A imprensa ignorou
Alberto Dines
O alto comando da aviação brasileira concedeu nesta terça-feira uma entrevista coletiva. E nela, o brigadeiro Jorge Kersul Filho, diretor do CENIPA (Centro Nacional de Investigações e Prevenção de Acidentes) fez uma declaração da maior importância: disse que a FAB foi pressionada a entregar à Policia Federal as primeiras conclusões do inquérito sobre a colisão do Boeing da Gol em Setembro passado. O brigadeiro foi preciso: de acordo com as convenções internacionais este tipo de inquérito, de caráter eminentemente técnico, deve ser confidencial e não pode ser transferido aos órgãos policiais ou ao Ministério Público. A missão da aeronáutica, segundo o brigadeiro, é identificar os fatores que provocam um acidente e assim prevenir novos episódios. Cabe às autoridades policiais identificar culpados e entregá-los à justiça. Pergunta-se: quem obrigou a Força Aérea a romper as regras e passar informações sigilosas à Policia Federal? Foi pressão do então ministro da Defesa, Waldir Pires, ou do então ministro da Justiça, Márcio Thomas Bastos? A questão mais importante, porém, deve ser dirigida à imprensa: apesar da importância do depoimento do brigadeiro Kersul os jornais do dia seguinte, portanto ontem, simplesmente ignoraram a revelação. Foi pressa? Ou falta de vontade para reabrir a tragédia com o Boeing da Gol quando tudo começou?
Luciano Martins
Política na tragédia
Com a nomeação do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Nélson Jobim, para substituir Valdir Pires no Ministério da Defesa, boa parte do noticiário sobre a tragédia do Airbus da TAM em Congonhas ganha forte conotação política.
O Globo afirma que os meios militares receberam com reservas a escolha de Jobim. O Globo não se refere a uma pesquisa, improvável a se tratar de militares, e cita uma fonte anônima, que o jornal afirma ser um importante interlocutor que pediu para não ser identificado.
É um caso típico de mau uso do off, recurso válido no jornalismo para a obtenção de informações cuja fonte seria prejudicada se sua identidade fosse revelada.
Como se trata da opinião de um interlocutor, e não de uma informação comprovável, estamos diante de mero palpitório.
A Folha procurou não personalizar a questão, enfatizando que, para suas fontes militares, o nome do ministro não faz muita diferença, já que eles rejeitam a própria existência de um Ministério da Defesa. O problema, segundo os oficiais ouvidos a Folha, seria a nomeação de um civil com um carimbo de esquerdista que lutou contra a ditadura militar.
Já o Estado de S. Paulo, que havia apostado em outro nome, o do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, não assinou recibo do erro e procurou dar repercussão ao discurso de posse de Jobim. No opiniário recolhido pelo jornal paulista, os militares gostaram da promessa de um comando forte.
Temos aqui, portanto, três visões diferentes de como os militares brasileiros reagiram à nomeação de Nélson Jobim para o Ministério da Defesa.
Sucessão na pauta
O Estado de S. Paulo dá destaque para o fato de Jobim ser o décimo auxiliar do presidente Lula com passagem pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Lembrando que Jobim foi ministro da Justiça no governo do PSDB, o Estado observa que Lula vem progressivamente fazendo mais escolhas técnicas do que partidárias.
A nomeação de Nélson Jobim para o Ministério da Defesa é o novo ingrediente da cena eleitoral para 2010, que o Estadão eventualmente tenta antecipar. O jornal aposta que Jobim vai se esforçar para resolver os problemas no setor de aviação civil e com isso lançar-se candidato à sucessão de Lula.
No dizer do Estadão, ele vai ‘transformar o que hoje parece um limão numa autêntica limonada eleitoral’.
O custo da tragédia
A Folha destaca que grandes empresas estão optando por adquirir aviões executivos, enquanto outras reduzem o número de viagens aéreas, fazendo aumentar o uso de teleconferências.
As medidas de restrição a vôos em Congonhas já começam a produzir os cálculos de prejuízos. Segundo o Estado, o agravamento da crise no setor aéreo já provocou uma perda de 150 milhões de reais, provocada pela redução de 30% nas operações das companhias aéreas.
A TAM já perdeu 2 bilhões de reais em valor de mercado, enquanto a Gol foi desvalorizada em 1 bilhão e 400 milhões de reais desde o acidente com o Airbus.
Os fatos trazem à tona a questão da sustentabilidade do setor aéreo no Brasil.
Depois da quebra da Varig, TAM e Gol vinham brilhando no noticiário de negócios com suas estratégias agressivas de voar com aparelhos lotados e forçar o uso de Congonhas para aumentar os lucros.
As perdas das empresas em menos de dez dias revelam que a estratégia estava errada.
Mostram também que o jornalismo de negócios precisa repensar seu tipo de herói.
A volta do mensalão
O notório Marcos Valério Fernandes de Souza, que se celebrizou em 2005 no arrastado escândalo do financiamento de campanhas eleitorais que atingiu o governo do PT, volta à cena.
A Folha de S. Paulo destaca que a Polícia Federal encaminhou documentos à Procuradoria-Geral da República acusando o senador do PSDB, Eduardo Azeredo, de ter usado dinheiro não declarado em sua campanha para se reelegar governador de Minas, em 1998.
Segundo a Folha, um laudo do Instituto Nacional de Criminalística indica que Marcos Valério levantou cerca de 38 milhões de reais, parte dos quais teria sido usada na campanha de Azeredo.
O hoje senador admitiu que sua campanha teve uma arrecadação, ‘por for’, de 8 milhões e meio de reais, paralelamente aos 8 milhões e meio declarados à Justiça Eleitoral. A Folha foi ouví-lo. Ele declara que é absolutamente inocente.