menos perceptível, porém mais profunda e que talvez seja capaz de alterar drasticamente certos comportamentos da elite brasileira. Trata-se da reação irracional contra o artigo escrito na Folha pelo filósofo Renato Janine Ribeiro no domingo de Carnaval. O professor Janine, esteve na terça passada em nosso programa de TV e ontem, no mesmo jornal, continuou a defender-se do linchamento moral a que foi submetido. “Pago um preço por ter dito o que, no fundo, muitos sentiram”. Mas o que foi que Janine sentiu e escreveu? Que o assassinato do menino foi um crime contra a humanidade e que diante desta barbaridade ele chegou a desejar a morte dos criminosos. Foi sincero, mas a hipocrisia coletiva abomina os rasgos de sinceridade, prefere os tabus politicamente corretos. Janine não propôs coisa alguma. Como filósofo, filosofou. Sentiu, sofreu e externou o seu horror. É isso que a sociedade espera de um pensador: que seja capaz de pensar, pensar em público, livremente, sem constrangimentos. Pensar não faz mal, o que faz mal é repetir automaticamente, de forma impensada, chavões e palavras-de-ordem. Temos que encarar estas crueldades, perceber a sua terrível dimensão. O assassinato dos três ativistas franceses de direitos humanos por um ex-menino de rua por eles recuperado derruba um monte de doutrinas e nos coloca diante de uma realidade inescapável: alguma coisa está errada no âmago da sociedade brasileira e não será o PAC que poderá consertá-la. Um recurso mais rápido, menos dispendioso e muito mais humano pode ser a disposição de pensar. A imprensa foi inventada justamente para fazer pensar e não para calar o pensamento.
Realidade e ficção
A jornalista Leila Reis escreveu ontem em sua coluna sobre TV no Estadão: “A overdose de violência real coloca o telespectador brasileiro em estado permanente de apreensão. Por isso mesmo torna-se fora de propósito a representação dessa violência em espaços destinados à ficção”. O jornalismo deve se vangloriar por ter invadido tão poderosamente o entretenimento, ou deve temer uma confusão entre realidade e ficção?
Ciclo da violência
O chefe da Polícia Civil do Rio, Gilberto Ribeiro, disse ontem no Globo que o aumento da criminalidade data de reformas feitas em 1984 no Código Penal e na Lei de Execuções Penais.
Álcool para a moçada
A Veja São Paulo mostrou que em dez bares visitados por dois modelos adolescentes contratados pela revista, sete lhes serviram bebida alcoólica, embora isso seja proibido. A reportagem foi de Paola de Salvo. No início do ano, por iniciativa da deputada estadual do PSDB paulista Maria Lúcia Amary, foi aprovada lei, a ser regulamentada nas próximas semanas, que determina o fechamento dos estabelecimentos que o fizerem. A reportagem da Veja São Paulo teve pouca repercussão na mídia.
A deputada diz que álcool é importante causa de mortes de jovens, em acidentes e em brigas, e aumenta o risco de contágio por doenças sexualmente transmissíveis. Mas a mídia, que para Maria Lúcia Amary tem a tarefa de divulgar a proibição e alertar para os riscos do consumo de bebidas, às vezes faz o contrário, como no programa Big Brother Brasil, da Rede Globo.
Maria Lúcia Amary:
– Eu vejo que é o tempo todo bebida, festas com bebida. Tem menina que bebe e depois passa mal lá, vomita. É um estímulo à bebida, porque a maioria que assiste esse programa é jovem. É uma estimulação constante.
Clique aqui para ler a entrevista de Maria Lúcia Amary.
Reino do ilícito
José Casado mostrou ontem no Globo que a Tríplice Fronteira de Foz do Iguaçu ainda vai dar muita dor de cabeça.